Cientistas da Universidade Columbia alertam que o plano de injetar aerossóis na estratosfera para reduzir a luz solar pode gerar desequilíbrios climáticos graves e efeitos opostos aos esperados
Com o avanço da crise climática e o fracasso das metas de redução de emissões de carbono, cientistas estão analisando soluções alternativas para conter o aquecimento global. Uma delas é a geoengenharia solar — uma proposta que busca resfriar a Terra ao refletir parte da luz do Sol de volta para o espaço.
No entanto, especialistas alertam que essa técnica pode gerar resultados imprevisíveis e até mesmo agravar o problema que pretende resolver.
O alerta sobre a geoengenharia solar
As Nações Unidas reafirmaram nesta semana que o mundo está longe de cumprir os compromissos assumidos no Acordo de Paris de 2015. Diante disso, cresce o interesse em métodos que possam reduzir temporariamente as temperaturas globais.
-
Navio de 7.280 toneladas vira marco mundial ao receber primeiro sistema solar marítimo com 44 painéis e 79 kWp de energia limpa nos mares da Europa
-
Apple mira qualidade do olho humano: novo iPhone deve trazer câmera com tecnologia inédita que pode mudar o padrão de fotos em smartphones
-
O segredo dos ímãs mais potentes do mundo: como neodímio, térbio e disprósio transformaram a engenharia magnética moderna
-
Startup gaúcha de IA conquista gigante francesa e acelera inovação bilionária no Brasil
Entre eles, a chamada injeção de aerossóis estratosféricos (SAI, na sigla em inglês) tem ganhado destaque. A técnica consiste em pulverizar partículas na estratosfera para bloquear parte da radiação solar.
Mas uma equipe de cientistas da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, advertiu que a dependência da geoengenharia solar pode ser extremamente arriscada. Mesmo se aplicada corretamente, ela pode gerar um efeito oposto ao desejado.
Segundo os pesquisadores, os modelos computacionais que simulam o processo apresentam resultados otimistas, mas não representam fielmente o que poderia ocorrer no mundo real.
Simulações promissoras, mas cheias de incertezas
A pesquisadora V. Faye McNeill, química atmosférica e cientista de aerossóis da Universidade Columbia, explicou que o método da SAI se baseia em fenômenos naturais. Erupções vulcânicas, por exemplo, lançam milhões de toneladas de dióxido de enxofre na atmosfera, o que forma aerossóis de sulfato capazes de refletir a luz solar e reduzir a temperatura global por anos.
Apesar disso, McNeill alertou que as simulações de laboratório não consideram as inúmeras variáveis presentes na atmosfera real. “Há uma série de coisas que podem acontecer se você tentar fazer isso – e argumentamos que a gama de resultados possíveis é muito maior do que qualquer um imaginava até agora”, afirmou.
A equipe ressalta que, por mais sofisticados que sejam os modelos, eles ainda idealizam condições impossíveis de reproduzir integralmente.
Essas simulações utilizam partículas “perfeitas”, lançadas em quantidades e locais controlados. Na prática, entretanto, fatores como dispersão desigual, interferência climática e limitações técnicas podem alterar completamente o comportamento dessas partículas.
Obstáculos técnicos e políticos
A pesquisadora Miranda Hack, também da Universidade Columbia, liderou a análise que apontou uma série de limitações para a aplicação prática da SAI. Os desafios vão desde barreiras políticas e diplomáticas até dificuldades de engenharia e logística.
Os cientistas destacaram que, em um cenário ideal, haveria um órgão internacional centralizado para coordenar a operação e monitorar os efeitos globais.
No entanto, eles consideram esse modelo de governança praticamente inviável diante da atual fragmentação geopolítica. A falta de consenso entre países e o risco de uso unilateral dessa tecnologia agravam ainda mais o problema.
Além das barreiras políticas, os obstáculos técnicos também são consideráveis. A equipe ressaltou que as cadeias de suprimentos globais poderiam ser sobrecarregadas mesmo para materiais relativamente acessíveis, como cal e enxofre.
Outras substâncias, como partículas de diamante, foram sugeridas em pesquisas anteriores por sua alta eficiência reflexiva. No entanto, as quantidades necessárias para a aplicação em larga escala superariam toda a produção mundial atual.
Outro ponto crítico é a própria manipulação dos materiais. Muitos deles, ao serem moídos em partículas finas, tendem a se aglomerar, perdendo a capacidade de refletir a luz solar de forma eficaz. Isso tornaria o processo ainda mais complexo e caro, além de reduzir sua eficiência.
A necessidade de mais estudos antes de qualquer aplicação
Diante das incertezas, os cientistas defendem que a SAI ainda está longe de se tornar uma solução prática ou segura para o controle climático. O estudo conclui que é preciso ampliar significativamente o conhecimento sobre as consequências físicas, químicas e sociais antes de qualquer tentativa de implementação.
“Mesmo quando as simulações de SAI em modelos climáticos são sofisticadas, elas serão necessariamente idealizadas”, observou McNeill. Para ela, comparar os resultados das simulações com as condições reais demonstra o quanto essas previsões ainda são frágeis e incompletas.
A análise completa da equipe foi publicada na revista Scientific Reports, reforçando a necessidade de cautela com soluções de alto risco em um cenário já crítico de mudanças climáticas.
Enquanto o mundo busca alternativas para conter o aquecimento global, os pesquisadores enfatizam que a pressa em adotar tecnologias experimentais pode gerar mais danos do que benefícios.
A equipe publicou sua análise em um artigo na revista Scientific Reports.



Seja o primeiro a reagir!