Desigualdade econômica divide o Rio Grande do Sul entre duas realidades, com o Norte se destacando pelo dinamismo industrial e agrícola, enquanto o Sul enfrenta desafios históricos de desenvolvimento. Entenda os fatores e impactos dessa diferença regional.
O Rio Grande do Sul, reconhecido nacionalmente pela forte presença da cultura europeia e pela relevância no agronegócio, ocupa uma posição de destaque entre as economias estaduais do Brasil.
Com um Produto Interno Bruto (PIB) estimado em mais de R$ 600 bilhões, segundo dados de 2024 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado apresenta uma marcante disparidade regional: enquanto o Norte se destaca pelo dinamismo econômico, inovação agrícola e alta urbanização, o Sul enfrenta desafios como baixo crescimento, êxodo populacional e limitada diversificação produtiva.
COnforme um vídeo do canal Sem Economês, a explicação para essa diferença passa, necessariamente, pela análise histórica, geográfica e econômica das duas regiões.
-
Weg aposta R$ 160 milhões no ES. O que está por trás desse investimento milionário?
-
Entrou em vigor nesse mês: Estado aprova salário mínimo regional até R$ 2.267, um dos maiores do Brasil
-
Férias antecipadas podem virar dor de cabeça se você ignorar essa regra da CLT
-
Governo do ES lança licitação para mega obra de R$ 228 milhões na Serra
No Norte, cidades como Passo Fundo, Erechim, Caxias do Sul, Bento Gonçalves e São Leopoldo concentram os principais polos industriais, atividades logísticas, financeiras e agroindustriais do estado.
Por outro lado, no Sul, municípios como Pelotas, Rio Grande e Bagé permanecem mais dependentes da pecuária extensiva e de setores econômicos menos diversificados, o que limita o desenvolvimento local e o potencial de geração de renda e empregos.
Formação histórica da desigualdade no Rio Grande do Sul
Para compreender as razões pelas quais o Norte do Rio Grande do Sul é mais rico do que o Sul, é preciso voltar à formação do território gaúcho, especialmente a partir do século XIX, quando o governo brasileiro incentivou a imigração europeia, principalmente de alemães e italianos.
Esses imigrantes foram direcionados para áreas do Norte do estado, onde se dedicaram à agricultura familiar em pequenas propriedades, promovendo a diversificação da produção e o surgimento de novos nichos de mercado.
Conforme o canal, a organização em cooperativas, como Cotrijal, Aurora e Copermil, permitiu que a produção agrícola se integrasse rapidamente à indústria local e à exportação.
Enquanto isso, o Sul permaneceu fiel ao modelo tradicional de ocupação, marcado por grandes latifúndios destinados à pecuária, favorecidos pela topografia plana e pelas vastas áreas de pastagem.
O modelo pecuarista, caracterizado por baixa produtividade e pouca demanda de mão de obra, contribuiu para a manutenção de baixa densidade populacional e pouco dinamismo econômico.
Esse cenário dificultou a diversificação de atividades econômicas e restringiu o surgimento de setores industriais relevantes na região.
Agricultura, indústria e crescimento econômico no Norte gaúcho
A partir da década de 1970, a chamada Revolução Verde impulsionou o avanço tecnológico no campo, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do estado.
Novas tecnologias, acesso ao crédito rural e a crescente demanda internacional por grãos estimularam a produção de soja, milho, trigo e feijão.
O Norte gaúcho, beneficiado por pequenas propriedades familiares e forte atuação de cooperativas, liderou a expansão da produção agrícola, agregando valor com o processamento de alimentos, laticínios, carnes e bebidas.
A urbanização acelerada dessas cidades interioranas, aliada ao crescimento populacional, promoveu investimentos em infraestrutura, como estradas, escolas, energia e logística.
Com isso, ainda segundo o canal citado, a região experimentou melhorias significativas nos indicadores sociais, qualidade de vida e acesso a serviços públicos.
No Sul, o ritmo de modernização foi mais lento.
A economia permaneceu dependente da pecuária extensiva, que, além de exigir pouca mão de obra, oferece baixa agregação de valor à cadeia produtiva local.
A falta de diversificação e inovação tecnológica dificultou a integração do Sul às cadeias industriais e à dinâmica dos mercados internacionais.
Dados e impactos da desigualdade regional
De acordo com estudos do IBGE e da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE), desde o início dos anos 2000, o Norte e regiões adjacentes, como Serra, Planalto Médio e Hortênsias, respondem por mais de 37% do PIB estadual, excluindo a capital Porto Alegre e região metropolitana.
Ao mesmo tempo, as regiões Centro-Sul, Campanha e Fronteira Oeste, todas no Sul, somam pouco mais de 13% da economia gaúcha.
Além disso, o crescimento populacional no Norte superou em mais de 60% o observado no Sul entre as décadas de 1930 e 1980, refletindo o maior dinamismo econômico dessas áreas.
O aumento da arrecadação municipal e os investimentos em infraestrutura consolidaram a posição do Norte como motor da economia estadual, com destaque para setores como alimentos, metalurgia, vinhos, móveis e têxteis.
A proximidade do Norte com os principais corredores logísticos do país, especialmente as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, facilita a integração produtiva e a exportação para mercados nacionais e internacionais.
Já o Sul, apesar de contar com portos estratégicos como o de Rio Grande, não conseguiu converter sua estrutura logística em diversificação econômica robusta.