Cultivado na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia, o café da família Suruí recebeu nota máxima em avaliação profissional, tornando-se o primeiro canéfora da história a alcançar a perfeição sensorial e reforçando o protagonismo indígena na produção nacional
Um café cultivado na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia, alcançou uma façanha inédita: recebeu nota 100 na escala de qualidade sensorial, tornando-se o café mais bem avaliado da história do projeto Tribos, da 3 Corações.
O feito é ainda mais curioso porque o produtor, Rafael Mopimop Suruí, não tem o hábito de degustar café puro — ele costuma adoçar a bebida com açúcar.
Um feito histórico para o café canéfora
O lote produzido pela família Paiter Suruí conquistou avaliadores experientes, entre eles Sílvio Leite, uma das maiores referências mundiais em degustação profissional de café.
-
Produção de cacau em Minas Gerais impulsiona agricultura irrigada no Norte do estado com novos investimentos, sustentabilidade rural e expansão das áreas plantadas
-
Produtos com descontos no Pronaf impulsionam agricultura familiar; veja lista completa
-
Exportação de beterraba impulsiona novos acordos comerciais, abrindo mercado agrícola sustentável, fortalecendo o agronegócio brasileiro e ampliando parcerias internacionais estratégicas com a Nicarágua
-
Mapa Conecta Brasil: evento pioneiro integra inovação agropecuária, ecossistemas estaduais, conectividade, bioinsumos e agricultura digital
Leite, que atua há mais de 40 anos no setor, afirmou que foi apenas a quarta vez que concedeu a nota máxima a um café — e a primeira para um grão da espécie canéfora.
Segundo ele, o café apresentou “complexidade elevada e uma grandeza espetacular de sabores”. Entre as 50 terminologias utilizadas pelos provadores, destacaram-se notas sensoriais de rosas brancas, amarula, madeira e um leve toque alcoólico, combinados com alta acidez e doçura natural.
A avaliação foi realizada durante o concurso Tribos, em que as amostras são submetidas a provas às cegas conduzidas por especialistas certificados.
Embora vários lotes finalistas apresentassem excelente qualidade, o café de Rafael Suruí se destacou imediatamente pela intensidade e equilíbrio de seus aromas.
Produção com técnica e tradição
Rafael Suruí credita o sucesso a um processo de secagem cuidadoso, essencial para preservar os sabores em uma região tão úmida quanto a Amazônia.
Ele conta que o resultado o surpreendeu: “É uma surpresa. Eu não entendo muito de café, eu estou acostumado a tomar café com açúcar. Sem açúcar eu tenho que aprender”, disse.
A produção é parte do projeto Tribos, desenvolvido desde 2019 pela 3 Corações em parceria com 169 famílias indígenas da Amazônia brasileira.
O programa oferece assistência técnica e logística, além de pagar um valor acima da cotação de mercado, incentivando o cultivo sustentável e a autonomia econômica dos povos originários.
Rafael ressalta que o reconhecimento internacional valoriza o trabalho indígena e ajuda a fortalecer os laços culturais das novas gerações.
“Essa valorização faz com que muitos jovens decidam ficar na comunidade, em vez de sair para a cidade”, afirmou.
Lançamento e edição limitada
O café premiado chega ao mercado em uma edição de colecionador. Cada unidade contém 150 gramas de grãos embalados em recipiente de cristal e acompanhados de um moedor exclusivo, permitindo que o consumidor prepare o café na hora.
O preço é de R$ 599 por unidade, reflexo da produção limitada — apenas 333 exemplares foram fabricados, todos provenientes da pequena lavoura da família Suruí.
As unidades estão disponíveis no e-commerce da 3 Corações e prometem se esgotar rapidamente.
Celebração com chefs e celebridades
O lançamento oficial aconteceu nesta quarta-feira (8), durante um almoço especial no restaurante Dalva e Dito, do chef Alex Atala, em São Paulo.
O evento reuniu representantes da 3 Corações, convidados da imprensa e personalidades como o DJ Alok e sua esposa, Romana Novais.
Rafael, sua mulher e seu filho representaram os Paiter Suruí na celebração. Após o almoço, o café histórico foi servido harmonizado com uma sobremesa preparada por Atala, que misturava jaca, bacuri, coco e chantilly — uma combinação pensada para realçar as notas tropicais e florais da bebida.
Um novo capítulo para o café indígena
O caso de Rafael Mopimop Suruí é visto como um marco para o café brasileiro e, em especial, para o cultivo indígena da Amazônia.
O projeto Tribos, que reinveste todo o lucro da linha em suas comunidades produtoras, mostra que é possível unir tradição cultural, manejo sustentável e excelência sensorial.
O grão avaliado como “perfeito” não apenas elevou o nome da família Suruí, mas também abriu espaço para que outras comunidades indígenas reconheçam o valor de suas próprias terras, saberes e sabores — agora celebrados nas xícaras do mundo todo.
Com informações de Folha de São Paulo.