Descoberta em 2021, achado do pescador tailandês foi avaliado em mais de US$ 1,25 milhão e reacendeu o interesse global pelo raro âmbar-gris
O pescador tailandês Narong Phetcharaj voltava do mar quando viu, à deriva, um bloco ceroso empurrado pelas ondas para a praia de Surat Thani, no sul da Tailândia. O que parecia apenas mais um resíduo do oceano revelou-se um pedaço de 30 quilos de âmbar-gris, popularmente chamado de “vômito de baleia”, avaliado em mais de US$ 1,25 milhão conforme sua pureza e maturação.
Antes do achado, o pescador tailandês vivia da captura diária de peixes e relatava renda próxima de US$ 625 por mês. A confirmação veio após análise na Universidade Prince of Songkla: era âmbar-gris autêntico, substância rara que a indústria de perfumes de luxo utiliza como fixador. O encontro transformou a trajetória do pescador, e reacendeu debates sobre conservação, mercado e legalidade.
Quem, onde e quanto: o achado que virou manchete
Narong Phetcharaj é o pescador tailandês que protagoniza a história. Ao chegar à faixa de areia, identificou um bloco claro, ceroso e flutuante, com aparência distinta de pedras comuns.
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A cena ocorreu em Surat Thani, região onde correntes e marés frequentemente levam materiais oceânicos às praias.
O material pesou cerca de 30 kg e foi submetido a especialistas, que confirmaram o âmbar-gris.
Avaliações do mercado perfumista indicam que peças grandes e maduras podem ultrapassar US$ 1,25 milhão, a depender do grau de oxidação, cor, aroma e ausência de impurezas.
Para quem vivia da pesca artesanal, o “ouro flutuante” virou um divisor de águas.
O que é âmbar-gris, e por que não é exatamente “vômito”
O âmbar-gris é uma secreção rara produzida no intestino de cachalotes, associada à proteção das paredes intestinais contra bicos de lulas não digeridos.
Apesar do apelido popular, nem sempre é expelido pela boca: pode percorrer o trato digestivo e ser eliminado ao mar, onde flutua por anos.
Durante esse tempo, o sol e a água salgada “curam” o material, que escurece, endurece e muda de cheiro.
Quando fresco, tem odor fecal; quando maduro, desenvolve um perfume almiscarado, quente e levemente doce. Essa metamorfose natural é central para seu valor.
Por que vale tanto: fixador raro e desejado na perfumaria de luxo
A joia do âmbar-gris está no ambrox (base do Ambroxan sintético), molécula que fixa e prolonga fragrâncias, além de adicionar nuances ambaradas, marítimas e aveludadas.
Perfumes de alto padrão historicamente recorreram ao âmbar-gris natural por performance e complexidade olfativa.
Entretanto, é raro: pouquíssimos cachalotes produzem a substância, e nem todo material expelido amadurece bem.
Some-se a isso os riscos e limites legais e tem-se um cenário de preços elevados e variáveis, no qual tamanho, idade, cor e aroma determinam a cotação.
Como se reconhece: aparência, textura e sinais de autenticidade
Visualmente, o âmbar-gris parece uma cera endurecida: pode ser cinza, amarelado ou escuro, com superfície opaca e irregular.
Flutua na água, é quebradiço nas bordas, e derrete levemente com calor, liberando aroma salgado-almiscarado quando maduro. Blocos muito “novos” cheiram forte e desagradável.
No caso do pescador tailandês, a confirmação laboratorial foi decisiva.
Testes simples podem enganar; por isso, avaliação técnica é o caminho para diferenciar âmbar-gris de parafina, sebo, breu ou resinas que o mar também devolve às praias.
Mercado e legalidade: o que pode (ou não) ser feito
A comercialização do âmbar-gris tem regras distintas conforme o país. Em alguns locais, é considerada derivado de baleia e sua venda é proibida; em outros, é permitida desde que coletada naturalmente (sem dano à fauna).
Antes de negociar, é crucial conhecer a legislação local.
Mesmo com o avanço de substitutos sintéticos, a demanda por âmbar-gris natural persiste em nichos de luxo.
Transparência de origem e laudos tornaram-se indispensáveis para compradores e intermediários, o que reduz fraudes e protege o ecossistema.
Precedentes de “sorte” e o risco de euforia
O caso do pescador tailandês ecoou histórias como a de 35 pescadores do Iêmen, que venderam 127 kg de âmbar-gris encontrado em uma carcaça de cachalote e mudaram sua realidade financeira.
São exceções, valiosas, mas raras, que podem estimular buscas arriscadas ou mercados paralelos.
Especialistas alertam: a qualidade do bloco é o que define o preço. Nem todo âmbar-gris vale fortunas, e intermediários oportunistas tentam superavaliar peças imaturas.
Laudo e negociação segura são o antídoto para frustrações e golpes.
Impacto social: quando o mar vira oportunidade
Na costa tailandesa, onde a pesca artesanal enfrenta custos altos e margens apertadas, um achado desse porte muda a vida de uma família.
É renda, educação, moradia e crédito, um salto socioeconômico raro e legítimo. Ainda assim, a política pública precisa proteger o oceano e as espécies, para que o acaso não estimule práticas predatórias.
Equilibrar oportunidade e conservação é o ponto: o mar pode gerar riqueza sem violência ambiental, desde que a coleta permaneça passiva (material que dá à costa) e a fiscalização funcione.
Histórias improváveis acontecem, e o âmbar-gris explica por quê: ciência, natureza e mercado se cruzam em um objeto que muda de cheiro, cor e preço conforme o tempo e o sol.
O pescador tailandês encontrou um tesouro raro, mas o caminho entre praia e perfume de luxo passa por laudos, leis e cautela.
No fim, o âmbar-gris é menos sobre sorte e mais sobre responsabilidade: reconhecer o valor sem esquecer a origem, um cetáceo vivo, pilar do oceano.