Embarcação única no mundo fornece energia e calor a uma das regiões mais frias do planeta, unindo engenharia naval e tecnologia nuclear em um dos projetos mais desafiadores já implantados no extremo norte da Rússia.
Energia e calor contínuos para uma cidade isolada
A Akademik Lomonosov é uma embarcação sem propulsão própria que funciona como plataforma geradora ligada à rede local.
Ela está conectada por cabos elétricos e dutos térmicos ao sistema urbano, fornecendo luz e calor de forma integrada.
O atendimento cobre a cidade de Pevek e reforça o sistema energético Chaun-Bilibino, que abastece comunidades do entorno.
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Em regiões árticas, aquecimento distrital é serviço essencial, e falhas prolongadas podem congelar tubulações e comprometer moradias e serviços públicos.
Por isso, a operação prioriza continuidade e redundância, com foco em evitar interrupções em períodos de frio intenso.

O que significa “se desligar, congela”
Em locais com inverno severo, a rede de calor depende de fluxo térmico constante para manter a temperatura dos edifícios acima de níveis críticos.
Quando o fornecimento cessa por tempo suficiente, a água nas tubulações pode congelar, causando rompimentos e reparos caros e demorados.
A cogeração nuclear da Akademik Lomonosov foi desenhada para minimizar esse risco, entregando calor e eletricidade de modo estável ao longo de toda a estação gelada.
Essa característica torna a unidade particularmente adequada a cidades afastadas de grandes centros e com logística complexa.
Como a usina flutuante foi estruturada
A barca-plataforma carrega dois reatores KLT-40S, derivados de tecnologias navais, adaptados para uso civil estacionário.
Cada unidade contribui para um total de 70 MW elétricos, além de capacidade térmica nominal de 50 Gcal/h, voltada ao aquecimento urbano.
O casco reforçado e os sistemas de amarração permitem operação estável em porto, com atendimento às exigências de clima ártico.
O desenho contempla sistemas de desligamento automático e procedimentos de segurança alinhados a padrões internacionais.
A logística de combustível e manutenção utiliza apoio de navios quebra-gelo e infraestrutura portuária local.
Linha do tempo da chegada ao serviço

Após ser rebocada por rotas marítimas do norte, a unidade atracou em Pevek e iniciou a entrega de eletricidade à rede no fim de 2019.
O comissionamento completo ocorreu em maio de 2020, quando a usina passou a operar comercialmente e avançou no fornecimento de calor para o sistema urbano.
Desde então, o conjunto integra o planejamento regional de substituição gradual de ativos antigos, como a usina nuclear de Bilibino e a termelétrica Chaunskaya.
Em 2023 e 2024, ocorreram etapas da primeira recarga de combustível, com manutenção do suprimento elétrico durante os trabalhos.
No início de 2025, a operadora registrou a marca de mais de 1 bilhão de kWh gerados desde o início da operação comercial.
Por que a unidade é única no mundo
Até o momento, a Akademik Lomonosov é a única usina nuclear flutuante em operação comercial.
Diversos países estudam reatores modulares pequenos (SMRs) e conceitos marítimos, porém iniciativas semelhantes seguem em fase de projeto ou licenciamento.
A experiência em Pevek serve como vitrine tecnológica para aplicações remotas, onde o custo e a dificuldade de transportar combustível fóssil são elevados.
A solução combina geração elétrica e calor com menor necessidade de armazenamento de diesel e carvão em áreas de logística restrita.
Além do aquecimento distrital, a arquitetura de cogeração pode ser integrada a dessalinização em cenários que exijam água potável adicional.
Impacto regional, substituições e demanda
O projeto foi dimensionado para ampliar a segurança energética do sistema Chaun-Bilibino, atendendo picos de consumo sazonais.
A modernização reduz a dependência de usinas envelhecidas e contribui para estabilidade do fornecimento em um território com isolamento elétrico do restante do país.
A cidade de Pevek tem população reduzida, mas concentra infraestrutura administrativa e de serviços que necessita de calor contínuo no inverno.
Setores como mineração e logística ártica utilizam a energia firme da usina para manter operações durante o período de gelo, quando a janela de transporte é limitada.
A substituição progressiva da Bilibino NPP segue o planejamento oficial, com a flutuante assumindo papel central na oferta de calor e eletricidade.
Segurança, operação e críticas
De acordo com a operadora, os reatores utilizam tecnologia pressurizada de água leve, com camadas de proteção ativa e passiva.
A usina permanece atracada e opera com monitoramento permanente, planos de resposta a emergências e ciclos de manutenção programados.
Organizações ambientais já manifestaram preocupações relacionadas a acidentes e gestão de resíduos, tema de debate desde a fase de projeto.

A Rosatom sustenta que a unidade substitui combustíveis mais poluentes e reduz emissões locais ao eliminar parte do uso de óleo e carvão.
A discussão sobre riscos e benefícios permanece ativa, especialmente pela sensibilidade ambiental do Ártico e pela relevância estratégica da Rota do Mar do Norte.
Próximos passos e novas unidades
A experiência em Pevek impulsiona planos de novas gerações de plataformas e SMRs para atender projetos remotos na própria Chukotka e em mercados externos.
Propostas incluem unidades com reatores da família RITM-200, pensadas para maior densidade de potência e eficiência.
Enquanto esses projetos avançam, a Akademik Lomonosov mantém o papel de projeto-piloto em operação, acumulando dados sobre desempenho em ambiente extremo.
A continuidade do aquecimento urbano permanece como prioridade operacional, pois a interrupção prolongada pode congelar redes e comprometer a habitabilidade.
Em meio a temperaturas extremas e longas noites polares, até que ponto soluções de cogeração nuclear flutuante podem se firmar como alternativa estável para comunidades isoladas no Ártico?



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