Com o tarifaço de 50% mirando o Brasil, JBS, Marfrig e Minerva acionam sua plataforma global para manter os EUA abastecidos. O segredo está no redirecionamento de cortes por outras origens.
As líderes brasileiras de proteína animal ativaram sua plataforma global para redirecionar cortes bovinos a partir de Austrália, Uruguai e Argentina, reduzindo a exposição ao tarifaço de 50% aplicado especificamente sobre produtos do Brasil.
No curto prazo, a estratégia mantém contratos bilionários nos EUA e ajuda a segurar preços, mas o ciclo de gado americano apertado indica pressão até 2027. De acordo com a Reuters e dados setoriais, o recorde de exportações em julho mostra que os fluxos estão se reorganizando rapidamente.
O “plano B” dos frigoríficos brasileiros é simples de entender, vender aos EUA por plantas fora do Brasil, usando a malha industrial que JBS, Marfrig e Minerva mantêm em países como Austrália, Uruguai e Argentina.
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Porque o plano B dos frigoríficos brasileiros funciona
Como a tarifa de 50% incide sobre mercadorias originadas do Brasil, embarcar de outros países evita o custo adicional e preserva o abastecimento de clientes americanos. De acordo com a Reuters, a nova tarifa elevou o peso sobre cadeias globais e pressionou a inflação, o que reforça o incentivo para rotas alternativas.
Esse arranjo ganha força porque os rebanhos nos EUA estão no menor nível em décadas, o que mantém a demanda por importados elevada. O inventário bovino de 2025 começou em 86,7 milhões de cabeças, o menor desde 1951, segundo o USDA e a Reuters. Oferta curta em casa + tarifa seletiva sobre o Brasil = valorização da plataforma global das empresas brasileiras.
Além disso, JBS anunciou US$ 200 milhões para ampliar a capacidade nos EUA, com obras em Cactus, Texas, e Greeley, Colorado, incluindo novo centro de distribuição e expansão de desossa e moída. O investimento acelera a logística interna para receber, processar e distribuir produto importado ou doméstico, reduzindo gargalos no curto prazo.
Quem tem quais portas: JBS, Marfrig e Minerva
JBS opera nos EUA e na Austrália, além de sua base no Brasil. Em teleconferência recente, a gestão reforçou que, olhando apenas a Friboi no Brasil, o impacto do tarifaço não é relevante no agregado, graças à plataforma global que permite redirecionar produção e mitigar choques. A empresa também sinalizou que o ciclo do gado americano só deve melhorar gradualmente a partir do fim de 2027, o que mantém a necessidade de importação.
Marfrig tem um ativo-chave: o controle da National Beef, processadora com operação e canais diretos nos EUA. A fusão Marfrig–BRF (MBRF) avançou em assembleias e segue sob trâmites regulatórios, o que pode ampliar sinergias de distribuição e portfólio. Em chamada com investidores, a companhia indicou que as exportações do Brasil para os EUA representam parcela muito pequena da receita na América do Sul, reforçando baixa dependência do canal Brasil→EUA.
Minerva diversificou geograficamente na Argentina, Uruguai, Paraguai e Colômbia e expandiu ovinos na Austrália via joint ventures. Em comunicado ao mercado, reconheceu que o tarifaço poderia afetar até cerca de 5% da receita anual, mas ressaltou que acessa o mercado americano por meio de operações na região e na Austrália, o que dilui o risco.
Quanto pesa o mercado americano e o recorde de julho
Os EUA são o segundo maior destino da carne brasileira, atrás da China. Antes da tarifa de 50%, a indústria esperava 400 mil toneladas ao mercado americano em 2025, e alertava para perdas potenciais de até US$ 1 bilhão se a sobretaxa avançasse. Depois do anúncio, frigoríficos reavaliaram envios e desaceleraram compras de gado no Brasil, reprogramando embarques e rotas.
Mesmo com esse choque, o Brasil bateu recorde histórico de exportações em julho. Segundo a Abrafrigo, foram 366,9 mil toneladas e US$ 1,726 bilhão no mês, máximas para um único mês, apoiadas por forte demanda global e remessas antecipadas. O dado confirma que o setor se ajustou rápido, desviando fluxos e aproveitando janelas de preço.
As vendas aos EUA tendem a cair no curto prazo, mas o volume total encontra destino em outros mercados e por outras origens dentro das mesmas empresas. O faturamento, portanto, depende do mix de destinos e da capacidade logística de fazer o plano B funcionar sem perdas de margem.
O que muda no hambúrguer até 2027
O ciclo apertado do gado nos EUA e a fricção tarifária mantêm a carne moída sob pressão, dado que é o insumo central de redes de fast-food e varejo. De acordo com a Reuters, a recomposição do rebanho deve ser lenta, com alívio gradual só do fim de 2027 em diante.
Enquanto isso, a importação via fornecedores alternativos ajuda a segurar a conta, mas custos logísticos e prêmios de risco podem limitar quedas de preço no curto prazo. Sem rota alternativa, o preço do hambúrguer sobe mais rápido.
Do lado brasileiro, o governo lançou um pacote de apoio a exportadores com crédito e alívios tributários para setores afetados pelos novos encargos. A medida não resolve a tarifa americana, mas amortece caixa e dá fôlego para ajustes de rota enquanto as negociações seguem.
A estratégia de redirecionar cortes por países vizinhos e Austrália, apoiada por capacidade instalada e investimento nos EUA, mitiga o choque do tarifaço sobre as gigantes brasileiras. O consumidor americano ainda sente pressão no curto prazo, mas a malha global dessas empresas mantém o mercado abastecido até que o ciclo do gado comece a virar mais claramente a partir de 2027.