Sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central transformou o uso do dinheiro no Brasil e virou modelo internacional, enquanto os Estados Unidos enfrentam atrasos e disputas políticas sobre inovações digitais.
O Brasil exporta um caso raro de política pública digital que virou padrão: o Pix.
Criado e operado pelo Banco Central, o sistema de pagamentos instantâneos se consolidou como meio de pagamento mais usado do país, com liquidação em segundos e custo zero para pessoas físicas.
Enquanto isso, os Estados Unidos avançam mais lentamente com o FedNow e discutem restrições a uma moeda digital do banco central.
-
A obra de R$ 1 bilhão que pode revolucionar as rodovias deste estado brasileiro
-
Receita Federal vai exigir CPF de cotistas: regra muda fundos e agita economia em 2026
-
O fim da rodoviária que virou uma ‘cidade’ e deixa mina em disputa
-
Governo Lula prevê queda nos juros e estima menor inflação em 30 anos: dólar estável e superavit impulsionam cenário
O contraste reacendeu a disputa regulatória: em julho de 2025, o governo americano abriu uma investigação comercial que cita o ambiente de pagamentos brasileiro — incluindo o Pix — entre os focos do inquérito.
Conforme Atila Iamarino afirmou em vídeo publicado no canal Atila Iamarino no YouTube, a eficiência do Pix ajuda a explicar por que ele virou “exemplo mundial”, ao combinar infraestrutura pública, adoção massiva e custo baixo para o usuário final.
Segundo ele, o sucesso evidencia como uma solução de interesse público pode organizar um mercado antes fragmentado por tarifas e fricções típicas de cartões e transferências tradicionais.
Como o Pix ganhou escala e virou referência
Lançado em novembro de 2020 após dois anos de desenho formal, o Pix unificou regras, chaves e mensagens em uma infraestrutura central neutra, gerida pelo Banco Central e operando 24 horas por dia.
O resultado foi um salto de volume e capilaridade.
Em 2025, o sistema bateu novos recordes diários de transações, consolidando-se como padrão de pagamentos do varejo no país.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Pix reúne características de desenho que favorecem a adoção rápida: abertura a bancos e fintechs, liquidação imediata e custos baixos.
Em 2023, estudo do FMI descreveu o Pix como caso de sucesso em pagamentos instantâneos, destacando a interoperabilidade e o papel da regulação pró-competição.
Como enfatizou Atila Iamarino, essa arquitetura permitiu que milhões de brasileiros passassem a pagar pequenas quantias digitalmente, algo que cartões e transferências tradicionais nem sempre viabilizam com conforto.
Ele observou ainda que o Pix ampliou a inclusão financeira, ao “trazer o celular para o centro” do uso bancário cotidiano, movimento também reconhecido pelo FMI e pelo Banco Central.
EUA: FedNow avança, mas sem a mesma adesão
Nos Estados Unidos, o FedNow — serviço de pagamentos instantâneos do Federal Reserve — foi lançado em julho de 2023, com adesão gradual de instituições financeiras.
Dois anos depois, a adoção seguia em expansão, mas muito aquém da penetração do Pix no Brasil.
Enquanto o Pix se popularizou rapidamente no varejo, o FedNow avança de forma mais lenta, em parte por depender da adesão voluntária dos bancos e coexistir com outras redes privadas.
Como destacou Atila Iamarino, pesa também o contexto regulatório americano.
Em 2025, a Câmara dos Representantes aprovou o Anti-CBDC Surveillance State Act, projeto que busca proibir o Federal Reserve de emitir uma moeda digital de varejo, restringindo inclusive estudos e testes.
A tramitação reflete um debate político acalorado sobre privacidade e o papel do Estado em meios de pagamento digitais.
O atrito comercial: de Brasília a Washington
Em julho de 2025, o USTR (escritório do Representante de Comércio dos EUA) abriu uma investigação sob a Seção 301 para apurar práticas brasileiras consideradas desvantajosas ao comércio americano.
Entre os temas listados estão serviços de pagamento eletrônico e políticas digitais.
O governo brasileiro respondeu em agosto com um documento de 91 páginas defendendo a neutralidade do modelo do Pix e contestando as alegações de discriminação.
O Banco Central reforçou publicamente que não compete com o mercado, mas oferece infraestrutura pública aberta, o que, na avaliação oficial, aumenta a competição.
Segundo Atila Iamarino, o inquérito americano é um sinal da relevância global do Pix — e de como um sistema público, gratuito e onipresente pressiona modelos baseados em tarifas.
Ele ainda comentou que o sucesso do Pix expôs a eficiência de uma infraestrutura pública bem desenhada, em contraposição a arranjos privados mais caros e menos interoperáveis.
Impacto econômico e social no Brasil
A adoção do Pix alterou o mix de pagamentos no varejo e na vida cotidiana.
Pesquisas e comunicados oficiais indicam que ele superou cartões e dinheiro como método preferencial em várias situações.
Em 2025, o Banco Central avançou na oferta de pagamentos recorrentes, conhecidos como Pix automático, abrindo caminho para parcelamentos e assinaturas diretas.
Como observou Atila Iamarino, a massificação traz desafios: golpes e fraudes exigem respostas contínuas de bancos, regulador e usuários.
Mesmo assim, o ganho líquido para inclusão, conveniência e custo permanece elevado, com percepção pública de vantagem em segurança e usabilidade.
Além das fronteiras: onde o Pix já aparece
Fora do Brasil, o Pix não opera como transferência internacional entre contas, mas comerciantes em Portugal e na França já aceitam pagamentos via Pix por meio de adquirentes locais.
Nesses casos, o consumidor paga em reais, o lojista recebe em euros e há conversão automática.
No plano geopolítico, os BRICS discutem alternativas para pagamentos entre países, reduzindo a dependência do dólar.
Por ora, são iniciativas de interoperabilidade entre sistemas nacionais e uso de moedas locais, ainda sem uma plataforma única.
O que explica a “invejinha” americana
Para Atila Iamarino, a “invejinha” decorre do contraste: o Brasil criou uma infraestrutura pública eficiente, enquanto os EUA mantêm redes privadas com adoção desigual e entraves políticos.
Ele destacou que o Pix barateia transações, atrai novos usuários e estimula a concorrência entre bancos e fintechs.
Por fim, a investigação americana tende a manter o tema no radar internacional.
Caso deságue em medidas unilaterais, o contencioso deve migrar para a OMC.
Independentemente disso, o Pix já cristalizou uma lição: infraestrutura pública aberta e interoperável pode acelerar a digitalização e melhorar a vida do usuário sem inviabilizar a inovação privada.
Resta saber quantos países — e quais — optarão por seguir esse caminho nos próximos anos, inclusive os Estados Unidos.
Se você pudesse mudar uma regra no seu meio de pagamento preferido hoje, qual seria a prioridade: reduzir tarifas, ampliar a interoperabilidade ou reforçar a proteção contra golpes?



Seja o primeiro a reagir!