Expansão chinesa traz novos investimentos industriais, energias renováveis e megaprojetos logísticos para o Nordeste, com potencial de reverter tendências econômicas e impulsionar a reindustrialização do Brasil nas próximas décadas.
A inauguração da fábrica da montadora chinesa BYD em Camaçari, Bahia, marca um novo capítulo para o setor industrial brasileiro e tem potencial para alterar de forma significativa o cenário econômico do país nos próximos anos.
O tema foi amplamente abordado por Alvaro Borba, em vídeo publicado no canal Arvro no YouTube, e reflete não só a retomada da atividade industrial na região, mas também o avanço da influência chinesa na economia nacional.
A fábrica de Camaçari, que durante anos abrigou operações da norte-americana Ford, passou por um período de inatividade após a decisão da montadora de encerrar suas atividades no município em 2021.
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O fechamento resultou na perda de aproximadamente 60 mil empregos diretos e indiretos, além do risco de desperdício de toda a infraestrutura instalada na região pelo Estado da Bahia para suportar a produção automobilística.
Segundo Alvaro Borba, a chegada da BYD representa um investimento superior a R$ 5 bilhões e ocorre em um contexto de profundas transformações na indústria automotiva global.
Indústria automotiva global e avanço chinês
A substituição de uma montadora tradicional de veículos a combustão por uma empresa voltada à produção de carros elétricos reflete uma tendência mundial.
Conforme destacou Alvaro Borba, a China já responde por cerca de 76% dos veículos elétricos comercializados no planeta, evidenciando a ascensão das empresas chinesas neste setor.
A escolha da Bahia para instalar a fábrica não foi aleatória e se insere em uma estratégia mais ampla de expansão chinesa na América Latina.
O movimento recente da BYD, segundo o relato do jornalista, foi precedido pela inauguração do megaporto de Shankai, no Peru, atualmente o maior do continente sul-americano.
A obra, concluída em menos de nove meses antes da nova fábrica brasileira, está integrada a projetos logísticos de larga escala.
De acordo com Alvaro Borba, o Brasil enviou uma delegação à China para discutir a construção de uma ferrovia ligando o porto de Shankai, no Peru, ao porto de Ilhéus, na Bahia, a apenas 400 km de Camaçari.
Energia renovável no Nordeste e investimentos chineses
A presença chinesa no Nordeste brasileiro vai além do setor automobilístico.
Os investimentos começaram pelo setor de geração de energia, principalmente a eólica.
Segundo Alvaro Borba, a estatal China General Nuclear Power Group (CGN) opera hoje o maior parque eólico do mundo no Piauí, com 83 torres distribuídas em dez parques.
A expansão em 2021 recebeu um aporte de R$ 444 milhões, ampliando ainda mais a capacidade de produção de energia limpa na região.
Mais recentemente, a fabricante chinesa Goldwind assumiu uma antiga fábrica da General Electric em Camaçari e passou a produzir turbinas eólicas no local, consolidando a Bahia como um polo de energia sustentável.
Conforme revelou Alvaro Borba, esta unidade pode produzir até 150 turbinas por ano, gerando aproximadamente 100 empregos diretos e outros 5 mil indiretos.
O investimento ultrapassa R$ 100 milhões e é o primeiro da empresa fora do território chinês.
Polos tecnológicos e demanda por energia limpa
A abundância de energia renovável no Nordeste atrai empresas de tecnologia interessadas em operar data centers no Brasil.
De acordo com Alvaro Borba, a gigante chinesa ByteDance, dona do TikTok, planeja investir em um data center na região, aproveitando o potencial eólico do litoral nordestino, especialmente por meio de negociações com a Casa dos Ventos, empresa brasileira de geração de energia renovável.
Esse movimento pode ser decisivo para diversificar a economia nordestina, como enfatizou o governador da Bahia durante a inauguração da BYD, ao mencionar que o objetivo é aproximar indústrias com alto consumo energético das áreas produtoras de energia limpa.
Borba destacou que, entre essas indústrias, o setor de tecnologia se sobressai, dado o elevado consumo energético dos data centers e sistemas de inteligência artificial.
Riscos, reindustrialização e desafios regulatórios
Os investimentos chineses são vistos como oportunidade para reverter o processo de desindustrialização observado no Brasil desde os anos 1980.
Segundo Alvaro Borba, a participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu drasticamente, especialmente após o boom das commodities como minério de ferro e soja.
Ele cita, por exemplo, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, sobre a valorização das commodities em detrimento da produção de bens manufaturados.
Contudo, a chegada de capital estrangeiro, especialmente da China, impõe desafios de regulação e fiscalização.
Conforme relatado por Alvaro Borba, o Brasil ainda não possui regras claras sobre a distância mínima entre aerogeradores e residências, o que já provocou reclamações de comunidades locais, como o quilombo do Talhado, na Paraíba, e famílias que vivem a poucos metros de turbinas.
Além disso, episódios recentes como o resgate de 163 trabalhadores chineses em situação análoga à escravidão, terceirizados por uma empresa na construção da fábrica da BYD, chamam atenção para a necessidade de rigor na fiscalização das condições de trabalho.
Logística, integração continental e futuro da infraestrutura
A proposta de construir uma ferrovia conectando Ilhéus ao megaporto de Shankai poderá transformar a logística brasileira, facilitando o escoamento da produção nacional para mercados asiáticos e potencializando a reindustrialização do país.
Segundo informações apuradas por Alvaro Borba, espera-se que novos detalhes sobre o projeto sejam apresentados durante a cúpula do BRICS que está acontecendo nesta semana.
O próprio jornalista aponta que essa é uma chance histórica para o Brasil recuperar protagonismo na indústria, mas alerta para a necessidade de garantir que os investimentos estrangeiros respeitem as leis nacionais, promovam empregos de qualidade e evitem violações ambientais e sociais.
Ele recorda ainda que a tecnologia solar, hoje amplamente produzida na China, teve origem em pesquisas brasileiras, ressaltando a importância de o país não perder novas oportunidades de desenvolvimento tecnológico.
Você acredita que a presença chinesa pode de fato promover a reindustrialização do Brasil, ou há riscos de o país perder mais uma vez o controle sobre seu desenvolvimento?