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Nem raras, nem escassas: as terras raras apresentam outros problemas que não têm nada a ver com sua abundância

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 20/08/2025 às 17:34
Nem raras, nem escassas: as terras raras apresentam outros problemas que não têm nada a ver com sua abundância
Foto: Reprodução
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China reforça controle sobre ímãs de terras raras, restringe exportações e expõe a dependência das montadoras globais na produção de veículos elétricos.

Ímãs de terras raras são fundamentais para os carros elétricos. Eles estão presentes na maioria dos motores elétricos síncronos, transformando energia em movimento.

O mais importante é que 90% desses ímãs vêm da China, produzidos a partir de lantanídeos como neodímio e disprósio. Esses elementos sustentam a eficiência e a autonomia dos veículos elétricos e híbridos.

Apesar do nome, as terras raras não são escassas. O problema está em sua baixa concentração na crosta terrestre. Extrair e refinar esses minerais exige processos caros e complexos.

A China se destacou porque construiu uma cadeia completa, que vai da mineração até o ímã acabado, consolidando assim seu monopólio.

O papel dos ímãs permanentes

Nos veículos atuais, os ímãs de neodímio-ferro-boro (NdFeB) e de samário-cobalto (SmCo) dominam os motores. Eles garantem maior eficiência energética, consumo reduzido e maior autonomia por carga. Além disso, permitem motores compactos e leves, mas com potência alta, capazes de suportar temperaturas elevadas sem comprometer o desempenho.

Essa combinação tornou os ímãs permanentes praticamente indispensáveis para as montadoras. Portanto, qualquer mudança no fluxo de fornecimento gera efeitos imediatos na indústria automotiva.

As novas restrições impostas por Pequim

No início de 2025, a China apertou ainda mais o controle sobre esses materiais. Primeiro, exigiu licenças especiais para exportação de compostos e óxidos de terras raras. Depois, em abril, ampliou as restrições para ímãs já fabricados e sete elementos pesados do grupo. Isso significa que qualquer envio ao exterior agora precisa de autorização governamental.

O resultado foi imediato. Apenas cerca de 25% dos pedidos de licença foram aprovados. Esse bloqueio trouxe atrasos, incertezas e riscos de escassez. A cadeia global de suprimentos passou a operar sob pressão constante.

Reação da indústria automotiva

As montadoras sentiram o impacto direto. A dificuldade em garantir o fornecimento ameaça tanto a produção de veículos elétricos quanto de sistemas de assistência. Algumas empresas estudam mudar parte da produção para fora da China. Outras procuram novos fornecedores. No entanto, construir capacidade de refino e de fabricação de ímãs no Ocidente leva tempo e demanda investimentos altos.

Portanto, as alternativas não estão disponíveis de forma imediata. A dependência estrutural continua sendo um desafio real.

Motores sem terras raras

Enquanto isso, engenheiros trabalham em soluções que eliminam a necessidade desses ímãs. Um exemplo são os motores de indução, usados em certos modelos da Tesla. Eles geram o campo magnético a partir de correntes em bobinas. Assim, dispensam terras raras. Mas apresentam limitações: costumam ser maiores e podem ser menos eficientes em algumas situações.

Outra opção são os motores de relutância comutada. Eles não utilizam ímãs permanentes, mas trazem outros problemas. São mais barulhentos e exigem sistemas de controle sofisticados. Isso implica em reformulações complexas nos projetos.

Projetos para reduzir a dependência

Diante desse cenário, governos e empresas na Europa e nos Estados Unidos investem em projetos “da mina ao ímã”. O objetivo é criar cadeias próprias de suprimento.

Nos EUA, a mina de Mountain Pass foi reativada. Já na Europa, fábricas estão sendo instaladas para produzir ímãs localmente.

Apesar dos avanços, o processo não é simples. Produzir ímãs de alto desempenho exige tempo, além de enfrentar barreiras de propriedade intelectual e custos elevados. Por isso, a expectativa é que os resultados venham de forma gradual.

Um ponto de virada estratégico

A disputa pelo controle das terras raras tornou-se um ponto decisivo para a indústria automotiva. O cabo de guerra entre o domínio chinês e os esforços de diversificação define o futuro próximo. Além disso, influencia diretamente a transição para uma mobilidade mais limpa.

Garantir acesso a esses materiais e, ao mesmo tempo, explorar motores alternativos virou prioridade estratégica. O sucesso ou fracasso dessas iniciativas determinará a força das montadoras e até mesmo o equilíbrio geopolítico. Porque, apesar do nome, as terras raras já se mostram centrais para o futuro da mobilidade elétrica.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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