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Profissão de pedreiro com os dias contados? Robô constrói casa de 200 m² em 24h usando só terra e impressão 3D

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 13/10/2025 às 20:12
Robô constrói casa de 200 m² em 24h com impressão 3D e solo natural, prometendo revolucionar a construção civil sustentável.
Robô constrói casa de 200 m² em 24h com impressão 3D e solo natural, prometendo revolucionar a construção civil sustentável.
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Robô capaz de construir uma casa de 200 m² em um dia, usando terra e impressão 3D, promete transformar a construção civil com soluções sustentáveis, baixo custo e aproveitamento de recursos naturais locais.

Um robô de seis patas, batizado de Charlotte, promete erguer uma casa de 200 m² em 24 horas, utilizando principalmente materiais naturais e um sistema de impressão 3D sem cimento.

Desenvolvido em parceria pela Crest Robotics e pela Earthbuilt Technology, o projeto aposta em solo, areia e resíduos de construção para formar paredes estruturais.

A proposta mira reduzir custos, acelerar obras e cortar emissões da construção civil, um dos setores que mais emitem carbono no mundo.

Como o robô Charlotte transforma solo em estrutura

O Charlotte opera como uma plataforma móvel de impressão.

Acoplado ao chassis, um sistema de extrusão recolhe materiais disponíveis no entorno, que podem incluir areia, terra, vidro moído e tijolo triturado.

Esses insumos são compactados e unidos por camadas, dando origem às paredes da edificação.

Com isso, o robô elimina a etapa tradicional de preparar e transportar concreto, reduzindo a logística e a pegada de carbono associadas ao cimento.

A máquina foi concebida para se deslocar no canteiro enquanto imprime, elevando o corpo sobre “pernas” para avançar em altura.

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Na prática, a automação busca simplificar o processo de levantar alvenarias, que costuma depender de mão de obra numerosa, andaimes e várias frentes de trabalho.

Embora ainda esteja em fase de desenvolvimento, o objetivo anunciado é viabilizar moradias inteiras no prazo de um dia, com menor custo operacional e menor uso de recursos.

Por que a promessa de 24 horas é relevante

O tempo de obra é um dos principais fatores de custo.

Em projetos convencionais, prazos longos encarecem mão de obra, aluguel de equipamentos e logística de materiais.

Ao automatizar a etapa de paredes e revestimentos iniciais, a impressão 3D pode enxugar cronogramas e liberar equipes para fundações, instalações e acabamentos.

Além disso, a possibilidade de imprimir em sequência contínua evita paradas e desperdícios, favorecendo previsibilidade de entrega.

Há, no entanto, condicionantes técnicas.

O desempenho de 24 horas depende de projeto, disponibilidade e preparo dos materiais, condições climáticas e infraestrutura mínima, como energia no local.

Também é necessário compatibilizar a estrutura impressa com normas de desempenho, conforto térmico e segurança contra incêndio.

Mesmo com essas ressalvas, a meta sinaliza um salto de produtividade para obras repetitivas e de escala.

Sustentabilidade e redução de impacto ambiental

Operação de robô 3D imprimindo casa com vista aérea em canteiro moderno. (Imagem: Neuroject)
Operação de robô 3D imprimindo casa com vista aérea em canteiro moderno. (Imagem: Neuroject)

A construção baseada em cimento é intensiva em emissões de dióxido de carbono.

Ao substituir o ligante tradicional por misturas sem cimento e por insumos locais, o Charlotte pretende reduzir impactos ambientais e a dependência de cadeias longas de suprimentos.

O uso de resíduos — como vidro e entulho moídos — agrega um componente de economia circular, convertendo passivos em matéria-prima.

Outro vetor de sustentabilidade é o traço estrutural.

O processo de extrusão em camadas permite otimizar formas e espessuras conforme a carga, com menor consumo de material.

Aliado a isso, o controle digital do robô favorece repetibilidade, reduz falhas de execução e, por consequência, desperdício.

Em um setor em que retrabalho e sobras são comuns, essa precisão representa ganho ambiental e econômico relevante.

Potencial brasileiro: uso de areia e terra locais

No Brasil, a abundância de areia e terra e a variedade de solos regionais favorecem testes com impressão 3D de baixo impacto.

Em áreas rurais ou em municípios com acesso difícil a insumos industrializados, a capacidade de usar materiais do entorno reduz custos de transporte e viabiliza soluções de moradia com menos dependência de centros urbanos.

