China restringe exportação de minerais raros e afeta produção de armas avançadas nos EUA. A medida é vista como retaliação às tarifas impostas por Trump, agravando a guerra comercial entre as potências.
O programa militar dos EUA enfrenta um novo desafio: a dependência de minerais raros extraídos ou processados na China. A recente decisão do governo chinês de impor restrições à exportação desses elementos críticos acendeu alertas no Departamento de Defesa americano e no setor aeroespacial. A medida é considerada uma retaliação direta ao aumento de tarifas comerciais anunciado pelo presidente Donald Trump, intensificando os impactos da guerra comercial entre os dois países.
Com o anúncio de que agora exigirá licenças especiais para exportar seis metais pesados e ímãs de terras raras — 90% dos quais são produzidos na China —, Pequim enviou um recado direto à base industrial militar dos EUA. Esses materiais estão presentes em vários armamentos de alta tecnologia, como caças, mísseis guiados, drones, navios de guerra e sistemas de defesa.
EUA e a dependência de insumos chineses
No caso de caças da Força Aérea americana, por exemplo, ímãs de terras raras produzidos na China são indispensáveis para a ativação dos motores e fornecimento de energia de emergência. Em mísseis guiados, esses ímãs são utilizados para girar as aletas traseiras e garantir precisão no direcionamento a alvos móveis.
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Segundo o Departamento de Defesa dos EUA, apenas um caça F-35 consome cerca de 400 quilos de minerais raros. Já submarinos e outros equipamentos navais podem demandar até 4 toneladas desses materiais. Isso evidencia o grau de vulnerabilidade do programa militar dos EUA frente ao controle quase total da China sobre a cadeia global desses insumos.
Restrições impostas pela China elevam pressão sobre o setor
Gracelin Baskaran, diretora do Programa de Segurança de Minerais Críticos do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, classificou a decisão chinesa como uma ameaça real à segurança nacional dos EUA. Ela ressaltou que Pequim deu um “aviso” claro de que pode intensificar ainda mais as restrições, impondo tarifas, cotas ou até uma proibição total das exportações para o Ocidente.
A China domina a mineração e o refino de terras raras, um grupo de 17 elementos que incluem neodímio, escândio, disprósio e ítrio. Apesar de não serem escassos na natureza, esses minerais exigem processos complexos e ambientalmente custosos para se tornarem utilizáveis em tecnologias militares.
Estoques americanos são limitados
De acordo com fontes do Pentágono, as reservas de minerais raros nos EUA são limitadas. As empresas de defesa mantêm estoques que, segundo analistas, atenderiam à demanda por apenas alguns meses. O Departamento de Defesa vem aumentando seus estoques desde 2010, quando a China suspendeu as exportações para o Japão após um impasse diplomático, mas a autossuficiência ainda está distante.
Aaron Jerome, especialista da empresa britânica Lipmann Walton, destacou o caso ocorrido em 2022, quando o Pentágono suspendeu temporariamente a entrega de caças F-35 ao descobrir que uma liga metálica chinesa estava sendo usada em um componente do sistema de energia.
“Mesmo quando buscamos alternativas, a cadeia de suprimentos ainda passa pela China em algum momento”, afirmou Jerome.
Trump e as políticas de reindustrialização
Durante seu primeiro mandato, o presidente Trump assinou uma ordem executiva para ampliar a produção doméstica de minerais raros nos EUA. O objetivo era reduzir a dependência da China e proteger o programa militar dos EUA de vulnerabilidades externas. O presidente Joe Biden deu continuidade à medida, destinando investimentos adicionais para projetos de mineração e refino dentro do país.
Apesar do esforço, a produção interna ainda não consegue competir com o volume e a eficiência da China, que estabeleceu uma posição dominante desde o fechamento da mina de Mountain Pass, na Califórnia, em 2002. Embora a mina tenha sido reativada pela MP Materials, sua capacidade atual ainda é limitada.
Reações da indústria e alternativas
A Associação de Indústrias Aeroespaciais dos EUA reforçou a necessidade de uma cadeia de suprimentos segura para os minerais raros, fundamentais para a fabricação de aeronaves militares e sistemas de defesa. Eric Fanning, ex-presidente da entidade, alertou que a liderança tecnológica americana está diretamente ligada ao acesso confiável a esses insumos.
Em momentos de crise no passado, como durante a Segunda Guerra Mundial, os EUA conseguiram desenvolver alternativas locais para suprir recursos estratégicos. Especialistas sugerem que medidas semelhantes podem ser adotadas agora, mas alertam que o tempo necessário para desenvolver novas cadeias de produção pode ser um fator limitante.
Com o acirramento das tensões comerciais entre EUA e China, e a retomada de políticas tarifárias por parte de Trump, o risco para o programa militar dos EUA cresce. A dependência de materiais críticos sob controle chinês representa não apenas um desafio econômico, mas também um ponto frágil para a defesa nacional americana.
Fonte: Infomoney