Entenda como o preço da gasolina, o preço dos combustíveis e a política de preços da Petrobras ligam a gasolina no Brasil ao petróleo no Brasil e ao cenário externo.
O preço da gasolina no Brasil é resultado de uma soma complexa de fatores internos e externos, que vão muito além da bomba do posto e da Petrobras. Do custo para tirar o petróleo debaixo do mar até a carga de impostos, passando pela cotação do dólar, pela geopolítica e pelas limitações das refinarias nacionais, cada etapa adiciona um peso ao valor final.
Na prática, todo aumento no preço da gasolina espalha impacto por toda a economia, porque quase tudo o que consumimos é transportado por caminhões, carros ou motos movidos a combustíveis fósseis. Quando o combustível encarece, o frete sobe e isso aparece no preço dos alimentos, dos serviços e de praticamente qualquer produto. Entender por que o litro é tão caro ajuda a enxergar por que soluções simples, como “produzir mais petróleo”, não resolvem o problema estrutural.
De onde vem a gasolina e como o petróleo entra na conta
Para entender o preço da gasolina, é preciso começar pelo petróleo.
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Ao contrário de um mito ainda comum, ele não vem de dinossauros, mas da decomposição de pequenas formas de vida marinha, principalmente algas microscópicas, acumuladas no fundo do mar milhões de anos atrás.
Esse material, submetido a pressão e temperatura por eras geológicas, se transformou numa mistura de hidrocarbonetos com outras substâncias, como o enxofre.
O petróleo é encontrado em grandes profundidades, muitas vezes a vários quilômetros abaixo do nível do mar. Em alguns poços, é como perfurar o equivalente a um Everest invertido no fundo do oceano.
Extrair petróleo exige plataformas avançadas, equipamentos de alto custo e uma cadeia tecnológica sofisticada, o que já coloca um piso elevado no custo de produção.
No Brasil, a Petrobras concentra praticamente toda essa operação, do mapeamento geológico à extração e ao refino, o que ajuda a explicar por que ela é uma das maiores petrolíferas do mundo.
Como o preço da gasolina é formado no Brasil
Mesmo com esse protagonismo, a fatia da Petrobras no preço da gasolina é apenas uma parte da conta.
Se considerarmos, como referência, uma compra de 100 reais em gasolina, algo em torno de 36 reais corresponde ao valor da Petrobras.
Cerca de 17 reais ficam com distribuição e revenda, 13 reais são relativos ao etanol misturado à gasolina e o restante é composto por impostos federais e estaduais.
Isso significa que quase metade do preço da gasolina pode ser explicada por tributos e pela mistura com etanol, dois elementos diretamente ligados a decisões internas.
Impostos federais, estaduais e a política de adição de etanol à gasolina são definidos no Brasil, por escolhas econômicas, fiscais e ambientais.
O outro bloco da conta, porém, está fortemente ancorado em fatores externos, como o preço internacional do barril de petróleo e a cotação do dólar.
Impostos, etanol e decisões internas que pesam no bolso
No componente interno do preço da gasolina, os impostos são protagonistas.
Governos precisam de arrecadação para financiar políticas públicas, e combustíveis são uma base tributária ampla e relativamente fácil de cobrar.
O problema é que qualquer ajuste nessa carga aparece imediatamente no bolso do motorista e da cadeia produtiva, gerando pressão política.
Além disso, a mistura de etanol à gasolina também interfere no preço.
O etanol, produzido principalmente a partir da cana-de-açúcar, tem custo influenciado por safra, clima, produtividade e logística agrícola.
Safras ruins, quebras de produção ou aumento de demanda podem encarecer o etanol, elevando o preço final da gasolina.
Como impostos e etanol juntos representam uma parcela significativa do valor na bomba, decisões tomadas em Brasília ou nas assembleias estaduais têm impacto direto na conta do consumidor.
Por que o Brasil continua dependente do mercado internacional
Uma das grandes dúvidas é: se o país produz mais petróleo do que consome, por que o preço da gasolina continua tão exposto ao mercado externo?
A resposta passa por dois pontos centrais: o tipo de petróleo e a capacidade de refino.
Existem diferentes tipos de petróleo. Um deles é classificado como leve ou pesado, dependendo da densidade.
O petróleo leve é mais adequado à produção de gasolina, porque seu refino é mais simples e menos custoso.
Outro critério é o teor de enxofre: o chamado petróleo “doce” emite menos poluentes que o “azedo”, mais rico em enxofre.
Nem todo petróleo produzido em um país é ideal para suas necessidades internas, o que obriga ajustes, misturas ou exportações em troca de outros tipos de óleo.
O gargalo das refinarias e o impacto no preço da gasolina
Mesmo com grande produção, o Brasil enfrenta um problema estrutural: capacidade limitada de refino.
As refinarias nacionais são poucas e, em muitos casos, antigas, com projetos concebidos para processar petróleo mais pesado.
Já boa parte do óleo do pré-sal, descoberto em 2007, é leve, mais adequado para gasolina, mas nem sempre plenamente aproveitado internamente.
Por causa disso, o país exporta uma parcela relevante do petróleo bruto e importa derivados já refinados.
É como vender matéria-prima e comprar o produto pronto pagando o valor agregado no exterior.
Essa dependência de derivados importados liga diretamente o preço da gasolina ao cenário internacional, em dólar.
Sempre que a moeda americana sobe ou o barril encarece lá fora, o impacto chega aos postos brasileiros, independentemente de a produção local estar alta.
