Enquanto a Abic projeta aumento para o consumidor nas gôndolas devido a custos, o Cepea/Esalq registra forte queda no valor da matéria-prima, criando um cenário de incerteza no mercado.
O preço do café está no centro de um impasse que afeta diretamente o bolso do consumidor brasileiro. De um lado, a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) alerta para um reajuste iminente de até 15% nas prateleiras dos supermercados, justificado pela alta nos custos da matéria-prima para a indústria. A informação, repercutida pela CNN, aponta que o novo valor já foi comunicado ao varejo e deve chegar às gôndolas nos próximos dias.
Por outro lado, um estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, revela um movimento completamente oposto no campo: uma queda expressiva de até 11,1% no preço do grão cru. Essa dualidade cria um cenário de incerteza, onde a pressão de custos da indústria colide com a desvalorização da matéria-prima, deixando consumidores e produtores em um compasso de espera para entender qual força prevalecerá.
A visão da indústria: por que o café pode ficar mais caro?
Segundo o presidente da Abic, Pavel Cardoso, em coletiva de imprensa destacada pela CNN, o repasse de um acréscimo entre 10% e 15% aos supermercados tornou-se inevitável. A principal razão é o aumento dos custos que as indústrias enfrentaram para adquirir o grão nos últimos meses. Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da entidade, detalhou que, como o varejo intensificou suas compras na segunda quinzena de setembro, a expectativa é que os novos preços já sejam uma realidade para o consumidor no início do próximo mês.
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Este potencial aumento ocorre em um contexto de consumo já fragilizado. Dados da própria Abic mostram que a alta de preços acumulada em 2025 resultou em uma retração de 5,41% nas vendas de café no mercado brasileiro entre janeiro e agosto, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em números absolutos, o volume caiu de 10,11 milhões para 9,56 milhões de sacas. A associação reconhece que a elevação foi expressiva, com alguns tipos de café, como o solúvel, acumulando aumentos de até 50,59%, o que explica a cautela do consumidor.
O contraponto do campo: queda no preço do grão cru
Em uma direção totalmente contrária, o Indicador Cepea/Esalq apontou que, apenas na semana entre 15 e 22 de setembro, o preço do café arábica tipo 6 caiu 10,2% em São Paulo, enquanto o do robusta recuou 11,1%. Conforme a análise divulgada pela CNN, essa desvalorização é resultado de uma combinação de fatores técnicos e climáticos que favorecem uma baixa na cotação da matéria-prima.
Entre os motivos listados pelo Cepea estão a expectativa de chuvas mais expressivas nas principais regiões produtoras do Brasil, o que melhora a perspectiva para a próxima safra e aumenta a oferta. Além disso, houve um movimento de “realização de lucros” e liquidação de posições de compra na Bolsa de Nova York, o que significa que investidores que apostaram na alta venderam seus contratos para garantir os ganhos, pressionando os preços para baixo. A possibilidade de que as tarifas de exportação para os Estados Unidos sejam retiradas também contribui para esse cenário de queda no valor do grão.
Incertezas externas e o fator Estados Unidos
A complexidade do cenário não se limita ao mercado interno. A indústria brasileira de café, de acordo com a CNN, também navega em um mar de incertezas regardingo as sobretaxas às exportações do grão para os Estados Unidos. O Brasil é o maior fornecedor de café para o mercado norte-americano, que impôs tarifas a produtos brasileiros como forma de pressão política ligada ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
No entanto, uma ordem executiva do governo dos EUA, publicada no início de setembro, sinalizou que o café pode ficar isento de novas tarifas, já que o país não é um produtor relevante do grão. Pavel Cardoso, da Abic, expressou um otimismo cauteloso com essa possibilidade. A expectativa agora se volta para uma possível reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, que poderia selar o fim das sobretaxas e estabilizar uma importante frente de exportação, influenciando toda a cadeia de preços.
Diante de previsões tão conflitantes, o consumidor fica no meio do caminho, entre o custo industrial que empurra o preço para cima e a desvalorização do grão no campo, que deveria baratear o produto final.
Você concorda com essa mudança? Acha que isso impacta o mercado? Deixe sua opinião nos comentários, queremos ouvir quem vive isso na prática.