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Sem trânsito automotivo e com cavalos espalhados por todos os cantos: conheça Mackinac, a ilha que vive no passado, proíbe o uso de carros e motos, e onde a vida segue como se fosse 1890

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 21/07/2025 às 17:05
Sem trânsito automotivo e com cavalos espalhados por todos os cantos: conheça Mackinac, a ilha que vive no passado, proíbe o uso de carros e motos, e onde a vida segue como se fosse 1890
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Na Ilha Mackinac, nos EUA, carros são proibidos desde 1898. Lá, cavalos e bicicletas reinam, criando uma vida como se fosse 1890 — e ninguém quer mudar isso.

Imagine um lugar onde o ronco dos motores foi substituído pelo som ritmado de cascos sobre a pedra. Onde buzinas não existem, e o transporte mais rápido disponível é uma bicicleta — ou, no máximo, uma charrete puxada por cavalos. Assim é Mackinac, uma ilha histórica dos Estados Unidos onde carros são proibidos há mais de um século, cavalos fazem parte do cotidiano e a vida segue em um ritmo que remete diretamente ao século XIX.

Localizada no estado de Michigan, a ilha de Mackinac (lê-se “Mackinó”) tem apenas 3,8 km², mas oferece uma experiência que parece saída de um romance de época. À primeira vista, parece um paraíso ecológico alternativo. Mas ao conhecer mais, fica claro que Mackinac é, na verdade, uma cápsula do tempo viva, onde o passado e o presente coexistem de forma harmônica — com charme, tradição e uma impressionante consciência ambiental.

A única rodovia dos EUA onde não se pode dirigir

Pode soar estranho que em pleno “berço da indústria automotiva”, no mesmo Michigan que abriga marcas como Ford e General Motors, exista um lugar onde até carrinhos de golfe são proibidos. Mas é justamente esse contraste que faz Mackinac se destacar.

Desde 1898, nenhum veículo motorizado é permitido na ilha, uma decisão tomada após o barulho de um dos primeiros carros assustar os cavalos locais.

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A medida foi adotada pelo vilarejo e, em 1900, expandida para toda a ilha. E assim permaneceu, geração após geração. Hoje, é a única rodovia federal dos Estados Unidos em que não se pode dirigir — um símbolo de resistência às conveniências modernas em nome da preservação de um estilo de vida único.

“Aqui, o cavalo é rei”

Na ilha, vivem cerca de 600 moradores fixos, mas durante os meses mais quentes, mais de 1,2 milhão de turistas desembarcam por balsa, vindos de Mackinaw City ou St. Ignace, para conhecer esse lugar peculiar onde o tempo parece ter parado.

“Aqui, o cavalo é rei”, diz Urvana Tracey Morse, proprietária de uma loja de artesanato na rua principal, resumindo com perfeição o espírito da ilha.

Mais de 600 cavalos cuidam de tudo: entregas da FedEx, coleta de lixo, táxis turísticos e até mudanças de residência.

A infraestrutura da ilha foi adaptada para essa realidade: trilhas, cocheiras, calçadas largas e ruas sem semáforos. E se você ouvir um barulho alto, provavelmente não será um carro buzinando — mas sim um ganso atravessando a estrada ou uma roda de bicicleta.

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Transporte ecológico por natureza

Além dos cavalos, bicicletas são o principal meio de transporte na ilha. Com mais de 1.500 bikes para aluguel e 110 km de trilhas sinalizadas, Mackinac se tornou um paraíso para quem quer praticar turismo sustentável. E não é raro ver moradores como Morse percorrendo trilhas florestais pedalando, mesmo durante o rigoroso inverno.

“Adoro a ideia de pegar minha bicicleta e descer para a vila por entre as árvores. Isso me prepara para o dia”, diz ela. “Você está sempre cumprimentando e conversando com as pessoas”. E talvez seja essa lentidão intencional o que torna o transporte ecológico em Mackinac não apenas uma opção, mas um estilo de vida.

