Durante audiência pública na Assembleia Legislativa do RN, petroleiros cobraram mais investimentos na Bacia Potiguar e destacaram que, sem ampliação da produção, o país poderá depender de importações de petróleo na próxima década.
O setor de petróleo voltou ao centro do debate econômico e político do Rio Grande do Norte. Em uma audiência pública realizada na Assembleia Legislativa, nesta terça-feira (14), petroleiros, parlamentares, prefeitos, representantes do governo estadual e lideranças empresariais se reuniram para discutir o futuro da Bacia Potiguar — um dos polos históricos de exploração de petróleo do país.
A reunião, proposta pelos deputados Isolda Dantas (PT), Francisco do PT e Divaneide Basílio (PT), teve como principal pauta a necessidade de novos investimentos e o fortalecimento da cadeia produtiva do petróleo e gás no estado. A preocupação é que, sem estímulos, o Rio Grande do Norte perca espaço no mapa energético nacional, impactando diretamente empregos, receitas e a soberania energética brasileira.
Produção de petróleo potiguar mostra sinais de queda e preocupa trabalhadores
De acordo com o Boletim Mensal da Produção de Petróleo e Gás Natural, divulgado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) em 1º de outubro, a produção potiguar em agosto de 2025 atingiu 39.144 barris de óleo equivalente por dia (boe/d) — um número inferior à média dos últimos 18 meses, de 39.610 boe/d.
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Entre março de 2024 e agosto de 2025, o volume total acumulado foi de 712.986 boe/d, com o pico registrado em abril de 2024 (41.734 boe/d) e a menor produção em agosto de 2024 (37.303 boe/d). Apesar do aumento no número de campos produtores — de 64 em março de 2024 para 70 em agosto de 2025 —, a queda persistente preocupa o Sindicato dos Petroleiros do RN (Sindipetro).
O sindicato alerta que a desaceleração tem causado fechamento de postos de trabalho, evasão de mão de obra qualificada e queda na arrecadação tributária. Esses efeitos, segundo a entidade, ameaçam a estabilidade de municípios produtores e fragilizam a economia estadual, além de representar risco à soberania energética nacional.
Marcos Brasil: “Sem ampliar produção, o Brasil terá de importar petróleo até 2032”
Durante a audiência, o coordenador-geral do Sindipetro-RN, Marcos Brasil, fez um alerta contundente. Ele afirmou que, considerando as reservas atuais e o ritmo de produção, o Brasil poderá ter de importar petróleo entre 2030 e 2032, caso não amplie os investimentos na Bacia Potiguar e em novas frentes, como a Margem Equatorial.
Segundo ele, há previsão de chegada de um navio-sonda para exploração da Margem Equatorial em janeiro, mas é preciso pressão política para garantir que a promessa se concretize. “A maioria dos membros do Conselho de Administração da Petrobras é de pessoas do Sudeste, então eles querem priorizar investimentos no Sudeste. Quando não tem uma força política aqui do Rio Grande do Norte cobrando, eles vão deixando o assunto esfriar”, criticou.
Marcos Brasil também enfatizou o potencial da produção em terra (onshore) como fonte de crescimento econômico e social para o Rio Grande do Norte. De acordo com ele, a cada R$ 1 bilhão investido, são gerados 5 mil empregos diretos e indiretos.
Além disso, a atividade promove o aumento de royalties, movimenta o comércio local e estimula novos investimentos tecnológicos, especialmente em recuperação de campos maduros — técnica que amplia a extração de petróleo de áreas já exploradas.
“A produção em terra gera integração com as comunidades, aumenta o consumo em hotéis, supermercados e outros serviços. Ela agrega valor às localidades onde ocorre, além de gerar royalties aos proprietários de terras e aos municípios”, destacou.
Sindipetro lança manifesto por mais investimentos na Bacia Potiguar
O diretor Márcio Dias, também do Sindipetro-RN, apresentou o Manifesto em Defesa de Investimentos na Bacia Potiguar, documento aprovado durante o 40º Congresso Estadual dos Petroleiros e Petroleiras (CEPETRO-RN). O texto vem sendo entregue a lideranças políticas, empresariais e sociais, com o objetivo de unir o estado em torno da retomada dos investimentos no setor de petróleo.
Márcio lembrou que a Bacia Potiguar completou quase 50 anos de atividades, historicamente lideradas pela Petrobras. No entanto, destacou que, por questões políticas e de mercado, grande parte das operações foi privatizada, o que reduziu a presença da estatal na região. “Hoje temos várias empresas privadas atuando, mas o protagonismo da Petrobras foi perdido. E isso tem reflexos diretos na economia local”, afirmou.
A prefeita de Macau, Flávia Veras (PDT), também cobrou mais investimentos e repasses de royalties para os municípios. Ela destacou que a produção de petróleo representa desenvolvimento, geração de empregos e capacidade de honrar compromissos públicos.
“Isso representa desenvolvimento econômico, gerar emprego e renda. Ter esses royalties de produção por parte da nossa bacia petrolífera é uma benção. No passado, isso significou nossa glória, mas hoje enfrentamos queda na produção e nos percentuais de repasse”, lamentou.
Segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec), o Rio Grande do Norte recebeu R$ 155 milhões em royalties no segundo trimestre de 2025, um aumento de 26,4% em relação ao mesmo período de 2024. A Refinaria Clara Camarão, com capacidade de processar 40 mil barris por dia, foi citada como um ativo estratégico para garantir maior autonomia energética e geração de valor local.
Deputados destacam papel da Petrobras e da soberania energética nacional
Durante o encontro, a deputada Isolda Dantas (PT) reforçou que a Petrobras é uma empresa estratégica para o Brasil e para o Rio Grande do Norte. Segundo ela, “não é possível pensar a soberania de um país sem pensar na sua soberania energética, e a Petrobras tem tudo a ver com isso”.
A parlamentar lembrou que a Bacia Potiguar foi, desde a década de 1970, uma das principais regiões produtoras de petróleo do país. “Quando olhamos a história da Petrobras no RN, vemos o quanto ela foi fundamental para o desenvolvimento que chega até os municípios. E agora, com a liberação de 33 novos postos de perfuração pela ANP, reafirma-se que o estado continua a ter petróleo”, completou.
O deputado Francisco do PT também destacou o novo momento vivido pela estatal. “Tivemos que denunciar o desmonte e os desinvestimentos feitos na Petrobras. Agora, nossa luta é por mais investimentos, porque temos um governo que voltou a enxergar a empresa como instrumento de desenvolvimento nacional”, disse.
Já Divaneide Basílio (PT), que participou por vídeo, ressaltou que a Bacia Potiguar representa mais de 60% da produção nacional de petróleo e tem papel essencial na geração de empregos. “Precisamos avançar nesse cuidado real que o Sindipetro traz para a nossa bacia, de garantir novos investimentos e oportunidades”, afirmou.
Perspectivas e desafios para o futuro do petróleo no RN
Mesmo com os desafios, o Sindipetro-RN e os representantes políticos acreditam que o potencial produtivo da Bacia Potiguar ainda é vasto. Estudos técnicos indicam áreas promissoras para exploração, tanto em terra quanto no mar, especialmente na Margem Equatorial.
Para os petroleiros, o fortalecimento da presença da Petrobras e a retomada de investimentos públicos e privados são essenciais para reaquecer a economia potiguar, gerar empregos e consolidar o papel estratégico do estado no setor de petróleo e gás.