O desmatamento e as mudanças climáticas estão ameaçando o café brasileiro, colocando a produção à beira do colapso.
Café brasileiro em risco: relatório alerta para colapso na produção
O café, símbolo da produção brasileira e orgulho nacional, enfrenta uma das maiores ameaças de sua história. Um relatório da organização Coffee Watch, divulgado nesta quarta-feira (23), aponta que o desmatamento nas principais regiões produtoras está reduzindo as chuvas e comprometendo o cultivo do grão.
De acordo com o levantamento, o Brasil — maior produtor mundial de café — pode ver sua produção colapsar nas próximas décadas se o avanço do desmatamento e as mudanças climáticas não forem contidos. A conclusão é alarmante: quanto mais floresta se destrói para plantar café, menor é a chance de o café sobreviver.
O paradoxo do café: mais plantações, menos chuva
O estudo mapeou o desmatamento no cinturão cafeeiro do Sudeste, especialmente em Minas Gerais e São Paulo, e o comparou com dados de chuvas e produtividade agrícola. O resultado mostra uma contradição preocupante: a expansão das lavouras está secando o clima que as sustenta.
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“A forma ecologicamente destrutiva como cultivamos café vai resultar em não termos café”, afirmou Etelle Higonnet, diretora da Coffee Watch.
Ela resume o problema com clareza: “O desmatamento para o cultivo de café está matando as chuvas, que estão matando o café.” Segundo Higonnet, a prática de derrubar florestas para abrir espaço às plantações cria um ciclo autodestrutivo que ameaça o futuro da cultura.
A produção brasileira à beira do colapso
O Brasil, responsável por cerca de um terço da produção mundial de café, enfrenta agora um dilema que vai além da economia. O impacto ambiental do desmatamento está alterando o regime de chuvas e reduzindo a resiliência do solo, deixando os cafezais vulneráveis à seca e a oscilações climáticas extremas.
De acordo com o relatório, milhões de hectares de florestas nativas foram substituídos por lavouras de café nas últimas décadas. Isso fez com que a umidade natural da região caísse, diminuindo a precipitação e afetando diretamente a produtividade.
Com menos chuva, as falhas nas colheitas aumentaram e a qualidade dos grãos despencou, pressionando os preços para cima no mercado global.
O papel da Amazônia e os efeitos das mudanças climáticas
Os dados da Coffee Watch reforçam descobertas recentes de cientistas brasileiros publicadas na revista Nature Communications. O estudo apontou que o desmatamento na Amazônia reduziu as chuvas em até 75% em algumas regiões agrícolas do país.
Esse cenário afeta diretamente o microclima do Sudeste, onde se concentra a maior parte da produção de café arábica. Sem a umidade transportada pela floresta, os ventos perdem força e o ciclo natural das chuvas se quebra.
Ou seja, a destruição das florestas amazônicas não afeta apenas a biodiversidade — ela ameaça também o café que chega à mesa de milhões de brasileiros e consumidores em todo o mundo.
Ameaça global: consumo cresce, mas a produção cai
O relatório destaca ainda uma ironia ecológica: o consumo global de café nunca foi tão alto. Estima-se que mais de 2 bilhões de xícaras sejam consumidas todos os dias. No entanto, o ritmo atual de desmatamento e degradação ambiental pode tornar o produto cada vez mais escasso — e caro.
Os países produtores, como o Brasil, estão pressionados pela demanda internacional e, ao mesmo tempo, enfrentam as consequências do aquecimento global.
Se o ciclo continuar, a produção brasileira corre o risco de entrar em colapso — mesmo com mais áreas sendo abertas para o cultivo.
A urgência de um novo modelo de cultivo sustentável
Especialistas afirmam que a saída está em um modelo sustentável de produção. Para isso, é preciso preservar o meio ambiente sem abrir mão da produtividade agrícola. Assim, práticas como reflorestar áreas degradadas, usar sombrite natural com árvores nativas e aplicar o uso racional da água tornam-se indispensáveis.
A Coffee Watch alerta que, sem ação imediata, o impacto será irreversível. “Se continuarmos nesse ritmo, poderemos perder parte significativa da produção brasileira nas próximas décadas”, adverte o relatório.
Enquanto isso, produtores e consumidores começam a entender que o café, tão presente na rotina, está se tornando vítima do colapso ambiental que o próprio modelo de cultivo ajudou a criar.


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