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Se desligar, congela: a usina nuclear flutuante que aquece uma cidade no Ártico

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 02/11/2025 às 15:11
Usina nuclear flutuante Akademik Lomonosov aquece cidade no Ártico russo com reatores KLT-40S e energia estável mesmo em clima extremo.
Usina nuclear flutuante Akademik Lomonosov aquece cidade no Ártico russo com reatores KLT-40S e energia estável mesmo em clima extremo.
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Embarcação única no mundo fornece energia e calor a uma das regiões mais frias do planeta, unindo engenharia naval e tecnologia nuclear em um dos projetos mais desafiadores já implantados no extremo norte da Rússia.

Energia e calor contínuos para uma cidade isolada

A Akademik Lomonosov é uma embarcação sem propulsão própria que funciona como plataforma geradora ligada à rede local.

Ela está conectada por cabos elétricos e dutos térmicos ao sistema urbano, fornecendo luz e calor de forma integrada.

O atendimento cobre a cidade de Pevek e reforça o sistema energético Chaun-Bilibino, que abastece comunidades do entorno.

Em regiões árticas, aquecimento distrital é serviço essencial, e falhas prolongadas podem congelar tubulações e comprometer moradias e serviços públicos.

Por isso, a operação prioriza continuidade e redundância, com foco em evitar interrupções em períodos de frio intenso.

Usina nuclear flutuante Akademik Lomonosov aquece cidade no Ártico russo com reatores KLT-40S e energia estável mesmo em clima extremo.
Usina nuclear flutuante Akademik Lomonosov aquece cidade no Ártico russo com reatores KLT-40S e energia estável mesmo em clima extremo.

O que significa “se desligar, congela”

Em locais com inverno severo, a rede de calor depende de fluxo térmico constante para manter a temperatura dos edifícios acima de níveis críticos.

Quando o fornecimento cessa por tempo suficiente, a água nas tubulações pode congelar, causando rompimentos e reparos caros e demorados.

A cogeração nuclear da Akademik Lomonosov foi desenhada para minimizar esse risco, entregando calor e eletricidade de modo estável ao longo de toda a estação gelada.

Essa característica torna a unidade particularmente adequada a cidades afastadas de grandes centros e com logística complexa.

Como a usina flutuante foi estruturada

A barca-plataforma carrega dois reatores KLT-40S, derivados de tecnologias navais, adaptados para uso civil estacionário.

Cada unidade contribui para um total de 70 MW elétricos, além de capacidade térmica nominal de 50 Gcal/h, voltada ao aquecimento urbano.

O casco reforçado e os sistemas de amarração permitem operação estável em porto, com atendimento às exigências de clima ártico.

O desenho contempla sistemas de desligamento automático e procedimentos de segurança alinhados a padrões internacionais.

A logística de combustível e manutenção utiliza apoio de navios quebra-gelo e infraestrutura portuária local.

Linha do tempo da chegada ao serviço

Usina nuclear flutuante Akademik Lomonosov aquece cidade no Ártico russo com reatores KLT-40S e energia estável mesmo em clima extremo.
Usina nuclear flutuante Akademik Lomonosov aquece cidade no Ártico russo com reatores KLT-40S e energia estável mesmo em clima extremo.

Após ser rebocada por rotas marítimas do norte, a unidade atracou em Pevek e iniciou a entrega de eletricidade à rede no fim de 2019.

O comissionamento completo ocorreu em maio de 2020, quando a usina passou a operar comercialmente e avançou no fornecimento de calor para o sistema urbano.

Desde então, o conjunto integra o planejamento regional de substituição gradual de ativos antigos, como a usina nuclear de Bilibino e a termelétrica Chaunskaya.

Em 2023 e 2024, ocorreram etapas da primeira recarga de combustível, com manutenção do suprimento elétrico durante os trabalhos.

No início de 2025, a operadora registrou a marca de mais de 1 bilhão de kWh gerados desde o início da operação comercial.

Por que a unidade é única no mundo

Até o momento, a Akademik Lomonosov é a única usina nuclear flutuante em operação comercial.

Diversos países estudam reatores modulares pequenos (SMRs) e conceitos marítimos, porém iniciativas semelhantes seguem em fase de projeto ou licenciamento.

A experiência em Pevek serve como vitrine tecnológica para aplicações remotas, onde o custo e a dificuldade de transportar combustível fóssil são elevados.

A solução combina geração elétrica e calor com menor necessidade de armazenamento de diesel e carvão em áreas de logística restrita.

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Além do aquecimento distrital, a arquitetura de cogeração pode ser integrada a dessalinização em cenários que exijam água potável adicional.

Impacto regional, substituições e demanda

O projeto foi dimensionado para ampliar a segurança energética do sistema Chaun-Bilibino, atendendo picos de consumo sazonais.

A modernização reduz a dependência de usinas envelhecidas e contribui para estabilidade do fornecimento em um território com isolamento elétrico do restante do país.

A cidade de Pevek tem população reduzida, mas concentra infraestrutura administrativa e de serviços que necessita de calor contínuo no inverno.

Setores como mineração e logística ártica utilizam a energia firme da usina para manter operações durante o período de gelo, quando a janela de transporte é limitada.

A substituição progressiva da Bilibino NPP segue o planejamento oficial, com a flutuante assumindo papel central na oferta de calor e eletricidade.

Segurança, operação e críticas

De acordo com a operadora, os reatores utilizam tecnologia pressurizada de água leve, com camadas de proteção ativa e passiva.

A usina permanece atracada e opera com monitoramento permanente, planos de resposta a emergências e ciclos de manutenção programados.

Organizações ambientais já manifestaram preocupações relacionadas a acidentes e gestão de resíduos, tema de debate desde a fase de projeto.

Usina nuclear flutuante Akademik Lomonosov aquece cidade no Ártico russo com reatores KLT-40S e energia estável mesmo em clima extremo.
Usina nuclear flutuante Akademik Lomonosov aquece cidade no Ártico russo com reatores KLT-40S e energia estável mesmo em clima extremo.

A Rosatom sustenta que a unidade substitui combustíveis mais poluentes e reduz emissões locais ao eliminar parte do uso de óleo e carvão.

A discussão sobre riscos e benefícios permanece ativa, especialmente pela sensibilidade ambiental do Ártico e pela relevância estratégica da Rota do Mar do Norte.

Próximos passos e novas unidades

A experiência em Pevek impulsiona planos de novas gerações de plataformas e SMRs para atender projetos remotos na própria Chukotka e em mercados externos.

Propostas incluem unidades com reatores da família RITM-200, pensadas para maior densidade de potência e eficiência.

Enquanto esses projetos avançam, a Akademik Lomonosov mantém o papel de projeto-piloto em operação, acumulando dados sobre desempenho em ambiente extremo.

A continuidade do aquecimento urbano permanece como prioridade operacional, pois a interrupção prolongada pode congelar redes e comprometer a habitabilidade.

Em meio a temperaturas extremas e longas noites polares, até que ponto soluções de cogeração nuclear flutuante podem se firmar como alternativa estável para comunidades isoladas no Ártico?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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