A transformação das águas da Terra em oceanos salgados é resultado de bilhões de anos de reações químicas, atividade vulcânica e movimentação tectônica que moldaram a composição atual dos mares e permitiram o surgimento da vida.
Os oceanos, que cobrem cerca de 70% da superfície do planeta, nem sempre foram salgados.
Há bilhões de anos, as primeiras águas da Terra eram essencialmente doces, formadas por chuvas intensas que se acumularam nas depressões do terreno.
A transformação dessa água doce em mares minerais foi lenta e constante, impulsionada pela química da crosta terrestre e pela energia vinda do interior do planeta.
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O nascimento dos oceanos
Cientistas estimam que a formação dos primeiros oceanos ocorreu há mais de 4 bilhões de anos, quando a atmosfera primitiva da Terra, densa e carregada de gases, começou a se resfriar.
Nesse processo, o vapor d’água condensou e provocou chuvas torrenciais que duraram milhões de anos, dando origem aos primeiros corpos de água.
Esses mares iniciais, porém, não tinham o gosto salgado que conhecemos hoje.
O sal surgiu aos poucos.
A chuva ácida, ao cair sobre as rochas, dissolvia minerais e elementos químicos como o sódio e o potássio, que eram transportados pelos rios em direção ao mar.
Ao mesmo tempo, os vulcões ativos liberavam cloreto e outros compostos diretamente na atmosfera e nos oceanos.
A combinação desses dois elementos — sódio e cloreto — resultou no cloreto de sódio, o sal comum, que passou a se acumular nas águas marinhas.
A química que moldou o planeta
A salinidade dos oceanos foi construída ao longo de centenas de milhões de anos.
Fontes hidrotermais — verdadeiros gêiseres submarinos — também tiveram papel importante, liberando metais e minerais das profundezas do planeta para a água do mar.
Essa troca constante entre o interior da Terra e os oceanos criou um equilíbrio químico que ainda se mantém.
Se todo o sal dissolvido nos mares fosse retirado e espalhado sobre os continentes, formaria uma camada de cerca de 150 metros de altura, uma demonstração da imensa quantidade de minerais acumulados ao longo das eras.
O sal não é apenas um detalhe do oceano: ele é essencial para a vida.
A salinidade regula processos biológicos fundamentais, como a osmorregulação celular e a condução de impulsos nervosos.
Sem ela, os ecossistemas marinhos seriam radicalmente diferentes — talvez inviáveis.
O papel das rochas, rios e vulcões
O ciclo da água é o grande responsável por manter o equilíbrio mineral dos oceanos.
Quando a chuva atinge as montanhas e os solos, dissolve partículas minerais e as transporta pelos rios até o mar.
Esses cursos d’água funcionam como veias da Terra, carregando sais e nutrientes que sustentam a vida marinha.
Rios gigantescos, como o Amazonas, despejam bilhões de toneladas de minerais nos oceanos a cada ano.
No entanto, isso não significa que os mares fiquem mais salgados com o tempo.
Há mecanismos naturais que equilibram essa entrada constante de sais.
O equilíbrio entre adição e remoção
Parte dos sais dissolvidos é retirada do sistema quando se deposita no fundo oceânico, formando sedimentos minerais.
Outra parcela é absorvida por organismos marinhos, que usam esses elementos para construir conchas, esqueletos e estruturas biológicas.
Essa dinâmica mantém o oceano em equilíbrio, impedindo que sua salinidade cresça indefinidamente.
O oceano, portanto, é um sistema vivo e em constante transformação.
Cada gota de chuva e cada rio que deságua no mar participam de um ciclo contínuo, que redistribui minerais e regula a composição química das águas.
Tectonismo e o sal dos mares
O movimento das placas tectônicas também influencia diretamente a salinidade.
Quando as placas se chocam, criam montanhas e expõem novas rochas à erosão, ampliando a liberação de minerais.
Já nas zonas de subducção, parte do material oceânico — inclusive sais — é empurrada de volta ao interior da Terra, onde pode ser reciclada.
Esse processo funciona como um sistema planetário de reciclagem, moldando o clima, a geologia e a própria vida.
A chamada “dança tectônica” é uma das principais responsáveis por manter o equilíbrio químico dos oceanos.
Vida em um ambiente salgado
Viver em água salgada representa um desafio biológico.
Os peixes marinhos precisam beber a água do mar e eliminar o excesso de sal através de células especializadas e rins eficientes.
Plantas de manguezais excretam sal por glândulas nas folhas ou filtram o mineral nas raízes.
Mamíferos marinhos, como baleias, obtêm água dos alimentos e também têm mecanismos fisiológicos adaptados à salinidade.
Cada organismo desenvolveu soluções únicas para sobreviver nesse ambiente.
O oceano é um laboratório natural de adaptações evolutivas, onde a vida transformou desafios químicos em oportunidades de sobrevivência.
As profundezas e suas estratégias extremas
Nas regiões abissais, a pressão, o frio e a ausência de luz moldaram seres notáveis.
Peixes como o diabo negro produzem luz própria para caçar e se comunicar.
Outros apresentam o chamado gigantismo abissal, que permite resistir à escassez de alimento e às baixas temperaturas.
Muitos nem sequer têm bexiga natatória; seus corpos gelatinosos e leves flutuam naturalmente sob alta pressão.
Essas adaptações extremas mostram como a vida se diversificou a partir do sal que domina os mares.
O futuro da água: dessalinizar o oceano
Com 97% da água do planeta sendo salgada, transformar o mar em fonte potável é um dos maiores desafios tecnológicos do século.
A dessalinização, especialmente por osmose reversa, é hoje o método mais usado.
O processo pressiona a água salgada por uma membrana que separa o sal das moléculas de H₂O.
Países como Israel já obtêm boa parte de sua água potável a partir do mar, mas o custo energético ainda é alto.
Novas soluções, como membranas de grafeno e dessalinização solar, buscam reduzir gastos e impactos ambientais.
O objetivo é tornar o processo sustentável e acessível, evitando que o descarte de salmoura prejudique ecossistemas marinhos.
Um oceano em mudança
O estudo da química dos mares ajuda a entender mudanças climáticas e a história da Terra.
Hoje, o derretimento de geleiras e o aumento da temperatura global estão alterando a salinidade e as correntes oceânicas, com efeitos que se refletem em todo o planeta.
Proteger os oceanos é essencial para garantir o equilíbrio ambiental e o futuro da água potável.
Afinal, o gosto salgado do mar é mais do que uma característica física: é o registro vivo da história do planeta e da própria vida na Terra.
Como o ser humano vai equilibrar o uso desse recurso vital e o respeito ao oceano que o sustenta?



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