Falta de trabalhadores especializados gera aumentos salariais, atrasos em obras e estimula a terceirização como caminho viável para a sobrevivência do setor
A construção civil brasileira vive um dilema que ameaça seu crescimento: a grave escassez de mão de obra qualificada, que compromete prazos, eleva custos e desafia a produtividade dos canteiros de obra.
Embora muitos profissionais e especialistas já alertem sobre um possível “apagão de mão de obra”, os sinais concretos desse desequilíbrio estão por todos os lados.
Empresas relatam dificuldades crescentes para contratar trabalhadores capacitados. Segundo a “Sondagem da Construção”, publicada pela FGV Ibre em junho de 2024, 71,2% das construtoras enfrentaram dificuldades para contratar profissionais qualificados nos 12 meses anteriores à pesquisa.
Além disso, 39% classificaram essa dificuldade como “muito alta”, o que demonstra a gravidade da situação.
Portanto, o gargalo não é pontual. E tampouco exclusivo do Brasil.
Um estudo global da consultoria McKinsey identificou que países desenvolvidos também enfrentam essa escassez de trabalhadores no setor.
O motivo principal, conforme o levantamento, está na crise demográfica que reduz a oferta de mão de obra jovem em setores como construção civil.
Custo da mão de obra dispara e formação de profissionais não acompanha o ritmo
Enquanto o número de trabalhadores capacitados encolhe, o valor pago por eles sobe drasticamente.
Conforme dados do Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil), o custo da mão de obra aumentou 69% nos últimos dez anos.
Além disso, a formação de novos profissionais não acompanha a demanda do setor.
O ritmo das obras acelerou. Porém, a quantidade de profissionais treinados ficou para trás.
Consequentemente, empresas de todos os portes enfrentam obstáculos para manter seus cronogramas. Ao mesmo tempo, perdem produtividade e pressionam o orçamento.
Avanços tecnológicos ampliam o desafio da qualificação na construção civil
Outro fator que acentua o problema é o avanço tecnológico nos canteiros de obra.
Soluções como o BIM (Modelagem de Informação da Construção) e o uso de ferramentas digitais nas rotinas operacionais exigem conhecimento técnico mais específico.
Afinal, além do esforço físico e do conhecimento tradicional, as novas funções exigem letramento digital e domínio de softwares.
No entanto, o investimento em capacitação técnica ainda permanece abaixo do necessário.
A oferta de cursos é limitada. Além disso, as empresas acabam assumindo esse papel formador, nem sempre com tempo e orçamento suficientes.
Caminhos possíveis: automação, capacitação e terceirização
Apesar do cenário desafiador, algumas empresas estão virando o jogo.
Construtoras mais estruturadas começaram a investir em programas internos de capacitação para treinar suas equipes.
Outras optaram por automatizar processos e reduzir a dependência da força humana em tarefas repetitivas.
Contudo, a solução que mais cresce nos últimos anos é a terceirização da mão de obra qualificada.
Parcerias com empresas especializadas permitem contratar desde operários até engenheiros e supervisores, todos já treinados, com experiência prática e prontos para atuar em obras residenciais, comerciais e industriais.
Esse modelo reduz o tempo de contratação, diminui riscos e torna os custos mais previsíveis.
Nova realidade exige mentalidade flexível e estratégia de longo prazo
Portanto, o antigo modelo de contratação direta e treinamento interno começa a dar lugar a soluções mais inteligentes e integradas.
Terceirizar não é apenas uma forma de reduzir despesas, mas também uma resposta estratégica a um cenário de mudanças profundas no setor.
Em resumo, a escassez de profissionais deixou de ser apenas um obstáculo.
Ela virou um catalisador de transformação, forçando empresas a modernizar sua gestão de pessoas, otimizar processos e adotar novas tecnologias.
A construção civil brasileira, se quiser manter o ritmo de crescimento, precisará repensar sua estrutura produtiva, seus métodos de trabalho e sua relação com o capital humano.
- Considerações Por Leonardo Dahlem, co-fundador da Dahlem S.A.