Fiergs alerta para risco de demissões em massa e cobra medidas emergenciais do governo federal e estadual
O tarifaço anunciado pelos Estados Unidos pode causar um baque inédito na economia do Rio Grande do Sul, com risco direto para 140 mil empregos industriais, segundo alerta da Fiergs (Federação das Indústrias do Estado). Mesmo com a isenção para parte dos produtos, 85,7% das exportações gaúchas ficaram de fora da medida, tornando o estado o mais prejudicado do país.
Diante desse cenário, a Fiergs e a CNI (Confederação Nacional da Indústria) já discutem com o governo federal medidas emergenciais, como suspensão de contratos de trabalho e redução de jornada, para evitar demissões em massa. O impacto, segundo representantes da indústria, pode ser comparável aos piores momentos da pandemia e das enchentes que atingiram o estado em 2024.
Impacto bilionário e risco sistêmico no setor exportador
Segundo o presidente da Fiergs, Claudio Bier, o corte americano representa uma ameaça direta ao modelo de exportação das indústrias gaúchas: “São 140 mil postos de trabalho em risco. Com uma tarifa de 50%, muitas empresas precisarão reinventar seus mercados ou recuar para o nacional.”
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O setor mais atingido é o de produtos metálicos, responsável por 35,8% das exportações do estado em 2024 para os EUA — cerca de US$ 324,9 milhões. Entre os itens afetados estão caldeiras, ferramentas, serralheria e embalagens metálicas, categorias com alto índice de emprego local e difícil realocação.
Férias coletivas, banco de horas e limites de manobra
O coordenador do Conselho de Relações Trabalhistas da Fiergs, Guilherme Scozziero, explicou que há alternativas temporárias para evitar cortes imediatos, como férias coletivas e banco de horas. No entanto, ele alerta que essas medidas têm duração limitada: “Sem apoio governamental mais robusto, como houve na pandemia, a tendência é um aumento expressivo do desemprego.”
Scozziero afirma que a Fiergs buscará apoio semelhante ao usado em momentos críticos recentes: suspensão temporária de contratos, subsídio para redução de jornadas e liberação de crédito facilitado para exportadoras.
Taurus, calçadistas e setor elétrico entre os mais ameaçados
Entre os setores mais afetados, destaca-se a Taurus, que exportou 85,9% de sua produção em 2024 para os EUA — cerca de US$ 170,2 milhões. A indústria calçadista, por sua vez, destinou 19,4% de sua produção ao mercado americano (US$ 176,2 milhões), muitas vezes sob marca própria de empresas dos EUA, o que dificulta a substituição de compradores.
O setor de máquinas e materiais elétricos também aparece entre os prejudicados, com US$ 114,6 milhões exportados, o que representa 42,5% do total de vendas externas do setor. A diversidade de segmentos afetados revela o potencial sistêmico da crise.
Governo estadual tenta mitigar danos com crédito emergencial
Em resposta, o governador Eduardo Leite (PSD) anunciou R$ 100 milhões em crédito para empresas exportadoras, com liberação a partir do dia 4. A Fiergs considera a medida positiva, mas insuficiente, e já solicitou que o valor seja, no mínimo, dobrado.
Inicialmente, o impacto estimado no PIB gaúcho era de R$ 1,9 bilhão, mas após a publicação da lista de exceções ao tarifaço, a projeção foi revisada para R$ 1,5 bilhão.
“Cutucar um leão com vara curta”, diz Fiergs sobre retaliação
Bier também fez um alerta diplomático: pressionar os EUA com medidas de retaliação pode agravar o problema. “Estamos cutucando um leão com vara curta. Precisamos de diálogo. A postura do governo americano pode se tornar ainda mais agressiva se for confrontada sem estratégia.”
A Fiergs evitou comentar os possíveis vínculos políticos entre o tarifaço e questões internas brasileiras, como os julgamentos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro. “Nosso papel é manter a indústria como mediadora e não como parte do conflito político”, afirmou Bier.
Você acha que o governo brasileiro deveria reagir com medidas de retaliação? Ou o caminho é o diálogo diplomático? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem vive o mercado de verdade.