A ascensão do yuan pode mudar o comércio global e afetar o câmbio, importações e exportações do Brasil. Entenda como a moeda chinesa desafia o dólar e o que isso significa para o seu bolso
O yuan, moeda oficial da China, deixou de ser apenas um símbolo do gigante asiático e está se tornando um protagonista silencioso no comércio internacional. Nos últimos anos, Pequim tem trabalhado para internacionalizar sua moeda, criando mecanismos para que países negociem diretamente em yuan, sem depender do dólar. A mudança parece distante do dia a dia do brasileiro, mas tem implicações diretas: do preço do arroz importado ao custo de um celular, tudo pode ser impactado se o yuan ganhar espaço no cenário global.
China desafia a hegemonia do dólar no comércio internacional
Há décadas, o dólar é a moeda que dita o ritmo do comércio mundial. Mais de 80% das transações globais são feitas em dólares, e a maioria dos contratos de petróleo, soja, minério e produtos tecnológicos está atrelada à moeda americana.
Mas a China, maior exportadora do planeta, está mudando o jogo. Em 2023, o yuan entrou oficialmente no top 5 das moedas mais usadas em transações internacionais, ultrapassando o euro em alguns momentos no sistema SWIFT, que monitora pagamentos globais.
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Essa escalada não aconteceu por acaso. A China vem criando acordos bilaterais para facilitar pagamentos em sua própria moeda.
O Brasil já faz parte desse movimento: em 2023, o Banco Central e o Banco do Povo da China firmaram um acordo que permite que exportadores e importadores brasileiros fechem negócios diretamente em yuan, sem a conversão para o dólar.
O que muda no comércio do Brasil com a China?
Hoje, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Só em 2024, foram mais de US$ 157 bilhões em trocas comerciais, com destaque para soja, petróleo, minério de ferro e carne.
Tradicionalmente, essas transações eram feitas em dólar, o que significa que, mesmo quando um produtor brasileiro vendia soja para a China, o pagamento passava por Nova York antes de chegar ao Brasil.
Com o yuan mais presente, isso muda. Empresas podem negociar diretamente com bancos chineses, evitando a dupla conversão (real-dólar-yuan). Na prática, isso reduz custos de operação, pode baratear importações e, em alguns casos, até diminuir a volatilidade do câmbio. Mas também levanta uma questão estratégica: o Brasil passa a depender mais de uma moeda controlada rigidamente pelo governo chinês.
Yuan forte, dólar fraco? O impacto no bolso do brasileiro
A discussão sobre a “desdolarização” do comércio internacional costuma soar distante, mas tem reflexos concretos na economia doméstica. Se mais países passarem a usar o yuan em grandes transações, a demanda global pelo dólar pode diminuir, e isso tende a influenciar o câmbio no mundo inteiro.
Para o brasileiro, isso significa duas coisas:
- Importações podem ficar mais baratas – se a negociação em yuan reduzir custos, o preço de eletrônicos, peças de carros, celulares e insumos agrícolas pode cair.
- Mais dependência de uma moeda estatal – o yuan não é totalmente livre, como o dólar ou o euro. O governo chinês controla seu valor, e decisões políticas em Pequim podem ter efeito imediato nas transações do Brasil.
Especialistas alertam que essa “nova dependência” pode trazer riscos. “Ao negociar em yuan, o Brasil ganha eficiência, mas também se expõe ao humor e às estratégias de política monetária chinesa”, diz um economista do Insper.
A geopolítica do yuan: muito além do comércio
Por trás da discussão técnica, existe uma disputa de poder. Ao internacionalizar o yuan, a China não quer apenas economizar taxas de conversão: quer reduzir a influência dos EUA sobre o sistema financeiro mundial.
O dólar é usado não só para comércio, mas também como arma política. Sanções americanas, como as impostas a Rússia, Venezuela e Irã, só são eficazes porque o dólar domina as transações globais.
Se o yuan avançar, os EUA perdem parte desse poder. E a China ganha espaço para financiar projetos, oferecer crédito a países e até criar uma rede de aliados comerciais menos vulneráveis a Washington.
E o Brasil, como fica nesse xadrez?
O Brasil está numa posição estratégica. Somos um dos maiores fornecedores de alimentos e energia para a China, e agora temos um canal direto em yuan. Isso pode fortalecer a relação bilateral, atrair investimentos e dar mais estabilidade a exportadores.
Por outro lado, há o risco de concentração: hoje mais de 30% das exportações brasileiras vão para a China, e se o yuan se tornar a principal moeda dessas transações, o país pode ficar excessivamente exposto às decisões de Pequim.
Ainda é cedo para dizer se o yuan vai substituir o dólar como a moeda global. Mas o movimento já começou: bancos brasileiros oferecem contas em yuan, importadores estão fechando contratos diretamente na moeda chinesa, e gigantes do agronegócio e do setor de energia já operam sem a intermediação do dólar.
Para o consumidor comum, os efeitos serão graduais – talvez o próximo celular importado saia um pouco mais barato, ou o preço de insumos agrícolas fique mais estável. Mas a discussão é maior do que isso: é sobre quem vai ditar as regras do comércio global nas próximas décadas.
Se o dólar foi a língua franca do século XX, o yuan está tentando ser a do século XXI. E o Brasil, como parceiro-chave dos dois gigantes, vai sentir essa transformação no bolso, na balança comercial e na sua própria soberania econômica.
Esqueceu de dizer que 1,78 trilhões de dolares circulando no mundo são iguais a cheque sem fundo