O combustível que já foi sinônimo de economia no Brasil perdeu espaço nas ruas. A combinação de burocracia, custos e novas tecnologias mudou o cenário e expôs como uma das alternativas mais baratas acabou esquecida pelo país.
O GNV perdeu espaço nas ruas brasileiras após uma década de expansão, pressionado por exigências regulatórias, custos crescentes e mudanças no mercado automotivo.
O combustível, que já figurou entre as alternativas mais econômicas do país, viu sua vantagem diminuir diante do avanço dos motores flex, da redução de incentivos estaduais e de novas regras que encareceram a conversão e a manutenção.
O resultado é uma frota concentrada em nichos profissionais e uma rede de abastecimento que deixou de crescer no mesmo ritmo.
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Do auge à queda do GNV no Brasil
A transformação começou no fim dos anos 1990, quando o gasoduto Brasil–Bolívia, inaugurado em 1999, ampliou a oferta de gás natural.
Segundo reportagem publicada pelo canal Maestria dos Negócios, a Petrobras, comprometida por contratos que exigiam pagamento pelo insumo mesmo sem consumo, buscou alternativas para ampliar o uso interno.
O setor de transportes foi identificado como uma das principais oportunidades.
Entre 2003 e 2005, a política de preço-teto para o gás manteve o combustível competitivo.
Embora o investimento no kit de conversão fosse alto, o retorno era rápido para motoristas de grande quilometragem, como taxistas e frotistas.
No Rio de Janeiro, medidas estaduais reduziram ICMS e IPVA, impulsionando o número de conversões e de postos.
São Paulo e outros estados adotaram incentivos menores, mas também contribuíram para o crescimento do mercado.
Expansão industrial e impacto na infraestrutura de energia
O GNV passou a ser incorporado de forma mais ampla.
Montadoras testaram versões de fábrica, como o Siena adaptado para gás.
De acordo com apuração do canal Maestria dos Negócios, a expansão da rede de abastecimento teve impacto além da mobilidade: cada novo posto ajudava a justificar a ampliação do sistema de gás canalizado para regiões antes não atendidas.
Em meados dos anos 2000, o Brasil figurava entre os maiores mercados mundiais, com centenas de milhares de veículos convertidos, principalmente no Sudeste.
Segundo especialistas do setor, o GNV se consolidou naquele período como uma das alternativas mais acessíveis e sustentáveis para o transporte urbano.
O peso da burocracia e o aumento dos custos
A partir de 2007, o cenário mudou.
A Resolução 262 do Contran tornou obrigatória a inspeção anual de segurança para veículos convertidos.
A medida foi criada para evitar acidentes, mas trouxe novos custos e prazos para os motoristas.
Além disso, a requalificação do cilindro a cada cinco anos, exigindo retirada do equipamento e inspeção em empresas credenciadas, aumentou o custo de manutenção.
O impacto se intensificou em 2022, com a Portaria 133 do Inmetro, que fixou prazo de validade para cilindros conforme o ano de fabricação, mesmo que aprovados em testes.
Segundo o canal Maestria dos Negócios, a mudança elevou as despesas e reduziu a atratividade econômica do combustível, especialmente entre motoristas que dependiam do GNV para reduzir custos operacionais.
Reação do mercado e mudanças no perfil de uso
Com as novas exigências e o aumento de custos, parte dos motoristas deixou de manter o registro e as inspeções em dia.
Oficinas especializadas também enfrentaram dificuldades para cumprir as normas e muitas encerraram as atividades.
O preço do kit de conversão subiu, enquanto o valor do metro cúbico de gás aumentou nas principais capitais.
O canal Maestria dos Negócios também apontou que o uso do GNV passou a se concentrar em motoristas de aplicativo e frotas corporativas, para quem o volume de rodagem ainda justificava o investimento.
Segundo entidades do setor, a queda nas conversões reduziu a renovação da frota e impactou diretamente a abertura de novos postos.
O avanço dos carros flex e o declínio do gás veicular
Enquanto o GNV enfrentava obstáculos regulatórios, a indústria automotiva consolidava outra tendência.
A tecnologia flex tornou-se padrão a partir da década de 2010, permitindo ao usuário escolher entre gasolina e etanol sem custos adicionais de adaptação.
Segundo analistas de mercado, essa praticidade tornou os carros flex mais atrativos e reduziu a procura pelo gás natural veicular.
A partir de 2015, os incentivos estaduais ao GNV perderam força, e o tema deixou de figurar nas prioridades da política energética nacional.
Montadoras concentraram investimentos em híbridos e elétricos, enquanto o gás veicular perdeu protagonismo em planos de longo prazo.
Especialistas apontam que a falta de coordenação entre políticas ambientais e de mobilidade contribuiu para o esvaziamento do setor.
GNV no mundo e a oportunidade do biometano
Enquanto o Brasil reduzia o espaço do GNV, segundo o canal Maestria dos Negócios, países como Argentina e Itália mantiveram o gás como componente estratégico de suas matrizes veiculares, com redes de abastecimento robustas e frotas ativas.
No cenário nacional, o destaque recente é o biometano, gás equivalente ao natural, mas de origem renovável e produzido a partir de resíduos urbanos e agrícolas.
Distribuidoras passaram a injetar biometano na rede, mas, conforme técnicos do setor, a ausência de um plano nacional que integre o GNV e o biometano a programas de incentivo limita a expansão para veículos leves.
Os novos investimentos previstos em infraestrutura de abastecimento tendem a priorizar o transporte pesado e o uso industrial.
Custos, economia e a redução da vantagem
O custo do GNV depende de três fatores principais: investimento inicial, preço do metro cúbico e gastos com inspeções e certificações.
Com o aumento do gás e a maior frequência das verificações obrigatórias, a diferença de preço por quilômetro rodado diminuiu frente à gasolina e ao etanol.
Especialistas afirmam que, mesmo quando a vantagem persiste, o tempo de retorno financeiro se tornou longo para quem utiliza o veículo apenas de forma moderada.
Ainda assim, motoristas de alta quilometragem continuam a considerar o GNV vantajoso, especialmente em trajetos urbanos curtos e previsíveis.
De acordo com o setor, essa permanência mostra que o combustível mantém relevância em nichos específicos, embora distante do patamar que já ocupou no mercado.
Falta de coordenação e o futuro do gás veicular
No auge, o GNV conectou indústria, postos, distribuidoras e governos estaduais.
Especialistas afirmam que, com o tempo, a falta de coordenação entre políticas de segurança e de competitividade comprometeu o equilíbrio econômico do setor.
A ausência de previsibilidade tributária e de uma estratégia clara para o papel do gás na transição energética limitou seu potencial de expansão.
Com o avanço do biometano e dos combustíveis alternativos, a principal questão agora é se o país poderá reintegrar o gás veicular à política energética de forma estável, com regras proporcionais ao risco e incentivos capazes de recuperar sua competitividade.



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