A tecnologia também dialoga com climas variados, já que a composição pode ser ajustada conforme umidade, resistência desejada e requisitos térmicos.

A viabilidade local exige compatibilização com normas técnicas brasileiras, avaliação de desempenho acústico e térmico e validação estrutural por engenheiros habilitados.

Além disso, a adoção em larga escala passa por capacitação de equipes, integração com fundações e coberturas e certificação junto a órgãos públicos e seguradoras.

Aplicações rápidas em desastres e emergências

Em situações de emergência — como enchentes e deslizamentos — abrigos temporários precisam ser levantados com rapidez e poucos recursos.

A proposta do Charlotte é justamente construir de forma acelerada, com material disponível no local, reduzindo a necessidade de comboios logísticos.

Robô robótico trabalhando em estrutura de construção 3D com malha e extrusão controlada. (Imagem: Inhabitat)
Robô robótico trabalhando em estrutura de construção 3D com malha e extrusão controlada. (Imagem: Inhabitat)

Para defesas civis e organizações humanitárias, essa abordagem pode oferecer abrigos mais estáveis e sustentáveis do que tendas, com melhor isolamento térmico e maior resistência climática.

A montagem automatizada também preserva a segurança das equipes, que evitam trabalhar em estruturas comprometidas ou em terrenos instáveis.

Mesmo assim, a resposta a desastres requer protocolos claros: avaliação geotécnica, desenhos padronizados e checagem elétrica e hidráulica.

A impressão é uma etapa-chave, mas precisa de integração com o restante do abrigo.

Impressão 3D e personalização na construção civil

Uma vantagem do modelo robótico é a personalização sem encarecer a obra.

Mudanças de planta, curvas, nichos e reforços podem ser atualizados diretamente no arquivo digital, sem reprogramar toda a cadeia.

Para conjuntos habitacionais, isso permite diversidade tipológica com controle de material e de tempo.

Na outra ponta, a automação reduz exposição a riscos físicos — quedas, esforços repetitivos, manipulação de cargas — e tende a qualificar a mão de obra para funções de operação, manutenção e controle de qualidade.

O custo final por metro quadrado depende de produtividade, preço dos insumos, transporte do equipamento e integração com acabamentos.

Ainda não há referência pública consolidada de custo por m² para o Charlotte, etapa necessária para comparação com outros sistemas construtivos.

A métrica financeira será determinante para a adoção em programas habitacionais e PPPs.

Construção fora da Terra: uso de regolito lunar

Os desenvolvedores planejam adaptar o Charlotte para ambientes extraterrestres, aproveitando o regolito lunar, composto por poeira e fragmentos de rocha.

A lógica é semelhante: imprimir com o que há no local, evitando transportar grandes volumes desde a Terra.

Imagem de robô industrial montando malha metálica para impressão 3D (Imagem: house robot in Switzerland)
Imagem de robô industrial montando malha metálica para impressão 3D (Imagem: house robot in Switzerland)

A mesma arquitetura de extrusão e compactação poderia levantar cascas estruturais e barreiras de proteção contra radiação.

Embora ainda experimental, essa linha de pesquisa dialoga com o avanço de missões lunares e com a tendência de construção autônoma em ambientes extremos.

O aprendizado técnico pode fortalecer soluções mais robustas também em regiões brasileiras remotas.

Mudanças na profissão e capacitação de pedreiros

A ideia de que o robô “acabará com o pedreiro” é simplista.

Tecnologias como o Charlotte tendem a redistribuir tarefas e transformar perfis profissionais.

O foco migra de esforço braçal para operação de máquinas, calibração e acabamento.

A demanda por profissionais qualificados permanece, mas com novas competências digitais e técnicas.

Em vez de extinguir empregos, a tendência é de requalificação.

A adoção deve começar em nichos com maior repetibilidade e disponibilidade de materiais.

À medida que normas e seguros amadurecem, o uso pode se ampliar para moradias sociais, prédios públicos e empreendimentos sustentáveis.

Próximos passos e desafios para escalar a tecnologia

Para que a promessa se converta em entrega real de moradias, são necessários pilotos validados, ensaios de desempenho conforme normas nacionais e estudos de custo e ciclo de vida.

Também é crucial integrar a impressão 3D com coberturas, instalações e proteção contra intempéries.

Em paralelo, políticas públicas podem priorizar métodos de baixo carbono, acelerando a homologação de sistemas que usem materiais locais.

Se os resultados se confirmarem em campo, a combinação de velocidade, sustentabilidade e personalização pode abrir uma nova era da construção civil.

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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