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Prometia ser o maior centro comercial de Guarulhos: R$ 110 milhões, 130 mil m² e 4 mil empregos. Hoje, restam ruínas e pichações

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 25/10/2025 às 19:39
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Com investimento de R$ 110 milhões e 130 mil m², o shopping da Vila Fátima em Guarulhos permanece abandonado há 35 anos, tornando-se um dos maiores “elefantes brancos” urbanos do Brasil

Durante mais de três décadas, a cidade de Guarulhos conviveu com um gigante silencioso: uma estrutura de concreto de 130 mil metros quadrados que prometia transformar a economia local e se tornou um símbolo de abandono. O shopping da Vila Fátima, iniciado no fim dos anos 1980, continua parado até hoje — um projeto avaliado em R$ 110 milhões que nunca chegou a ser inaugurado.

Imagens recentes captadas por drones do portal Guarulhos Todo Dia revelam o cenário atual do empreendimento: paredes pichadas, janelas quebradas e o avanço da vegetação sobre o esqueleto do prédio. Ao redor, o bairro cresceu — há comércios, residências e avenidas movimentadas —, mas o “elefante branco” permanece imóvel, testemunha de um passado de promessas não cumpridas.

Uma história que teve início há 35 anos

A construção do shopping teve início na virada das décadas de 1980 e 1990, quando Guarulhos vivia uma fase de forte expansão urbana e a ideia de um grande centro comercial parecia inevitável. Batizado inicialmente de Shopping Center Guarulhos, o projeto previa centenas de lojas, cinemas, restaurantes e uma torre empresarial de 20 andares.

Em 2009, após anos de paralisação, o Grupo Sá Cavalcante, responsável por grandes empreendimentos em estados como Espírito Santo, Maranhão e Pará, anunciou que retomaria as obras sob o nome de Shopping Plaza Guarulhos. O plano incluía 419 lojas, três restaurantes, 2.500 vagas de estacionamento, cinema com 2.000 assentos e 288 salas comerciais, além da promessa de gerar mais de 4.000 empregos diretos.

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Na época, o grupo recebeu o sinal verde da Prefeitura de Guarulhos, então sob o comando do prefeito Sebastião Almeida. O entendimento da administração era que o projeto respeitava as normas ambientais vigentes no final dos anos 1980 e, portanto, poderia ser retomado mediante contrapartidas ambientais e sociais.

A batalha judicial e ambiental que parou tudo

Apesar do aval da Prefeitura, o caso rapidamente se tornou um imbróglio jurídico. No início de 2010, a 2ª Vara da Fazenda Pública de Guarulhos concedeu uma liminar suspendendo as obras do empreendimento, alegando que havia risco de “danos ambientais severos”.

O principal motivo foi a ausência de estudos de impacto ambiental e de trânsito (RIT), que deveriam ter sido exigidos antes da retomada. Segundo a decisão judicial, a área do shopping incluía trechos de preservação permanente, o que tornava a autorização municipal irregular.

Na Câmara Municipal, o vereador Geraldo Celestino, então líder da oposição, elaborou um relatório apontando irregularidades no processo de licenciamento. Ele alegou que o alvará havia sido concedido em menos de um mês — quando o prazo mínimo seria de cinco — e que o empreendimento acumulava dívidas de IPTU na casa dos R$ 15 milhões.

O Grupo Sá Cavalcante e comerciantes locais tentaram reverter a decisão, alegando que a obra geraria emprego e valorizaria a região. Houve até protestos em frente à Câmara Municipal, mas nada adiantou. Desde então, a construção nunca mais foi retomada.

Um projeto grandioso que nunca saiu do papel

O terreno do shopping da Vila Fátima tem cerca de 40 mil metros quadrados, mas o projeto total somava 130 mil m² de área construída. O custo estimado era de R$ 110 milhões, um valor gigantesco para a época. O empreendimento foi pensado para ser o maior centro comercial da Grande São Paulo fora da capital, com cinemas, praça de alimentação, estacionamento subterrâneo e centro empresarial anexo.

Hoje, a realidade é outra. O prédio está deteriorado, cercado por condomínios e comércios. As paredes internas e externas estão tomadas por pichações e infiltrações. De acordo com os moradores da região, o local se tornou ponto de acúmulo de lixo e foco de insegurança, principalmente à noite.

Nas imagens aéreas registradas pelo Guarulhos Todo Dia, é possível ver como o bairro se desenvolveu ao redor do colosso abandonado. A movimentada Avenida Otávio Braga de Mesquita passa em frente à entrada principal, enquanto um córrego separa o edifício dos conjuntos residenciais.

O contraste é marcante: a modernização do entorno e o avanço urbano coexistem com uma estrutura parada no tempo.

Interior do shopping abandonado da Vila Fátima, em Guarulhos (SP), mostra escadas rolantes enferrujadas e salões vazios — vestígios de um projeto de R$ 110 milhões e 130 mil m² que nunca foi concluído

Planos frustrados e tentativas de reaproveitamento

Em 2017, durante a gestão do prefeito Guti, chegou a ser discutida a possibilidade de transformar o shopping em um centro administrativo municipal. A proposta partiu de um projeto do então vereador Eduardo Carneiro, que defendia a reutilização da estrutura para economizar recursos públicos e revitalizar a região.

No entanto, um parecer técnico da Prefeitura considerou a ideia inviável, apontando alto custo de adaptação e risco estrutural. Desde então, o prédio permanece intocado.

O Grupo Sá Cavalcante afirmou em nota ao portal Guarulhos Todo Dia que ainda mantém o interesse em realizar um grande empreendimento comercial na cidade, mas não há previsão de retomada. Até hoje, o terreno continua registrado como propriedade do grupo, sem utilização definida.

O símbolo de um sonho interrompido

O shopping da Vila Fátima é, para muitos moradores, um lembrete de como grandes projetos urbanos podem fracassar quando enfrentam burocracias, disputas políticas e falta de planejamento ambiental.

Mais do que uma construção abandonada, ele representa a interrupção de um ciclo de expectativas e investimentos que poderiam ter transformado o cenário econômico de Guarulhos.

Enquanto isso, os moradores do bairro seguem convivendo com o “elefante branco” de concreto, à espera de que um dia o espaço seja finalmente reaproveitado — seja como centro comercial, espaço público ou símbolo de um passado que a cidade ainda não conseguiu deixar para trás.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, vivendo no Rio de Janeiro, especializado em temas militares, tecnologia, energia e geopolítica. Escrevo artigos sobre temas complexos em uma linguagem acessível, mantendo rigor jornalístico e foco no impacto social e econômico

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