Petrobras avalia retorno à distribuição de gás de cozinha após venda da Liquigás. Entenda os impactos no preço do botijão.
A Petrobras decidiu retomar os estudos para voltar à distribuição de gás de cozinha no Brasil, cinco anos após vender a Liquigás.
A medida foi aprovada em agosto de 2025 pelo conselho de administração da estatal e pode impactar diretamente o preço do botijão de gás, alvo de críticas do governo federal.
Ainda não está definido se a empresa voltará a atuar na venda direta ao consumidor ou apenas como distribuidora, mas a movimentação reacende o debate sobre concorrência e acessibilidade ao produto.
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Por que a Petrobras quer voltar ao mercado de gás de cozinha?
De acordo com comunicado oficial, a Petrobras busca atuar em “negócios rentáveis e em parcerias nas atividades de distribuição, respeitando as disposições contratuais vigentes”.
O retorno faz parte do Plano Estratégico da estatal e ainda está em fase embrionária.
A decisão surge em um momento em que o governo Lula pressiona pela redução no valor do gás. Em maio, durante agenda na Paraíba, o presidente afirmou:
“A Petrobras manda o gás de cozinha a R$ 37. Quando chega aqui, está a R$ 110, R$ 120, em alguns estados até R$ 140. E eu posso dizer que está errado.”
Como era a atuação da Petrobras antes da venda da Liquigás?
Até 2020, a Petrobras operava na distribuição de gás por meio da Liquigás, responsável pelo envasamento e comercialização do GLP.
A empresa tinha 23 centros de operação, mais de 4,8 mil revendedores autorizados e presença em todos os estados, com cerca de 21,4% do mercado nacional.
A venda da Liquigás por R$ 4 bilhões ocorreu no governo Bolsonaro, dentro do programa de privatizações.
O objetivo, segundo a gestão da época, era reduzir dívidas e concentrar investimentos na exploração de petróleo do pré-sal.
O botijão de gás pode ficar mais barato?
Especialistas divergem. Para Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sociais (Ibeps), há espaço para redução de preços, já que as margens de lucro das distribuidoras cresceram 188% entre 2020 e 2023.
Por outro lado, Bruno Benassi, da Monte Bravo, alerta que qualquer corte no preço final compromete a rentabilidade da Petrobras:
“Quanto menor o preço do botijão, menor será a margem da operação. A equação não é simples: reduzir preços pode agradar consumidores, mas compromete o retorno do investimento.”
Quanto custa hoje o gás de cozinha no Brasil?
Segundo levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço médio do botijão de 13 kg está em R$ 107,82.
O valor final inclui custos de produção, impostos, transporte e margens de lucro da distribuição de gás e da revenda.
O setor é concentrado em poucas empresas. Em 2022, quatro distribuidoras detinham quase 90% do mercado: Copa Energia, Ultragaz, Nacional Gás e Supergasbras.
O que dizem as distribuidoras de gás?
O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de GLP (Sindigás) afirmou que a entrada da Petrobras não representa ameaça significativa:
“Qualquer novo entrante que se submeta às mesmas regras do mercado é bem-vindo. O período em que a Liquigás fazia parte do setor foi considerado saudável para todos”, disse o presidente Sérgio Bandeira de Mello.
Segundo ele, a principal forma de reduzir custos está na eficiência logística, como o uso de georreferenciamento e inovação tecnológica nas entregas.
Impactos na competitividade
Para analistas, a volta da Petrobras pode redesenhar a dinâmica do setor. Se a estatal atuar apenas como distribuidora, disputará margens com concorrentes privados.
Já uma estratégia de venda direta ao consumidor, com frota própria e pontos de revenda, poderia transformar a forma como o gás de cozinha é comercializado no país.
Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, resume:
“Qualquer novo agente altera a dinâmica do mercado. A disputa é semelhante à de água mineral ou refrigerantes, com forte briga por pontos de venda e espaço.”