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Pequena cidade brasileira tem PIB per capita de R$ 28 mil e não registra homicídio há 60 anos: sem farmácia, sem filas no posto de saúde, só dois bairros e sete bares para 856 moradores

Escrito por Alisson Ficher
Publicado em 16/10/2025 às 13:36
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Serra da Saudade, em Minas Gerais, tem menos de mil habitantes, nenhum homicídio há seis décadas e uma rotina marcada por confiança, ausência de filas e laços de vizinhança que moldam o cotidiano do menor município do Brasil.

A menor cidade do Brasil em número de habitantes mantém uma rotina de baixa criminalidade e de serviços públicos sem fila.

Segundo o IBGE, Serra da Saudade (MG) tem 856 moradores em 2025, dois a mais que no ano anterior, e segue há cerca de seis décadas sem registro de homicídio.

Com território de 335,6 km², área semelhante à de Belo Horizonte, o município soma apenas dois bairros e abriga uma economia que, em 2021, registrou PIB per capita de R$ 28,3 mil.

Em 2024, as receitas brutas realizadas ultrapassaram R$ 31 milhões, conforme dados informados pela gestão local.

População mínima e território amplo

Embora concentre a menor população do país há 12 anos, Serra da Saudade não é pequena em extensão.

Com 335,6 km², o município ocupa um território pouco maior que a capital mineira.

A densidade demográfica permanece baixa desde o Censo de 2022, quando a cidade contabilizava 833 moradores.

A estimativa de 2025 confirma a tendência de estabilidade, com incremento de dois residentes na comparação anual.

Serviços públicos sem espera

A rede municipal de saúde funciona em um único posto, com atendimentos sem filas.

Os procedimentos de maior complexidade são encaminhados a Dores do Indaiá e outras cidades próximas.

Na farmácia municipal, a prefeitura distribui medicamentos de uso contínuo e itens básicos, suprindo a ausência de drogaria privada na cidade.

Posto de combustíveis também inexiste no perímetro urbano; o abastecimento mais perto fica em Estrela do Indaiá, a cerca de 15 quilômetros.

Na rotina escolar e esportiva, a administração mantém ações centralizadas, com equipamentos compartilhados pelos dois bairros.

Comércio compacto e relações de vizinhança

A vida comercial cabe em poucas quadras.

dois supermercados — um deles atua há seis décadas e ainda opera no sistema de fiado em caderneta —, uma padaria, uma casa lotérica, sete bares e um pequeno restaurante que serve bufê e marmitas com comida caseira.

Em ruas como a Rio de Janeiro, há trechos com apenas uma residência.

A cena cotidiana é de conversas nas calçadas e portas abertas, com Wi-Fi gratuito na praça central para moradores e visitantes.

No Executivo, a prefeita Neusa Maria Ribeiro (PP) cumpre o terceiro mandato e obteve mais de 90% dos votos na eleição de 2024, segundo registros oficiais.

Ela resume a governança pela proximidade com a população: “Serra da Saudade é pequena, mas aqui todo mundo se conhece. Essa proximidade nos ajuda a governar de forma mais humana. Posso arriscar que conheço todos os moradores.”

A prefeitura concentra parte relevante das contratações locais e organiza serviços que, em cidades maiores, seriam pulverizados.

Segurança baseada na confiança e comunicação

Os indicadores criminais seguem residuais.

A Polícia Militar atribui a tranquilidade ao controle comunitário do território e à comunicação rápida entre vizinhos e policiais.

Chegadas de veículos ou visitantes considerados suspeitos costumam ser informadas imediatamente à PM para abordagem de rotina.

Em relatos recentes, furtos esporádicos foram solucionados com recuperação dos bens, e não há registro de roubos há anos.

O último homicídio conhecido remonta a cerca de 60 anos, marca rara em municípios brasileiros.

Dois bairros, 30 ruas e laços fortes

O traçado urbano de Serra da Saudade se distribui ao longo de 30 ruas nos bairros Centro e São Geraldo.

A escala reduzida favorece relações de confiança e uma malha de solidariedade entre famílias.

O secretário municipal de Educação, Esporte, Lazer e Turismo afirma que os moradores crescem juntos por gerações, o que reforça a coesão social e facilita a organização de eventos comunitários.

Origem do nome e memória local

A toponímia mistura geografia, registros históricos e tradição oral.

O município herdou o nome da serra que contorna a região e abraçou a palavra “saudade” como marca identitária.

Uma lenda citada por moradores narra a história de uma jovem indígena que teria morrido de tristeza à espera de notícias da família.

Na carta desbotada que guardava, restou legível apenas a palavra “saudade”.

Trata-se de um relato de transmissão oral, preservado na memória local e sem comprovação documental.

Ferrovia, rodovia e o caminho à autonomia

O arraial se desenvolveu com a Estrada de Ferro Paracatu, que escoava café, madeira, gado e diamantes e impulsionou pequenos comércios e hospedarias.

A Segunda Guerra Mundial freou obras na malha rodoviária e manteve os trilhos como via essencial por anos.

A desativação da ferrovia em 1969 encerrou um ciclo e reforçou a dependência das estradas.

A autonomização política ocorreu no início da década de 1960: a lei estadual que reordenou a divisão administrativa é de 30 de dezembro de 1962, e a instalação do município se deu em 1º de março de 1963, data que a cidade celebra como aniversário.

Finanças locais e FPM

A engrenagem financeira do município gira em torno de transferências constitucionais e receitas próprias modestas.

Em 2024, o caixa registrou receitas brutas acima de R$ 31 milhões, conforme dados de transparência citados pela administração.

O Fundo de Participação dos Municípios (FPM) é a principal fonte de recursos correntes e oscila conforme as cotas decendiais.

A prefeitura informa que os repasses têm permitido manter serviços e pequenos investimentos em infraestrutura urbana.

Pequena em gente, grande em singularidades

Serra da Saudade combina baixa densidade demográfica, comércio enxuto e prestação de serviços concentrada, com indicadores de segurança incomuns.

Em meio a praças com internet pública e bares de portas abertas, a cidade preserva um ritmo interiorano pouco visto, onde é possível identificar moradores pelo nome e acompanhar a vida coletiva com poucos intermediários.

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Brasil em perspectiva: projeções demográficas

O retrato da menor cidade ocorre enquanto o país vive transição demográfica acelerada.

Estimativas oficiais apontam 213,4 milhões de habitantes em 2025, depois de 212,6 milhões em 2024.

As projeções do IBGE indicam pico populacional em 2041, com cerca de 220,43 milhões, e início de queda a partir de 2042, chegando a aproximadamente 199,2 milhões em 2070.

São Paulo permanece como o município mais populoso, com 11,9 milhões; Rio de Janeiro segue com 6,7 milhões; e Brasília aparece em terceiro, com 3 milhões.

Nesse cenário, pequenos municípios como Serra da Saudade tendem a enfrentar desafios de oferta de serviços especializados, mas também preservam redes de apoio e coesão que, em parte, explicam a sensação de segurança reportada pelos moradores.

A rotina em Serra da Saudade mostra um país possível em escala microscópica: que outras cidades brasileiras poderiam aprender com a combinação de vizinhança ativa, serviços ágeis e baixíssima violência?

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Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, passagens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas e também editor do portal CPG. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: alisson.hficher@outlook.com. Não aceitamos currículos!

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