Avanço acelerado da renda fora da carteira revela mudanças profundas no mercado de trabalho e pressiona empresas a rever modelos tradicionais.
A renda dos trabalhadores autônomos e informais apresentou forte expansão no segundo trimestre de 2025, conforme dados do Ipea, e, por isso, mudou rapidamente a configuração do mercado de trabalho brasileiro. Embora os celetistas ainda recebam os maiores valores, os trabalhadores sem carteira avançaram com mais velocidade. Assim, os autônomos cresceram 5,6% e os informais 6,8%, enquanto a CLT registrou apenas 2,3% na comparação com 2024.
Esse salto ocorreu mesmo com a renda média formal ainda superior — R$ 3.171, ante R$ 2.955 dos autônomos e R$ 2.213 dos informais — e, portanto, evidenciou que o dinamismo se deslocou da carteira assinada. Além disso, segundo o Ipea, a renda dos sem carteira atingiu o maior nível desde 2012, quando começou a série histórica.
Conforme Sandro Sacchet de Carvalho (Ipea), o movimento seguiu a recuperação pós-pandemia, já que autônomos e informais foram os mais prejudicados durante as fases de restrição sanitária. Assim, com o retorno das atividades, esses grupos recuperaram rapidamente o poder de compra perdido.
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Encargos elevados impulsionam pejotização e reduzem os reajustes da CLT
A diferença de crescimento também está ligada ao peso da tributação nacional. Segundo o Tesouro Nacional, a carga tributária alcançou 32,3% do PIB em 2024, o que, portanto, reduziu a margem das empresas para conceder reajustes salariais. Conforme João Eloi Olenike (IBPT), encargos como FGTS (8%), INSS patronal (20%) e contribuições previdenciárias elevam o custo do trabalhador formal para 40% a 50% do salário, de acordo com a CNI (2025).
Por causa disso, a pejotização ganhou força e se tornou uma alternativa para empresas e trabalhadores. Conforme Sacchet (Ipea), a ampliação do MEI acelerou o processo, já que profissionais mais qualificados migraram para o regime e, assim, aumentaram a renda média dos autônomos. Além disso, segundo Humberto Aillon (Fipecafi), a economia obtida com a redução de encargos costuma ser reinvestida em tecnologia e produtividade.
Plataformas digitais ampliam ocupação e influenciam rendimentos
O avanço da renda autônoma também está ligado ao crescimento das plataformas digitais. Entre 2022 e 2024, o número de trabalhadores por aplicativo aumentou 25,4%, passando de 1,3 milhão para 1,7 milhão, segundo o IBGE, e, assim, consolidou um novo modelo ocupacional. No 3º trimestre de 2024, esses profissionais representaram 1,9% da força de trabalho brasileira.
Ainda conforme o levantamento, os plataformizados receberam renda média de R$ 2.996, superior à dos não plataformizados (R$ 2.875). Porém, como trabalharam 44,8 horas semanais, contra 39,3 horas, a renda por hora foi menor: R$ 15,4 contra R$ 16,8. Mesmo assim, a flexibilidade e o controle da jornada continuam atraindo trabalhadores, conforme avaliação do FGV Ibre.
Salário mínimo, etarismo e escolaridade também influenciam os ganhos
Outro fator determinante é o chamado efeito farol, citado por Fernando de Holanda Barbosa (FGV Ibre). A cada reajuste do salário mínimo, autônomos e informais recalculam seus preços com base no novo piso nacional, o que, portanto, eleva seus rendimentos. Além disso, a redução da presença de jovens — grupo que ganha menos — aumentou a renda média real da população ocupada.
A escolaridade também tem impacto direto na renda. Segundo os pesquisadores, o aumento da escolaridade média elevou o rendimento geral mesmo sem grandes avanços reais nas faixas salariais.
Riscos, desafios e previsões para o futuro da renda autônoma
Apesar dos ganhos mais altos, a ausência de benefícios da CLT — como 13º, férias e proteção previdenciária ampliada — pode trazer custos no longo prazo. Entretanto, trabalhadores inscritos como MEI mantêm cobertura do INSS, o que reduz parte desses riscos.
Para o IBPT, sem reformas que reduzam encargos e atualizem o modelo trabalhista, a informalidade pode se tornar o “novo normal”, e, portanto, exigirá equilíbrio entre proteção social, segurança jurídica e competitividade. Assim, desde 2022 e com força em 2025, o Brasil vive uma transformação que reposiciona flexibilidade, negociação direta e novas formas de trabalho no centro do mercado nacional.



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