Uma história de engenhosidade brasileira esquecida pelo governo. A criação de um jipe voador nos anos 70 poderia ter revolucionado a aviação agrícola, mas, por falta de apoio, caiu no esquecimento. O legado de inovação continua relevante.
Na década de 1970, enquanto o Brasil ainda enfrentava o auge da ditadura militar e investia pesadamente em infraestrutura rodoviária, um engenheiro brasileiro ousou sonhar com os céus.
Seu nome era Romeu Corsini, e seu projeto ambicioso ficou conhecido como SP-18 Onça, uma aeronave leve de decolagem curta que, por pouco, não revolucionou a aviação agrícola no país.
O SP-18 Onça, batizado inicialmente de IPAI-27 Jipe Voador, era uma tentativa nacional de criar um “carro voador” multifuncional, voltado especialmente para o uso no campo.
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O modelo experimental, concebido com soluções engenhosas e materiais acessíveis, era um exemplo de criatividade e inovação típica do Brasil.
Mesmo com sua utilidade comprovada, o projeto foi ignorado pelo governo e nunca recebeu o investimento necessário para alcançar escala industrial.
Um jipe voador nascido da engenharia nacional
O SP-18 Onça foi desenvolvido com foco na simplicidade, resistência e eficiência.
A aeronave era um monoplano de assento único com trem de pouso fixo, construído com uma estrutura de tubos de aço soldados, revestidos por lona.
As asas de madeira com perfil de alta sustentação garantiam estabilidade em baixa velocidade, enquanto o leme em formato de “T” facilitava manobras precisas — ideal para pousos e decolagens em pistas curtas ou improvisadas.
Romeu Corsini idealizou o jipe voador como uma ferramenta revolucionária para a agricultura brasileira, especialmente em áreas de difícil acesso.
Em um país com extensões rurais gigantescas e mal servidas por infraestrutura de transporte, uma aeronave de baixo custo e manutenção simples poderia transformar o escoamento de produção, o acesso a áreas remotas e até o combate a pragas.
Mas apesar da utilidade evidente do projeto, Corsini enfrentou uma dura realidade: a falta de interesse por parte do poder público e das indústrias nacionais.
Durante anos, ele realizou testes, ajustou o modelo e buscou parcerias, mas o sonho de ver o SP-18 ganhar os céus brasileiros em larga escala nunca se concretizou.
O legado ignorado que inspirou outras criações
Mesmo sem apoio governamental, o SP-18 Onça deixou marcas importantes na história da aviação experimental no Brasil.
O projeto serviu como base para outras aeronaves desenvolvidas nos anos seguintes, como o IPAI-26 Tuca, também de autoria de Corsini.
Além disso, o SP-18 foi utilizado como objeto de estudo por estudantes e professores de engenharia aeronáutica na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde Corsini também colaborava academicamente.
A visão de Corsini era muito à frente de seu tempo.
Hoje, em tempos de crescente interesse por veículos aéreos urbanos, como drones de transporte e aeronaves elétricas de decolagem vertical (os chamados eVTOLs), o projeto do jipe voador dos anos 1970 ganha novo reconhecimento como um embrião de ideias que só agora estão sendo retomadas com seriedade por grandes empresas do setor aeroespacial.
Segundo dados de 2025, companhias como Embraer (com sua subsidiária Eve Air Mobility) e startups como a Vertical Aerospace, nos EUA e Europa, estão investindo bilhões em projetos de aeronaves urbanas elétricas, movidas por inteligência artificial e com foco em sustentabilidade.
Mas no Brasil, há mais de 50 anos, um engenheiro já vislumbrava soluções semelhantes, ainda que com recursos modestos e apoio quase nulo.
Onde está o SP-18 Onça hoje?
Embora nunca tenha entrado em produção industrial, o SP-18 Onça ainda é lembrado por entusiastas da aviação experimental e pesquisadores da história da tecnologia no Brasil.
Algumas fotos da aeronave sobrevivem em arquivos digitais, e relatos de voos de teste continuam sendo discutidos em fóruns especializados.
O protótipo original passou por sucessivas modificações ao longo do tempo, e há registros de que ele teria sido armazenado em oficinas privadas.
No entanto, não há confirmação se ainda está preservado ou se foi desmontado após os testes.
A ausência de políticas públicas voltadas à inovação tecnológica, especialmente durante o período militar, ajudou a enterrar muitos projetos visionários como o de Corsini.
A prioridade do regime na época era a expansão da malha rodoviária e a industrialização pesada, deixando de lado propostas que exigissem desenvolvimento científico autônomo e investimentos de risco.
Visão que inspirou o futuro
Romeu Corsini faleceu sem ver seu jipe voador ganhar reconhecimento nacional, mas sua trajetória ainda inspira inventores e engenheiros brasileiros.
Em tempos em que o país busca se reposicionar na corrida global por tecnologias sustentáveis e soluções inteligentes para mobilidade, lembrar de iniciativas como a dele é essencial para entender o potencial criativo desperdiçado por falta de incentivo.
De acordo com o professor e engenheiro aeronáutico Carlos Henrique dos Santos, da UFSCar, “o SP-18 foi um dos primeiros exemplos no Brasil de como a engenharia pode ser adaptada às necessidades locais com soluções simples, eficazes e acessíveis. Corsini tinha uma visão de Brasil que muitos ainda não conseguiram enxergar”.
Quando o Brasil ignorou sua própria genialidade
A história do SP-18 Onça e de Romeu Corsini não é apenas uma curiosidade sobre aeronaves.
É um retrato de como o Brasil, tantas vezes, negligencia seus próprios talentos e inovações por falta de políticas públicas estruturadas e visão estratégica de longo prazo.
Hoje, com o mundo de olho em tecnologias de mobilidade aérea, é inevitável pensar: e se o Brasil tivesse apostado no jipe voador em 1975?
Quantos engenheiros, projetos e empresas poderiam ter nascido a partir daquele embrião?
Quantos Romeus Corsini ainda existem no Brasil, esperando apenas uma oportunidade para fazer o país decolar com suas ideias?
E você, já tinha ouvido falar do jipe voador brasileiro dos anos 70?
Acha que o país dá o devido valor à inovação nacional ou ainda engatinha nessa área? Compartilhe sua opinião nos comentários!
Caso semelhante ao carro elétrico de Amaral Gurgel, da mesma época do Jipe voador
Um país que não incentiva seus criadores e cientistas jamais será uma grande potência. Pessoas como Santos Dumont só obteram sucesso quando apoiadas por outros países ou com muita persistência. Amaral Gurgel foi um dos pioneiros no carro elétrico e carro movido a água, além de ser fabricação nacional. O que o governo brasileiro fez? Ignorou o mesmo, preferindo trazer montadoras estrangeiras.
E uma pena que este gênio não tenha sido valorizado,e como ele outros tantos gênios foram ignorados ,por um país que menosprezou uma pessoa muito inteligente
O Brasil sempre foi assim gênios são ignorados,bajuladores e incompetentes estão no comando de estatais e desonestos no comando do país!