Executivo da Copa Energia alerta que propostas da ANP podem inviabilizar aporte bilionário necessário para atender famílias com programa Gás do Povo
O setor de gás de cozinha recebeu com otimismo o anúncio do programa Gás do Povo, lançado nesta quinta-feira (4) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Belo Horizonte. A medida prevê a distribuição de botijões às famílias de baixa renda e, segundo representantes da indústria, pode ajudar a reduzir a chamada pobreza energética no país.
Segundo afirmam os empresários, a substituição do atual sistema de transferência em dinheiro por vouchers deverá incentivar milhões de famílias a abandonar o uso de lenha ou carvão e migrar para o gás de cozinha.
Essa mudança, no entanto, traz consigo um desafio. O setor estima que será necessário investir R$ 2,5 bilhões na compra de novos botijões para atender a cerca de 11 milhões de residências.
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O alerta vem de Pedro Turqueto, CEO da Copa Energia, dona das marcas Copagaz e Liquigás, líder nacional na distribuição de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo).
Ele destaca que, embora a medida seja positiva, propostas regulatórias em discussão pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) podem inviabilizar os investimentos.
Entre as medidas em análise, estão o enchimento parcial dos botijões e o fim da exclusividade de marca, o que permitiria que empresas enchessem recipientes de concorrentes.
Turqueto critica duramente essa possibilidade. “É inimaginável você querer que o setor invista R$ 2,5 bilhões em novas embalagens e, ato contínuo, falar que essas embalagens não pertencem mais a quem comprou e quem fez o investimento”, afirmou.
Procurada, a ANP disse que as propostas ainda estão em estudo. A agência ressaltou que distribuidores com maior participação no mercado já envasam botijões que não trazem sua marca e que, caso as mudanças sejam aprovadas, medidas de rastreamento seriam exigidas.
Além disso, Turqueto levantou outra preocupação: o risco de o mercado se tornar alvo do crime organizado.
Ele fez um paralelo com a operação Carbono Oculto, que investigou facções no setor de combustíveis. “Se você for para um caminho muito permissivo no GLP, terá as mesmas consequências”, alertou.
A ANP, por sua vez, declarou que não há clareza sobre como as alterações poderiam favorecer a entrada de organizações criminosas, já que as atividades seriam realizadas por agentes autorizados e fiscalizados.
Durante o lançamento do programa, Lula voltou a criticar os preços do setor de GLP. O presidente afirmou que o gás sai da Petrobras por cerca de R$ 37, mas chega à população acima de R$ 100. Em maio, ele já havia dito que alguém estaria “ganhando muito dinheiro” nessa diferença.
Turqueto rebateu. Para ele, todos os agentes do setor têm interesse em oferecer o botijão pelo menor preço possível.
Entretanto, explicou que além do custo do produto fornecido pela Petrobras, há ainda impostos, logística e a chamada “última milha” para levar o botijão até a residência, sem contar o investimento necessário na manutenção das embalagens.
“Eu entrego meu produto em 100% dos municípios e 91% das residências. Isso requer bastante investimento”, concluiu o executivo.
Com informações de Folha de São Paulo.