Pequenas empresas brasileiras viram seus planos de expansão global ameaçados após tarifas de Trump inviabilizarem contratos com os Estados Unidos
A chantagem tarifária de Donald Trump frustrou os planos de empresas brasileiras pequenas de exportar para os Estados Unidos. O impacto atingiu negócios que já estavam preparados para dar um salto. O mais importante é que muitos desses empreendimentos viam o mercado americano como porta de entrada para expansão global.
A embalagem já estava pronta, em português e inglês. Seria usada no maior contrato da pequena fábrica de chocolate de São Paulo.
O acordo previa mais de quarenta toneladas por mês. Era um volume muito acima da média atual da empresa.
-
Receita Federal aperta o cerco, mas dá tempo de se livrar da malha fina do IRPF 2025
-
O gigantesco império da Coca-Cola no Brasil — com 33 fábricas, investiu R$ 11 bilhões só nos últimos 2 anos, sustenta 574 mil empregos e injeta R$ 87,5 bilhões anuais no PIB do país
-
Brasil bate recorde com US$ 1,92 bilhão em exportação de carne bovina, mesmo com queda de 41% nas vendas para os EUA
-
Mais de 177 mil famílias terão de devolver R$ 478,8 milhões do Auxílio Emergencial, com prazo de 60 dias e parcelamento em 60 vezes
“Exportar para os EUA seria importante para o meu negócio porque seria um volume 20, 30 vezes maior do que eu vendo hoje no Brasil”, diz a empresária Josiane Luz.
Tarifa de 50% inviabilizou contrato
O governo Trump aplicou uma tarifa de 50% sobre o produto. Isso tornou o chocolate brasileiro caro demais para o consumidor americano. Diante disso, o cliente desistiu da compra.
“A proposta dele foi absorver 25%, a gente tentar chegar num acordo e a gente absorver 25%. Só que hoje nós não temos margem para absorver 25%”, explica Josiane.
Por pouco, a empresa não registrou um prejuízo grave. Em setembro, seria necessário trocar as máquinas por modelos maiores, mais modernos e caros.
Além disso, a demanda exigiria mais que dobrar o número de funcionários. O investimento inicial passaria de R$ 3 milhões. Todo o projeto foi suspenso.
Café com açaí parado no estoque
Outra empresa, do Amapá, também sentiu o impacto. Ela chegou a produzir uma encomenda que não saiu. Agora tem duas toneladas e meia de café com açaí paradas no estoque.
A mistura inovadora chamou a atenção dos americanos porque reduz impactos ambientais. O produto aproveita o descarte de caroços de açaí e gera renda para comunidades locais.
Portanto, a exportação para os Estados Unidos seria o passaporte para uma nova era nos negócios.
“Esperaria se consolidar, expandir a capacidade de produção por causa dessa demanda, contratar novos funcionários e aumentar o faturamento, que é o sonho de todo micro e pequeno empresário”, diz Lázaro Gonçalves, diretor operacional da empresa.
Crescimento das exportações
O número de micro e pequenas empresas brasileiras que exportam cresceu 120% nos últimos dez anos. Em 2024, quase um terço delas vendeu para os Estados Unidos. Esse avanço mostra que há espaço, mas as tarifas se tornaram um obstáculo.
O Sebrae afirma estar pronto para apoiar os setores afetados. O plano inclui financiamentos e escoamento dos produtos, dentro e fora do país.
“Nós abrimos agora, nos dois últimos anos, cerca de 300 novos mercados. Nós já construímos aqui uma orientação nacionalizada para oferecer a eles o atendimento rápido e seguro, a fim de que ele proteja o seu negócio e possa superar as dificuldades decorrentes das taxações americanas”, diz Décio Lima, presidente do Sebrae.
Novos mercados como saída
As empresas atingidas buscam alternativas. A de café procura parcerias no Chile e no Panamá. Já a de chocolate mira no Oriente Médio e na Ásia.
Apesar disso, o sonho de negociar com os Estados Unidos continua vivo.
“Acredito que logo, logo a gente vai recontratar as pessoas e continuar a exportar, e aquilo que a gente tinha como meta vai acontecer”, afirma Lázaro.
“Eu acho que EUA não é um adeus, a gente pensa em um até logo. A saída é buscar neste momento outros mercados”, comenta Josiane.
Com informações de G1.Globo.