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Por que o minério brasileiro é cobiçado pela China mesmo com preço recorde? Entenda a qualidade “premium” que só existe no Brasil

Escrito por Valdemar Medeiros
Publicado em 01/07/2025 às 11:58
Por que o minério brasileiro é cobiçado pela China mesmo com preço recorde? Entenda a qualidade “premium” que só existe no Brasil
Foto: Minério de ferro
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Descubra por que a China paga mais pelo minério de ferro brasileiro, mesmo com preços recordes. A pureza do produto nacional é um trunfo global.

Poucas pessoas sabem, mas o Brasil esconde sob seus pés uma das riquezas mais disputadas do planeta. Trata-se de um tipo especial de minério de ferro, com um grau de pureza que poucas nações conseguem produzir — e que se tornou peça-chave na engrenagem da indústria chinesa. Mesmo com preços internacionais em alta, a China não abre mão de importar esse recurso brasileiro, pagando mais por uma matéria-prima que entrega mais performance, sustentabilidade e eficiência. Mas afinal, o que torna o minério brasileiro tão especial? E por que ele é considerado “premium”?

O que significa um minério de ferro “premium”?

O minério de ferro é um dos principais insumos para a produção de aço, utilizado em setores como construção civil, automóveis, infraestrutura e naval. Mas nem todo minério é igual. O fator que define sua qualidade é o teor de ferro (Fe): quanto maior a concentração, menos impurezas e menos energia são necessárias para transformá-lo em aço.

Enquanto minérios comuns apresentam entre 56% e 62% de Fe, o minério da Vale, principalmente o extraído na região de Carajás (PA), atinge até 66,5% de pureza. Isso o coloca na categoria dos chamados minérios “premium”, que são mais valorizados no mercado internacional por exigirem menos beneficiamento, gerarem menos rejeitos e proporcionarem maior rendimento por tonelada.

Segundo a própria Vale, produtos como o BRBF (Brazilian Blend Fines) e o IOCJ (Iron Ore Carajás) são os mais procurados do portfólio por suas propriedades superiores e estabilidade na composição.

O interesse da China pelo minério brasileiro

A China é, de longe, o maior produtor de aço do mundo — e também o maior importador de minério de ferro. Em 2023, o país asiático consumiu mais de 1 bilhão de toneladas de minério, sendo cerca de 20% desse volume proveniente do Brasil, conforme dados do IBRAM (Instituto Brasileiro de Mineração).

Mesmo com o aumento nos preços, que chegaram a superar US$ 130 por tonelada em alguns períodos, os chineses continuaram comprando o minério da Vale e de outras mineradoras brasileiras. O motivo? Uma equação simples: mais pureza = mais produtividade + menos poluição.

Eficiência energética e ambiental na produção do aço

Um dos grandes desafios da China tem sido reduzir suas emissões de CO₂, especialmente no setor siderúrgico, que responde por aproximadamente 15% das emissões industriais do país. Ao utilizar um minério com alta concentração de ferro, como o brasileiro, os altos-fornos operam com maior eficiência, queimam menos carvão e produzem menos escória e CO₂ por tonelada de aço gerado.

Na prática, isso significa que a China gasta menos energia e emite menos poluentes ao usar minério brasileiro em vez de minérios de menor teor, como os encontrados na Índia, na África ou na própria China.

Em entrevista ao Valor Econômico, executivos da Vale explicaram que o foco da empresa tem sido justamente atender à demanda por minérios com alto valor agregado, alinhados às metas de descarbonização do mercado asiático. Isso reforça a posição do Brasil não apenas como fornecedor de volume, mas de qualidade estratégica.

A geologia brasileira e a mina que mudou o jogo

O diferencial do Brasil começa na própria geologia. A região de Carajás, no Pará, abriga o que é considerado o maior e mais puro depósito de minério de ferro do mundo. Trata-se do chamado S11D, projeto inaugurado em 2016 com um investimento de mais de US$ 14 bilhões.

Além da qualidade excepcional do minério, o projeto incorporou tecnologias sustentáveis de extração, como correias transportadoras ao invés de caminhões, e beneficiamento a seco, que dispensa o uso de barragens de rejeito. Isso elevou ainda mais o apelo ambiental do produto.

Minas como Itabira (MG) e Brucutu também produzem minérios de alto teor, mas Carajás lidera em pureza, escala e logística.

Infraestrutura e logística a favor do Brasil

Outro ponto que favorece a preferência da China é a infraestrutura logística do Brasil. A Vale opera um sistema integrado de ferrovias e portos que permite transportar o minério com agilidade da mina até o oceano Atlântico, por meio de corredores como a Estrada de Ferro Carajás (EFC) e o porto de Ponta da Madeira, em São Luís (MA) — um dos mais eficientes do mundo para exportação de granéis sólidos.

Além disso, a mineradora criou o conceito do “Brazilian Blend”, uma mistura de diferentes minérios nacionais para padronizar a qualidade e facilitar a entrega em portos chineses.

Preço mais alto, mas custo-benefício garantido

Mesmo com os preços do minério de ferro em alta, o produto premium brasileiro continua sendo um bom negócio para a China. O motivo é que o custo-benefício se mantém: para cada tonelada de aço produzida com minério de maior pureza, há economia de carvão, energia e transporte, além de redução das multas ambientais e metas de emissões.

É por isso que, nos contratos de longo prazo, as siderúrgicas chinesas não só aceitam pagar mais pelo minério brasileiro, como muitas vezes dão preferência absoluta ao seu uso, especialmente em produtos de maior valor agregado.

O risco de dependência e os movimentos estratégicos

Claro que essa relação também levanta alertas. A China vem tentando diversificar seus fornecedores para reduzir a dependência da Austrália e do Brasil — seus dois principais parceiros. Há investimentos em países como Guiné, África do Sul e Canadá, além de projetos internos de reprocessamento de rejeitos.

Por outro lado, o Brasil continua sendo um parceiro estratégico, tanto pela estabilidade jurídica e ambiental quanto pela eficiência logística e qualidade do minério. O “made in Brazil” tem peso no mercado internacional do aço.

Em um mundo que busca cada vez mais produtividade e sustentabilidade, o minério de ferro premium brasileiro funciona como um “petróleo sólido” — uma commodity com alto valor estratégico e tecnológico. Para a China, ele é mais que matéria-prima: é uma vantagem competitiva.

A capacidade do Brasil em manter essa qualidade e abastecimento será determinante para sua relevância econômica nas próximas décadas, especialmente diante da transição energética e das novas exigências ambientais da indústria global.

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Valdemar Medeiros

Formado em Jornalismo e Marketing, é autor de mais de 20 mil artigos que já alcançaram milhões de leitores no Brasil e no exterior. Já escreveu para marcas e veículos como 99, Natura, O Boticário, CPG – Click Petróleo e Gás, Agência Raccon e outros. Especialista em Indústria Automotiva, Tecnologia, Carreiras (empregabilidade e cursos), Economia e outros temas. Contato e sugestões de pauta: valdemarmedeiros4@gmail.com. Não aceitamos currículos!

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