Com menor rebanho em décadas, carne bovina dispara nos EUA e abre espaço para exportações recordes do Brasil ao mercado americano
A carne bovina se tornou o novo item de preocupação para os consumidores dos Estados Unidos. Após os ovos terem registrado alta no início do ano, agora é a vez da carne moída e de outros cortes populares pressionarem os orçamentos familiares.
Em maio, a carne moída atingiu o maior valor já registrado no país: US$ 5,98 por libra, cerca de R$ 32,34 por 454 gramas.
Esse aumento representa 16,2% a mais em relação ao mesmo mês do ano anterior. No acumulado entre janeiro e maio de 2025, o avanço já chega a 7,3%. Outros cortes também sentiram a pressão. Bifes de contrafilé e acém subiram 1,1% só no mês de maio.
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A maior parte da carne consumida nos Estados Unidos é destinada à produção de hambúrgueres. Cerca de 80% da carne bovina do país serve para esse fim.
Com o impacto direto nos custos, grandes empresas do setor reagiram. McDonald’s, Sysco e outras companhias decidiram processar os principais frigoríficos dos EUA. As ações acusam os processadores de conspirarem para elevar os preços.
Embora as empresas neguem qualquer irregularidade, algumas ações já foram encerradas com acordos milionários.
Os valores não foram oficialmente divulgados, mas o jornal The New York Times informa que chegaram à casa das dezenas de milhões de dólares.
Menor rebanho em décadas
A explicação para a escalada nos preços está na oferta limitada. O número de gado de corte nos EUA caiu para 27,9 milhões, uma redução de 13% desde 2019.
É o menor número desde a década de 1950. O total de cabeças de gado também recuou, saindo de 92,6 milhões em 2021 para 86,6 milhões atualmente, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
O analista Fernando Iglesias, da consultoria Safras & Mercado, aponta três motivos principais: custos altos, dificuldades climáticas no começo da década e a decisão de muitos pecuaristas de abater fêmeas. Isso comprometeu a capacidade de reprodução dos rebanhos.
Outro fator relevante foi a seca que atingiu a região oeste do país. Com menos pastagens disponíveis, os pecuaristas tiveram que investir mais em ração. Muitos optaram por vender parte do gado, diminuindo ainda mais o efetivo.
Além disso, a pandemia de 2020 causou o fechamento de frigoríficos e reduziu a demanda por gado, o que também impactou a cadeia de fornecimento de carne nos anos seguintes.
Recuperação lenta
Mesmo com os preços em alta, a reconstrução dos rebanhos é um processo demorado. Segundo Iglesias, são necessários dois a três anos para que um bezerro esteja pronto para o abate. Isso significa que os preços devem continuar elevados até pelo menos 2026.
O próprio USDA confirma essa projeção. A expectativa é que o preço do gado se mantenha alto em 2025, e que os valores da carne bovina no varejo sigam pressionados pelos próximos anos.
Brasil ganha espaço no mercado americano
Com a escassez interna, os Estados Unidos aumentaram suas compras de carne bovina do Brasil. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), os embarques para o mercado americano cresceram 113% no primeiro semestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024. No total, foram exportadas 181,5 mil toneladas.
A receita gerada também foi expressiva: US$ 1 bilhão, alta de 102%. O bom resultado foi obtido mesmo com uma leve queda no preço médio por tonelada.
Segundo a Abiec, o volume maior compensou a diferença e garantiu uma receita recorde para o setor.
Nem mesmo as tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump afetaram essas importações. A guerra comercial com diversos países, incluindo o Brasil, não reduziu a entrada de carne brasileira nos EUA.
Brasil pode manter liderança em 2026
A projeção é de que o Brasil continue sendo o principal fornecedor de carne bovina para os EUA no próximo ano. A avaliação é compartilhada tanto pela Abiec quanto por analistas do setor.
Para Roberto Perosa, presidente da entidade, o cenário é claro. “O ciclo pecuário americano é o menor dos últimos 80 anos, e a perspectiva é de que isso não mudará a médio prazo. Quando não se tem a carne, é preciso buscar de quem tem. E quem tem hoje no mundo é o Brasil”, afirma.
Segundo ele, o país reúne três vantagens principais: capacidade de produção, regularidade no fornecimento e preços competitivos.
Esse conjunto deve garantir a liderança brasileira no fornecimento de carne aos Estados Unidos nos próximos anos.
Com informações de Exame.