A ofensiva tarifária dos Estados Unidos gerou reações em Brasília e mobilizou grandes empresas americanas, que agora atuam ao lado do Brasil para buscar exceções e ajustes. O impacto se espalha por cadeias de suprimento, investimentos e comércio bilateral.
A elevação das tarifas de importação dos Estados Unidos para 50% sobre uma ampla cesta de produtos brasileiros, em vigor desde o início de agosto, vem provocando um movimento coordenado entre Brasília e representantes de grandes empresas americanas, como Amazon, Coca-Cola, GM e Caterpillar, em busca de exceções setoriais e ajustes administrativos que reduzam impactos imediatos nas cadeias de suprimentos.
Enquanto companhias miram a contenção de custos e a continuidade de contratos, a Casa Branca tem promovido alterações em anexos e publicado novas orientações técnicas, sem revogar o núcleo da medida.
Empresas americanas e o Brasil contra impactos tarifários
Em reuniões recentes com autoridades brasileiras, entidades empresariais e executivos de multinacionais com operações no país manifestaram apoio ao diálogo por flexibilizações específicas.
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A mobilização parte de setores diversos — do varejo às montadoras — e segue com o objetivo de preservar insumos críticos, evitar rupturas logísticas e manter linhas de produção nos EUA e no Brasil.
Registros oficiais indicam que Amazon, Coca-Cola, GM e Caterpillar participaram dos encontros e respaldaram a estratégia negociada.
O que mudou nas regras tarifárias dos EUA
O adicional tarifário resulta do acúmulo de uma sobretaxa de 40% a um tarifo recíproco de 10%, totalizando os 50% aplicados a partir de 6–7 de agosto de 2025, com exceções pré-definidas.
Documentos oficiais e orientações da autoridade aduaneira dos EUA (CBP) detalham procedimentos, códigos tarifários e tratamentos específicos, incluindo regras para mercadorias já em trânsito e listas de produtos excluídos em Anexo II.
Setores como aeronaves civis e alguns itens agrícolas foram poupados, enquanto bens industriais e parte dos alimentos permanecem sob o adicional.
Ajustes e exclusões recentes no tarifaço
Nas últimas semanas, a Casa Branca publicou uma nova ordem executiva alterando o escopo do regime e atualizou o Anexo II de exclusões, com efeitos desde 8 de setembro.
As mudanças não desmontam o tarifaço, mas refinam o desenho e mantêm aberto o componente administrativo para correções calibradas conforme evidências econômicas são apresentadas.
A CBP, por sua vez, segue emitindo instruções sobre como classificar produtos elegíveis às exclusões e como comprovar a elegibilidade.
Estratégia jurídica e Lei da Reciprocidade
Em paralelo, o Brasil abriu consultas formais na Organização Mundial do Comércio contra as tarifas, processo aceito pelos EUA em agosto.
No plano interno, o governo passou a regulamentar a Lei da Reciprocidade Econômica, que cria base legal para contramedidas proporcionais e estabelece um comitê interministerial responsável por avaliar eventuais respostas, sem fechar canais de negociação.
A diplomacia brasileira tem priorizado demonstrar impactos concretos em empregos, preços e cronogramas industriais nos próprios Estados Unidos.
Setores mais atingidos e pressão nas cadeias produtivas
Os efeitos variam por segmento.
No café, as vendas brasileiras para os EUA despencaram em agosto, com exportadores redirecionando embarques para outros mercados.
Na indústria, fabricantes que dependem de insumos intermediários brasileiros estão revendo cronogramas, adiando investimentos e ajustando especificações para manter linhas operando sem repassar imediatamente os aumentos.
Estimativas oficiais brasileiras apontam impacto agregado modesto no PIB, mas com pressão setorial significativa em ramos como máquinas, químicos, eletrônicos, papel e têxteis.
Como avançam as exceções tarifárias
Empresas e associações têm concentrado esforços em identificar códigos tarifários e insumos com maior risco de desabastecimento ou de aumento abrupto de custos para o consumidor americano.
A estratégia busca enquadrar pleitos nas brechas previstas nas próprias normas: exclusões listadas em anexo, regras para cargas em trânsito e ajustes de escopo publicados por atos executivos.
O argumento comum se mantém: em determinados nichos, a tarifa encarece a produção nos EUA sem oferecer alternativa doméstica viável no curto prazo.
O cálculo político em Washington
As próximas decisões dependem de análises técnicas e da publicação de novos atos, o que confere incerteza sobre o ritmo de futuras exclusões.
O governo brasileiro tem reiterado que não pretende retaliar de imediato e mantém prioridade na via negociada, reforçando, com dados auditáveis, que itens específicos exportados pelo Brasil não possuem substitutos imediatos a preço e escala comparáveis nos EUA.
Esse ambiente prolonga a cautela em cadeias sujeitas ao adicional e incentiva pedidos documentados para mitigar gargalos.
O papel das multinacionais na negociação
A atuação de Amazon, Coca-Cola e GM segue ancorada em cadeias globalizadas nas quais o Brasil figura como fornecedor-chave de matérias-primas e componentes.
No varejo, a preocupação recai sobre itens sensíveis a choques de preço.
Em alimentos e bebidas, a prioridade é a estabilidade no fornecimento de aditivos e insumos agrícolas.
Em automotivo e bens de capital, encarecimentos em componentes continuam afetando a competitividade de produtos finais fabricados nos Estados Unidos.
O foco não é derrubar toda a medida, mas abrir exceções específicas quando o custo interno supera o benefício pretendido.
O que esperar nas próximas semanas
Com o núcleo do tarifaço preservado e ajustes técnicos em curso, o desfecho segue dependendo da qualidade dos dossiês apresentados por empresas, do andamento das consultas na OMC e da capacidade de demonstrar efeitos sobre emprego, preços e investimentos no território americano.
Cada exclusão concedida evita reprecificação de linhas inteiras nos EUA e reabre, ainda que de forma limitada, janelas para a indústria exportadora brasileira.
A questão central, porém, continua aberta: até onde irão as exceções?
As exceções e orientações publicadas até aqui são suficientes para blindar os setores mais expostos ou será inevitável ampliar o rol de exclusões para evitar repasses e atrasos dentro das próprias fábricas americanas?