Com o preço do ouro em alta, cresce nos Estados Unidos o número de pessoas que voltam a garimpar, misturando aventura, nostalgia, turismo e vídeos virais nas redes sociais
Há duas semanas, o californiano Mike Hewlett viveu uma cena digna de desenho animado. Enquanto caminhava por uma floresta na região do Monte Shasta, usando um detector de metais, o soldador de 50 anos encontrou um pequeno pedaço de ouro enterrado no cascalho — do tamanho da metade da unha do mindinho.
“Eu estava pulando para todos os lados”, contou ele, ainda empolgado com a descoberta. A pepita valia apenas US$ 175, mas, segundo Hewlett, “estava ali, à espera de ser pega”.
A volta da corrida do ouro
Nos Estados Unidos, uma nova corrida do ouro está em andamento. Em todo o país, pessoas exibem suas descobertas nas redes sociais e trocam dicas sobre os melhores locais para garimpar.
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Alguns usam panelas e picaretas antigas; outros preferem detectores modernos e caixas separadoras.
A promessa de achar uma “mina-mãe” é remota, mas o preço recorde do ouro, acima de US$ 4.000 a onça, alimenta o sonho.
“Durante todo o caminho, fico pensando que vou tirar essa maldita pepita de US$ 100.000”, disse Hewlett, entre risos.
Aulas e turismo de garimpo
O interesse crescente tem lotado cursos e atividades ligadas à mineração artesanal. A Mina de Ouro Big Thunder, na Dakota do Sul, é um exemplo.
O museu, que abriga artefatos da Corrida do Ouro de Black Hills de 1874, oferece aulas de garimpo e permite que visitantes procurem ouro em suas terras — e fiquem com o que encontrarem.
As turmas estão esgotadas, e as vendas de baldes de “terra paga”, que custam US$ 55 cada, cresceram 50% em relação ao ano anterior. “As pessoas levam para casa e sentam na garagem com uma cuba do Walmart para garimpar”, explicou a coproprietária Sandi McLain.
Com mais de três décadas no negócio, ela afirma nunca ter visto tamanha febre.
Do cascalho ao YouTube
Como nas corridas do século XIX, quem realmente lucra muitas vezes não é quem acha ouro, mas quem vende os equipamentos. E, na era digital, há outro tipo de tesouro: os vídeos.
Canais dedicados à prospecção chegam a meio milhão de inscritos no YouTube, mostrando garimpos em rios e montanhas.
O californiano Cody Blanchard, por exemplo, encontrou cerca de 170 gramas de ouro antes de transformar o hobby em um negócio. Hoje, ele vende equipamentos e organiza passeios de prospecção.
“É um vício”, admite. “A emoção de encontrar ouro na natureza é imbatível.”
Quando sobra tempo, Blanchard busca joias perdidas em parques ou mergulha em rios, onde escava o leito rochoso com snorkel.
Descobertas curiosas e encontros inusitados
Nem sempre o que aparece é ouro. Certa vez, Blanchard e amigos acharam botões antigos de uma calça Levi’s do século XIX, ainda com um pedaço de tecido preso.
Já Chris Spangler, um administrador de saúde e veterano da Marinha, viveu um susto no Deserto de Mojave.
Enquanto garimpava à noite com os filhos, foi cercado por centenas de tarântulas, atraídas pelas vibrações dos equipamentos. “Foi bizarro, mas também uma experiência única”, contou.
Hoje, Spangler vive em Sydney e compartilha as aventuras da família nas redes sociais, onde soma 430 mil seguidores.
O conteúdo rendeu cerca de US$ 30 mil — muito mais do que qualquer pepita que tenham encontrado.
O ouro e os desafios ambientais
Segundo Parker Schnabel, minerador do Alasca e estrela do programa Gold Rush, em muitos países o garimpo artesanal é um meio de subsistência.
Nos Estados Unidos, porém, as restrições ambientais tornam a mineração em grande escala mais difícil.
Mesmo assim, ele acredita que os preços altos estão mudando o cenário. “Com tanta gente enfrentando dificuldades financeiras, o ouro voltou a parecer uma chance real”, afirmou.
Schnabel destaca que a incerteza é parte da atração. “Você pode ter muita sorte e achar algo que muda sua vida se encontrar o lugar certo.”
Competição e espírito de aventura
A febre do ouro também traz competição. No Alabama, o evento anual Goldzilla reúne centenas de garimpeiros em um acampamento próximo à Geórgia.
Tudo o que é encontrado é dividido igualmente entre os participantes.
“Quanto mais gente participa, menos ouro você leva”, disse o mecânico Cannady, de 46 anos. Mesmo assim, ele planeja voltar. Pretende transformar o ouro coletado em anéis para a esposa e a filha.
Ouro e aprendizado
O fascínio também chegou às escolas. Todos os anos, alunos do quarto ano visitam o Parque Histórico Estadual Marshall Gold Discovery, na Califórnia, para aprender sobre a Corrida do Ouro.
Lá, participam de oficinas que custam US$ 10, com direito a meia hora de garimpagem e a levar para casa o que encontrarem.
A assistente sênior do parque, Cynthia Flewelling, garante que a atividade continua popular. “Mesmo com o preço do ouro disparando, a experiência de achar um floco com as próprias mãos é o que realmente brilha”, afirmou.
Com informações de Invest News.