O passado que vive no presente

A proibição de veículos motorizados não é o único traço de nostalgia. Toda a arquitetura da ilha remete aos séculos XVIII e XIX, com chalés vitorianos bem preservados, lojas centenárias e ruas de paralelepípedo.

Um exemplo é o imponente Grand Hotel de Mackinac, com 138 anos de história e a varanda mais longa do mundo, segundo seus administradores. O local ainda mantém seus quartos decorados individualmente e guarda os ares da era de ouro americana.

O hotel é tão icônico que a governadora de Michigan chegou a sugerir Mackinac como cenário para a próxima temporada de The White Lotus, série da HBO conhecida por retratar resorts luxuosos em locais exóticos.

Mas os próprios moradores são cautelosos com o excesso de turismo. “Você tem orgulho do lugar onde vive, mas ao mesmo tempo não quer dizer às pessoas como é legal aqui”, comenta Morse, rindo.

Raízes indígenas e cultura anishnaabe

Muito antes da chegada dos britânicos, a ilha já era considerada sagrada pelos povos nativos anishnaabe, que a chamavam de “Michilimackinac”, ou “lugar da grande tartaruga”, em referência à forma de seus penhascos de calcário. O nome foi encurtado pelos colonizadores, mas o legado indígena permanece vivo.

Eric Hemenway, historiador anishnaabe, lidera o resgate dessa história no Museu Nativo Americano da Ilha Mackinac, inaugurado em 2021 na Biddle House. Cemitérios com mais de 3 mil anos foram identificados na ilha, confirmando sua importância espiritual e cultural.

“Mackinac é um dos nossos locais mais sagrados nos Grandes Lagos”, diz Hemenway. “As águas eram — e continuam sendo — as rodovias do nosso povo.”

Arch Rock, Forte Holmes e o Festival de Lilás

Entre as principais atrações da ilha estão a formação rochosa Arch Rock, uma ponte natural de calcário com 15 metros de largura, o Forte Holmes, ponto mais alto da ilha e excelente local para observar estrelas, e o famoso Festival de Lilás, realizado em junho.

A ilha também oferece passeios guiados em charretes, acesso a trilhas ecológicas, praias e bosques, tudo dentro do Parque Estadual da Ilha Mackinac, que ocupa 80% da área da ilha. Mesmo nos meses de inverno, quando a ilha pode ficar isolada por conta de blocos de gelo que impedem a travessia das balsas, a vida continua — e o trabalho dos cavalos também.

Onde o carro nunca chegou — e nunca chegará

Desde 1898, quando um carro assustou cavalos locais e causou confusão nas ruas de paralelepípedo, a proibição de automóveis virou lei municipal. Em vez de rever a decisão com o tempo, a ilha reforçou a tradição. Até hoje, nem mesmo carrinhos de golfe são permitidos, com exceção de raríssimos casos médicos ou serviços essenciais.

Por isso, os cerca de 600 moradores permanentes e mais de 1 milhão de turistas anuais precisam se deslocar de bicicleta, a pé ou de carruagem — literalmente.

E ninguém parece reclamar. Como diz Urvana Tracey Morse, moradora e dona de loja local: “Aqui, o cavalo é rei”.

Embora seja famosa hoje como destino turístico e ilha histórica dos EUA, Mackinac carrega raízes indígenas profundas. O nome vem de “Michilimackinac”, que na língua anishnaabe significa “o lugar da grande tartaruga”, em referência à forma da ilha emergindo das águas do Lago Huron.

Eric Hemenway, historiador e membro do povo anishnaabe, destaca a importância sagrada da ilha para as comunidades nativas. Cemitérios indígenas com cerca de 3.000 anos foram encontrados no local, e o recém-inaugurado Museu Nativo Americano da Ilha Mackinac, na Biddle House, ajuda a preservar essa herança milenar.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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