Reforma tributária terá uma plataforma nacional para registrar e repartir tributos em tempo real — projeto “150 vezes maior que o Pix” pode reduzir fraudes, simplificar o cumprimento de obrigações e destravar até R$ 500 bilhões por ano, segundo o especialista em tecnologia e inovação Artur Igreja.
A Reforma tributária caminha para sair do papel com um pilar tecnológico inédito: uma plataforma da Receita Federal que centraliza a emissão das notas, calcula os créditos e faz o repasse automático dos impostos — o chamado split payment — no exato instante da venda. A expectativa, de acordo com o especialista Artur Igreja, é dupla: derrubar a sonegação e simplificar o processo para empresas de todos os portes.
Nos testes com 500 empresas e cronograma de adoção entre 2026 e 2027, a solução mira um problema crônico do Brasil: o excesso de horas e custos para entender e recolher tributos. Ao padronizar dados e automatizar regras, a plataforma reduz erros, fecha brechas para “empresas de fachada” e pode elevar a arrecadação em R$ 400 a R$ 500 bilhões, sem aumentar alíquotas, afirma Igreja.
Por dentro da engrenagem: como a plataforma vai operar
A espinha dorsal da Reforma tributária é a transição para um modelo de valor agregado, como já ocorre nas principais economias.
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Cada etapa da cadeia (do algodão ao tecido, do tecido ao vestuário) registra a operação e o crédito tributário correspondente.
Nada de cobrar duas vezes o que já foi pago: a plataforma confere, bloqueia inconsistências e liquida apenas o saldo devido.
Segundo Artur Igreja, o sistema nasce “150 vezes maior que o Pix” em volume de informação.
A comparação faz sentido: enquanto o Pix guarda quem pagou, quem recebeu e o valor, a plataforma tributária precisa processar todo o conteúdo de uma nota fiscal (itens, NCM, alíquotas, benefícios, créditos, CFOP), além de conciliar participantes, meios de pagamento e órgãos integrados.
Split payment: a guilhotina da sonegação
O split payment — divisão automática do valor entre empresa e entes tributantes — é o golpe mais duro nas fraudes.
No ato da venda, a parcela do tributo não chega a transitar pela conta do contribuinte, reduzindo o espaço para atrasos estratégicos, notas frias e triangulações.
Empresas “noteiras” perdem o oxigênio porque cada documento passa a ter lastro transacional e fiscal no mesmo evento.
Para Artur Igreja, a consequência é direta: transparência e rastreabilidade semelhantes ao que o Pix trouxe para pagamentos, só que aplicadas ao universo fiscal.
Quem já cumpre a lei ganha previsibilidade; quem burla o sistema aparece na malha rapidamente — com vantagem adicional de que os dados já estão na Receita, agora estruturados e em tempo real.
Segurança e escala: o maior desafio é técnico, não político
Se o potencial é enorme, o desafio também é. Um repositório centralizado, sigiloso e crítico exigirá segurança de estado da arte e disponibilidade 24/7.
Como lembra Igreja, a vantagem sobre o Pix é arquitetural: haverá um único operador público (Receita), e não centenas de instituições.
Em compensação, o volume e a variedade dos dados tributários impõem validação robusta, auditoria e trilhas de conformidade.
Por isso, o projeto avança em fases: pilotos com 500 empresas, ampliação em 2026 e operação mais ampla a partir de 2027, acompanhando o calendário da Reforma tributária.
O objetivo é testar regras setoriais, cargas de pico, integrações com ERPs e contingências antes de escalar para milhões de CNPJs.
Pequenos negócios: simplificar para incluir
A Reforma tributária historicamente penaliza menos quem tem times e consultorias.
A promessa da nova plataforma é inverter essa lógica para MEIs, micro e pequenas: assistentes de preenchimento, regras automáticas e crédito/cashback previstos na reforma tendem a reduzir custo de compliance e erros involuntários.
A experiência do Pix é o paralelo mais didático citado por Artur Igreja: inclusão e barateamento para quem mais sofria com tarifas e burocracia.
Em termos práticos, o pequeno empreendedor deve emitir a nota e ver o tributo resolvido ali, sem rodada infinita de guias, códigos e conciliações.
O padrão único favorece também marketplaces, aplicativos e plataformas de serviço, que poderão embutir o cálculo fiscal no próprio fluxo de venda.
O impacto fiscal: arrecadar mais sem subir imposto
Artur Igreja ressalta um ponto sensível: não se trata de elevar a carga, mas de trazer para dentro quem hoje está fora.
Em números, o ganho pode chegar a R$ 400–500 bilhões com menos sonegação, menos contencioso e menos cumulatividade — dinheiro que, em tese, abre espaço para reduzir alíquotas efetivas, limpar distorções setoriais e dar previsibilidade ao investimento.
É a lógica do “os bons não pagam pelos maus”: quanto maior a base genuína, menor a pressão sobre quem já cumpre.
O resultado esperado é um ambiente de negócios mais simples e concorrência menos desleal, com eficiência arrecadatória substituindo punitivismo tardio.
Linha do tempo, custos e adaptação
O cronograma acompanha a Reforma tributária: testes em curso, expansão em 2026 e funcionamento mais amplo em 2027.
Até lá, empresas terão de atualizar ERPs, bancos de dados e integrações fiscais.
É investimento? Sim. Mas, na visão de Igreja, o custo marginal cai quando comparado ao labirinto atual de obrigações acessórias e ao risco de multas por erro formal.
Para o setor público, a prioridade é publicar especificações, ambientes de homologação e kits de desenvolvimento, permitindo que fornecedores de software e grandes emissores se ajustem com antecedência — o mesmo caminho trilhado no ecossistema do Pix, agora sob o guarda-chuva da Reforma tributária.
Se cumprir o que promete, a Reforma tributária finalmente troca a incerteza pela automação: notas mais simples, crédito de imposto na veia, repasses automáticos e menos espaço para sonegação.
Artur Igreja condensa a aposta: tecnologia para simplificar, incluir e tornar justo o que hoje é caro e confuso.
Agora queremos ouvir você: no seu negócio, essa automação tende a reduzir custo e dor de cabeça ou vai exigir uma mudança dura de sistema e processos? E mais — se a arrecadação extra vier, deveria financiar desoneração setorial, reduzir alíquotas gerais ou priorizar serviços públicos? Comente com exemplos reais do seu dia a dia: quanto tempo e dinheiro você gasta hoje só para “entender o imposto” e como imagina isso na nova fase da Reforma tributária.