Pesquisadores estão trabalhando em uma moeda digital que funciona sem internet nem rede celular. Sistema com tokens semi-quânticos permite pagamentos offline com segurança quântica e pode revolucionar o sistema financeiro global.
Imagine realizar um pagamento digital sem precisar de conexão, rede celular, ou sequer energia elétrica. Um grupo de cientistas está transformando essa ficção em realidade. Segundo um estudo publicado recentemente no Cryptology ePrint Archive e repercutido por instituições como a Cambridge University e o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST), pesquisadores propuseram um sistema de pagamentos digitais offline baseado em tokens semi-quânticos, capaz de operar com total segurança mesmo em ambientes sem acesso à internet.
A inovação promete uma das maiores rupturas já vistas no universo das moedas digitais e das finanças descentralizadas e, se comprovada em escala, pode mudar a forma como o mundo entende o dinheiro eletrônico.
Um novo paradigma: o pagamento digital sem rede
O avanço foi liderado por uma equipe de cientistas da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong (HKUST) e da Universidade de Luxemburgo, que vêm estudando há anos como reduzir a dependência de sistemas conectados.
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O resultado é um protocolo que utiliza tokens semi-quânticos, unidades digitais dotadas de assinaturas criptográficas únicas e não replicáveis, o que impede o chamado double spending — quando um mesmo valor é gasto duas vezes.
A grande revolução aqui é o conceito de “moeda sem fio” (wirelessless money), que não depende de servidores, bancos ou intermediários online.
O sistema armazena as informações do valor e da identidade criptográfica em um chip físico ou dispositivo portátil, permitindo que duas partes realizem uma transação cara a cara, validada localmente, mesmo em locais remotos.
Em resumo: é o primeiro modelo de pagamento digital offline com segurança quântica parcial, sem precisar de blockchain ou acesso a uma rede centralizada.
O que são tokens semi-quânticos
Os tokens semi-quânticos são o coração da proposta. Diferente de uma criptomoeda tradicional, como Bitcoin ou Ethereum, que exige a validação de uma blockchain pública, esse sistema usa princípios da física quântica para garantir que cada unidade digital possua uma assinatura única e impossível de copiar.
Cada token funciona como um fóton “marcado”, um pacote de informação com propriedades que mudam caso alguém tente interceptá-lo ou duplicá-lo. Essa característica vem da mecânica quântica, que impossibilita a clonagem perfeita de um estado quântico.
Em termos práticos, o que os pesquisadores criaram é um meio de pagamento autônomo, inviolável e rastreável, que pode ser transferido entre dispositivos mesmo em regiões sem infraestrutura de comunicação como áreas rurais, bases militares, zonas de desastres ou até ambientes submarinos.
Aplicações e implicações globais
O impacto desse tipo de tecnologia é gigantesco. Em países onde a exclusão digital ainda é alta, como partes da África, América Latina e do Sudeste Asiático, uma moeda capaz de operar offline poderia democratizar o acesso ao sistema financeiro, permitindo que transações digitais ocorram em locais sem internet ou eletricidade constante.
O economista Dr. Ramesh Subramanian, consultor do Banco Asiático de Desenvolvimento, destacou em entrevista ao Asian Economic Review:
“Se esse sistema for implementado em escala, ele pode levar a inclusão financeira a lugares onde nem o dinheiro em papel chega. É uma revolução comparável ao surgimento do celular nos anos 2000.”
Além do impacto social, há uma questão de segurança nacional e militar. Exércitos e governos poderiam realizar transferências sigilosas e instantâneas em locais de guerra, onde as redes estão comprometidas, sem depender de satélites ou infraestrutura civil.
Do laboratório ao mundo real
Os testes iniciais foram realizados em 2024 e 2025 em ambientes controlados, simulando transações entre dispositivos a mais de 2 quilômetros de distância, com interferências eletromagnéticas e ausência total de sinal de rede. O resultado: o sistema manteve 100% de integridade e rastreabilidade das transações.
O protótipo usa um dispositivo portátil do tamanho de um pen drive, contendo um microchip quântico simplificado e um conjunto de sensores ópticos que garantem a integridade do token.
Cada unidade de valor é gerada por uma autoridade monetária (como um banco central) e pode ser recarregada ou convertida em dinheiro eletrônico quando a conexão é restabelecida.
A equipe responsável explica que, para garantir privacidade e segurança, as informações são apagadas após a confirmação da transação, eliminando qualquer rastro duplicado.
Bancos centrais observam o avanço
Embora ainda em fase acadêmica, o estudo já desperta atenção de autoridades monetárias. O Banco Central Europeu (BCE), que conduz o projeto do euro digital, incluiu em seu relatório de 2025 uma menção direta a pesquisas sobre “pagamentos offline com base em tokens autenticados localmente”.
O Banco da Inglaterra e o Banco do Japão também estudam versões do conceito, buscando uma solução híbrida que permita o uso de moedas digitais oficiais (CBDCs) sem internet, mas com validação posterior em rede.
No Brasil, o Banco Central, que está desenvolvendo o Drex, chegou a mencionar em uma nota técnica de 2024 a possibilidade de incluir uma “camada offline” nas futuras versões do real digital, o que permitiria transações em regiões sem cobertura.
O elo com a computação quântica
O termo “semi-quântico” não é casual. Ele se refere a uma etapa intermediária entre a criptografia clássica e a quântica completa — um ponto de equilíbrio que não exige infraestrutura quântica integral, mas já utiliza os princípios da física quântica para reforçar a segurança.
A ideia é criar sistemas resilientes e escaláveis, compatíveis com tecnologias atuais, mas prontos para se integrar a redes quânticas no futuro. Segundo o físico Tobias Baecker, um dos autores do estudo:
“Estamos construindo a ponte entre o dinheiro eletrônico atual e o dinheiro quântico do futuro. Esse é o primeiro passo para um sistema financeiro totalmente descentralizado e à prova de interferências.”
Um futuro onde o dinheiro “anda sozinho”
A proposta dos tokens semi-quânticos também levanta uma discussão mais profunda: e se o dinheiro pudesse existir sem depender de bancos, governos ou conexões?
Essa visão combina economia descentralizada, física de partículas e criptografia de ponta — um campo onde as fronteiras entre ciência e economia se misturam.
Especialistas acreditam que, se essa tecnologia chegar ao mercado nos próximos dez anos, ela pode redefinir o conceito de transação digital, transformando o dinheiro em algo totalmente portátil, seguro e independente.
O impacto para o Brasil e a América Latina
Para países com vastas áreas rurais, como o Brasil, essa inovação teria impacto direto. Agricultores, ribeirinhos e pequenos empreendedores poderiam realizar pagamentos, compras e transferências sem depender de sinal de internet, um dos maiores desafios do interior do país.
Combinada ao Drex, moeda digital do Banco Central, a tecnologia semi-quântica poderia eliminar barreiras logísticas e integrar milhões de brasileiros ao sistema financeiro digital.
A pesquisa ainda está em estágio experimental, mas já atrai interesse de universidades, bancos centrais e empresas de segurança cibernética. Para especialistas, trata-se de um divisor de águas no conceito de moeda digital, ao oferecer algo que nenhum sistema tradicional conseguiu até hoje: autonomia total das redes.
Se tudo der certo, o futuro do dinheiro pode estar em um pequeno dispositivo que cabe no bolso — capaz de realizar pagamentos em tempo real, em qualquer lugar do planeta, até mesmo no meio do deserto.