Dólar, barril e geopolítica: o preço da gasolina decidido em outros lugares
O petróleo é cotado em dólar nos mercados internacionais. Isso significa que a cotação do dólar e o valor do barril formam uma espécie de “termo de compromisso” invisível sobre o preço da gasolina.
Uma informação sobre o mercado de trabalho ou a taxa de juros nos Estados Unidos pode mexer com o dólar, e essa oscilação acaba sendo repassada para o combustível no Brasil.
Além disso, o preço do barril é altamente sensível à geopolítica. Crises no Oriente Médio, sanções a grandes produtores, guerras e decisões estratégicas de países membros de grandes cartéis podem reduzir oferta e elevar preços.
Exemplos históricos, como o choque do petróleo nos anos 1970 ou a alta durante a guerra na Ucrânia, mostraram como dois países em confronto a milhares de quilômetros podem fazer o preço da gasolina disparar no Brasil.
O efeito é claro: conflitos, decisões de corte de produção e choques de demanda internacional chegam às bombas brasileiras em poucos meses.
Quando o preço sobe como foguete e cai como pena
Eventos como a pandemia também escancaram a volatilidade do preço da gasolina. Em 2020, o isolamento derrubou a demanda global por combustíveis, e a produção foi reduzida para evitar estoques encalhados.
Com a retomada da atividade econômica, a demanda por transporte e energia voltou rápido, mas a oferta demorou mais a reagir.
Esse descompasso puxou o preço do litro no Brasil de patamares em torno de 4,50 reais para valores acima de 7 reais em pouco tempo, com altas superiores a 50 por cento em pouco mais de dois anos.
Na subida, o ajuste costuma ser imediato, “na velocidade de foguete”, porque empresas rapidamente repassam custos para preservar margens.
Já na queda, o movimento é mais lento, “no ritmo de pena”, porque vendedores tendem a segurar preços enquanto o consumidor ainda está habituado ao nível mais alto.
A política de preços da Petrobras e o limite do ajuste interno
Por muitos anos, a Petrobras seguiu a chamada Política de Paridade de Importação, em que o preço da gasolina no país ficava alinhado ao valor internacional do petróleo e ao câmbio.
Qualquer alta no dólar ou no barril era rapidamente repassada. Isso tornava os preços transparentes em relação ao mercado global, mas pressionava consumidores e ampliava a sensibilidade a choques externos.
Mais recentemente, a empresa passou a adotar um modelo mais complexo, que mistura indicadores externos com variáveis internas, como condições de mercado em cada região.
A ideia é encontrar um ponto de equilíbrio entre o máximo que o comprador aceita pagar antes de buscar outro fornecedor e o mínimo que a empresa pode praticar mantendo lucro.
Na prática, porém, a redução média em relação à antiga paridade tem sido modesta, algo em torno de poucos por cento, o que não resolve o caráter estrutural da carestia dos combustíveis.
Refino, matriz energética e o futuro do preço da gasolina
Uma solução de longo prazo para reduzir a exposição do preço da gasolina ao mercado externo seria ampliar e modernizar o parque de refino, construindo novas refinarias e adaptando as existentes para processar melhor o petróleo do pré-sal.
Isso permitiria usar mais petróleo produzido aqui dentro para abastecer a demanda interna, diminuindo a necessidade de importar derivados.
O problema é que projetos desse porte custam bilhões de reais e levam muitos anos para se pagar, ao mesmo tempo em que o mundo discute justamente a transição para fontes de energia mais limpas.
Investir pesadamente em infraestrutura voltada a combustíveis fósseis num momento de aceleração das mudanças climáticas traz risco econômico e ambiental, já que a demanda por gasolina tende a cair nas próximas décadas à medida que outras tecnologias ganhem escala.
Transporte, alternativas ao petróleo e o que realmente poderia baratear a conta
O verdadeiro ponto estrutural é que um dos principais usos do petróleo é o transporte. Carros, ônibus, caminhões e aviões consomem uma fatia enorme da energia global.
Para reduzir a dependência da gasolina, não basta apenas mexer na Petrobras ou nos impostos; é preciso repensar o modelo de mobilidade.
Carros elétricos são uma alternativa parcial, com menor emissão direta, mas trazem desafios como produção e descarte de baterias.
Mais decisivo ainda é investir em transporte público de qualidade, corredores de ônibus, metrô, trens urbanos e infraestrutura adequada para reduzir congestionamentos e desperdício de combustível.
Cidades com transporte coletivo eficiente, ruas conservadas e planejamento urbano conseguem diminuir a dependência da frota individual, o que, no longo prazo, reduz a pressão sobre o consumo de gasolina e sobre a sensibilidade da população a cada variação na bomba.
O que realmente precisa mudar para o preço da gasolina cair de verdade?
O preço da gasolina é caro no Brasil porque ele carrega, ao mesmo tempo, o custo de uma cadeia produtiva complexa, uma carga relevante de tributos, a limitação do parque de refino e todas as oscilações da economia e da política internacionais.
Ajustes pontuais em impostos ou na política de preços podem aliviar momentaneamente, mas não alteram o fato de que o modelo de mobilidade e de matriz energética ainda é profundamente dependente do petróleo.
Enquanto a infraestrutura continuar organizada em torno do carro a combustão e o país seguir exposto a choques de dólar e de barril, o consumidor vai sentir cada crise global no painel da bomba.
Diante de tudo isso, fica a pergunta para você: na sua opinião, o caminho para melhorar o preço da gasolina passa mais por mudanças na política de preços da Petrobras, por redução de impostos ou por um investimento pesado em transporte público e novas formas de energia?


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