Disputa pela Ilha Santa Rosa no rio Amazonas faz Peru e Colômbia mobilizarem tropas na fronteira com o Brasil. Entenda a tensão histórica e os riscos na Amazônia.
A disputa ilha rio Amazonas entre Peru e Colômbia ganhou um novo e perigoso capítulo nesta semana, com os dois países mobilizando tropas para a região de fronteira com o Brasil. O impasse envolve a Ilha Santa Rosa, território amazônico onde vivem cerca de 3 mil pessoas que se consideram peruanas, mas que é reivindicado oficialmente pelo governo colombiano.
O aumento da tensão é monitorado pelo Itamaraty e pelo Ministério da Defesa do Brasil, já que a área fica no ponto de encontro das fronteiras dos três países, em plena fronteira Brasil Amazônia. Até o momento, não houve pronunciamento oficial brasileiro.
Militares Peru Colômbia: presença reforçada em área estratégica da Amazônia
A movimentação militar começou após o Peru oficializar, em junho, a criação de um novo distrito em Santa Rosa e enviar funcionários públicos à região. O ato foi interpretado pela Colômbia como afronta à sua soberania, e Bogotá exigiu negociação bilateral.
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Nos últimos dias, militares peruanos foram deslocados para a ilha, hasteando dezenas de bandeiras do país. Do lado colombiano, as Forças Armadas reforçaram o efetivo na cidade de Letícia, que fica a poucos metros de Santa Rosa.
A imprensa peruana chegou a relatar um suposto sobrevoo de aviões militares colombianos em espaço aéreo do Peru, aumentando ainda mais a tensão.
Origem da disputa: geografia mutável do rio Amazonas
A disputa territorial tem raízes históricas. Segundo o Tratado de 1929, a Ilha Chinería — onde está localizada Santa Rosa — pertence ao Peru. A divisão foi estabelecida pelo ponto mais profundo do rio Amazonas. Porém, nos últimos anos, a redução do fluxo do rio e a sedimentação deslocaram o leito e aproximaram a ilha da margem colombiana, onde está Letícia.
Autoridades colombianas alegam que a ilha surgiu depois do acordo e que, portanto, sua destinação deve ser revista. Já o Peru sustenta que exerce soberania “legítima, legal, pública e contínua” sobre Santa Rosa há mais de um século.
Estudos de institutos dos dois países apontam que, até 2030, o Amazonas pode desviar seu curso exclusivamente para o lado peruano, deixando Letícia sem acesso direto ao rio — cenário que agrava a tensão Amazônia e reforça a importância estratégica da ilha.
Petro e Dina Boluarte endurecem discurso
No último dia 7 de agosto, o presidente colombiano Gustavo Petro transferiu as celebrações da independência do país de Bogotá para Letícia, em um ato simbólico para reafirmar a reivindicação territorial. Durante o evento, ele declarou que a Colômbia “não reconhece a soberania do Peru sobre a chamada Ilha de Santa Rosa” e ameaçou levar o caso à Justiça internacional caso não haja mediação.
No mesmo dia, o primeiro-ministro do Peru, Eduardo Arana, e parte do gabinete visitaram Santa Rosa. A presidente peruana Dina Boluarte, em viagem ao Japão, afirmou que “nossa Ilha Chinería está dentro da nossa soberania nacional, portanto não há nada pendente a tratar com nosso país irmão do norte”.
Histórico de relações diplomáticas estremecidas
As relações entre Peru e Colômbia já estavam abaladas desde 2022, quando o então presidente peruano Pedro Castillo foi destituído. Petro classificou a ação como golpe de Estado e retirou o embaixador colombiano de Lima. O Peru respondeu na mesma moeda, e desde então os dois países mantêm apenas encarregados de negócios.
Com o episódio atual, a crise diplomática se aprofunda e a mobilização militar aumenta os riscos de incidentes na região amazônica tripartite.
Fronteira Brasil Amazônia: impacto e riscos para o Brasil
Apesar de não ser parte direta da disputa, o Brasil acompanha de perto a escalada, já que o ponto onde Santa Rosa está localizada é estratégico para o controle do tráfego fluvial na tríplice fronteira. Qualquer aumento de tensão entre militares Peru e Colômbia pode afetar a circulação de pessoas e mercadorias na área e até gerar impactos econômicos e de segurança para o lado brasileiro.
O cenário segue em aberto. Caso não haja acordo diplomático rápido, é possível que o litígio se prolongue e chegue a instâncias internacionais, como a Corte Internacional de Justiça, em Haia.