Perdas severas, dívidas crescentes e risco de falência empurram agricultores do Arkansas a implorar socorro imediato ao governo Trump para salvar suas propriedades e impedir colapso no campo americano
No dia 2 de setembro, centenas de agricultores se reuniram em Brookland, no nordeste do Arkansas, para pedir ajuda urgente ao governo federal.
O tom do encontro foi de desespero. Produtores relataram perdas severas, dificuldades financeiras crescentes e risco iminente de falência.
Muitos afirmaram que, sem auxílio imediato, não conseguirão sustentar suas propriedades até a próxima safra.
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“Se não houver financiamento de emergência este ano, um em cada três agricultores entrará com pedido de falência”, disse Chris King, um fazendeiro do Condado de Woodruff.
Crise nos preços e nos custos de produção
A base da crise está na combinação de dois fatores: os custos de produção dispararam e os preços das commodities agrícolas caíram para os menores níveis desde 2020.
Produtos como soja, milho e trigo perderam valor, mas a situação é ainda mais grave no arroz, cultura predominante no Arkansas.
O preço da saca caiu cerca de 40% em um ano, inviabilizando a cobertura dos gastos com fertilizantes, combustíveis, sementes e equipamentos.
Um agricultor presente na reunião resumiu: “É impossível pagar as contas quando tudo sobe e o preço do nosso produto desaba”.
Impacto dos desastres naturais
Além da pressão econômica, os agricultores enfrentam os efeitos de enchentes históricas que devastaram o estado em 2025. Mais de 260 mil acres de lavouras foram destruídos.
Estima-se que os prejuízos superem 78 milhões de dólares, além de dezenas de mortes registradas durante o desastre climático.
A combinação de preços baixos, custos altos e perdas no campo transformou a crise em uma ameaça à sobrevivência das famílias agricultoras.
Programas federais insuficientes
No encontro, foi duramente criticado o tamanho do pacote de ajuda emergencial anunciado em Washington.
O Emergency Commodity Assistance Program (ECAP), inicialmente estimado em 20 bilhões de dólares, foi reduzido pela metade. Os pagamentos diretos previstos não são suficientes para cobrir os prejuízos imediatos.
Outro ponto de frustração é o chamado “One Big Beautiful Bill”, programa de subsídios cuja previsão de pagamentos está marcada apenas para novembro de 2026. Para muitos produtores, essa ajuda chegará tarde demais.
Especialistas alertam que, sem recursos de transição — o chamado “bridge funding” —, um em cada três agricultores do Arkansas pode ser levado à falência.
Efeitos humanos e sociais
O impacto da crise não é apenas financeiro. Agricultores relataram episódios de saúde mental dos agricultores. Um consultor afirmou que, em pouco mais de um ano, cinco de seus clientes tiraram a própria vida.
Também surgiram histórias emocionantes, como a de um produtor de sexta geração que decidiu encerrar suas atividades. Seu filho, disse ele, não será a sétima geração a plantar na terra da família.
Esses relatos reforçam a gravidade social da crise agrícola e a necessidade de medidas rápidas.
Reação política
Gene Higginbotham, diretor de distrito do congressista Rick Crawford, prometeu levar as demandas dos agricultores para o presidente Trump. Segundo ele, o compromisso é “fazer tudo o possível para que vocês recebam ajuda”.
Apesar da promessa, muitos agricultores saíram da reunião céticos. O sentimento predominante foi de que o tempo está contra eles e que cada mês sem assistência aumenta o risco de falência em massa.
O encontro em Brookland escancarou uma crise que vai além dos números da economia rural. Trata-se de uma emergência social, marcada por endividamento, falências iminentes e sofrimento humano.
Enquanto o governo federal debate orçamentos e programas de longo prazo, os agricultores do Arkansas pedem apenas uma coisa: ajuda imediata para não abandonarem suas terras.