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Cientistas descobrem pegadas de répteis mais antigas já registradas, antecipando a origem dos amniotas e mudando a linha do tempo da evolução

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 15/05/2025 às 13:25
pegadas, répteis
Ilustração de uma criatura semelhante a um lagarto que deixou rastros fossilizados. (Marcin Ambrozik)

Pegadas encontradas na Austrália desafiam teorias antigas e antecipam em 35 milhões de anos a origem dos répteis, sugerindo que os primeiros tetrápodes modernos podem ter surgido no hemisfério sul.

A origem dos répteis sempre foi contada a partir de fósseis encontrados no hemisfério norte. Mas uma nova descoberta na Austrália muda completamente essa narrativa.

Cientistas encontraram pegadas fósseis muito mais antigas do que se imaginava, e agora propõem que os primeiros répteis podem ter surgido no supercontinente Gondwana, milhões de anos antes do que se pensava.

Essas marcas no solo desafiam tudo o que se sabia sobre a linha do tempo da evolução dos tetrápodes – grupo que inclui os anfíbios, répteis, aves e mamíferos, como os humanos. E mais do que isso: apontam que a ciência estava procurando no lugar errado.

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A chegada dos primeiros pés em terra firme

Os tetrápodes surgiram durante o período Devoniano, há cerca de 390 milhões de anos. Eram peixes com nadadeiras robustas, que começaram a se arrastar para fora da água.

A partir dessa linhagem ancestral, formaram-se dois grandes grupos.

Um deles deu origem aos anfíbios atuais, como sapos e salamandras. O outro grupo evoluiu para os chamados amniotas, animais com ovos protegidos por membranas especiais. Entre os amniotas estão todos os répteis, aves e mamíferos.

Hoje, os amniotas são dominantes em todos os ambientes terrestres. Estão no solo, no ar e até retornaram com sucesso aos oceanos.

Mas o início dessa jornada ainda era um grande mistério.

Até agora, acreditava-se que os primeiros amniotas surgiram há cerca de 318 milhões de anos, com base em fósseis encontrados na América do Norte e na Europa.

O fóssil que mudou tudo

A nova descoberta foi feita na região de Taungurung, perto da cidade de Mansfield, no sudeste da Austrália.

Uma placa de arenito com 35 centímetros de largura trouxe uma surpresa: pegadas bem preservadas, com marcas de garras.

Os cientistas que analisaram o material garantem que se trata de pegadas de amniotas primitivos — provavelmente répteis.

Essa simples placa de pedra pode significar que os primeiros répteis existiam há pelo menos 35 milhões de anos antes do que se imaginava.

As pegadas foram datadas entre 359 e 350 milhões de anos atrás, ou seja, no início do período Carbonífero.

As marcas foram deixadas por animais com dedos e garras — uma característica exclusiva dos amniotas. Anfíbios, por exemplo, raramente apresentam garras reais.

Por isso, a presença dessas marcas afiadas é um forte indício do tipo de animal que passou por ali.

Pegadas na chuva

As pegadas foram encontradas numa área conhecida por conter fósseis de peixes que viviam em rios e lagos. Mas, dessa vez, o que chamou a atenção foi o que aconteceu fora da água.

pegadas aparecem junto com pequenas marcas de gotas de chuva, o que comprova que os animais andavam sobre terra firme logo após uma precipitação.

A cena está registrada como se fosse uma fotografia do passado: pegadas cruzando a superfície da pedra, uma delas sobrepondo a outra, todas com arranhões deixados pelas garras.

Os animais pareciam se mover com firmeza, deixando suas marcas em solo molhado.

O formato das pegadas é semelhante ao de répteis primitivos conhecidos. Com isso, os cientistas têm segurança para afirmar que se tratam de amniotas, empurrando a origem desse grupo ainda mais para o passado.

Um novo ponto de partida

Se os amniotas já existiam entre 359 e 350 milhões de anos atrás, a separação entre eles e os anfíbios deve ter ocorrido ainda antes — talvez no final do Devoniano, há cerca de 380 milhões de anos. Isso muda completamente o que se sabia até hoje.

O problema é que o registro fóssil não acompanha essa nova linha do tempo. Até agora, quase todos os fósseis importantes vinham da Euramérica — um antigo continente do hemisfério norte, onde hoje estão localizadas a América do Norte e a Europa.

Já Gondwana, o antigo supercontinente do sul que incluía Austrália, África, América do Sul, Antártida e Índia, sempre foi uma incógnita nesse período da história.

Há pouquíssimos fósseis de tetrápodes encontrados por lá. E, por isso, talvez muitas espécies antigas tenham simplesmente passado despercebidas.

Apenas o começo das descobertas?

A placa encontrada no sudeste australiano é, até o momento, o único fóssil de tetrápode da primeira fase do período Carbonífero em toda Gondwana.

O registro fóssil do Devoniano também é escasso nessa parte do planeta. Isso sugere que os cientistas ainda conhecem muito pouco sobre os animais que viveram nessas regiões no passado remoto.

Essa escassez levanta uma questão importante: será que os primeiros tetrápodes modernos surgiram nas terras do sul e só depois migraram para outras regiões do mundo? É uma hipótese possível, mas que ainda precisa de mais provas.

Os pesquisadores apontam que a única maneira de responder a essa pergunta é continuar escavando. Somente novas descobertas em campo, em outras áreas de Gondwana, poderão preencher as lacunas deixadas pela falta de fósseis.

Uma descoberta com impacto global

A descoberta das pegadas australianas é considerada uma das mais importantes dos últimos anos para a paleontologia.

Ela não apenas antecipa em milhões de anos a origem dos répteis, como também sugere que os primeiros capítulos da evolução dos tetrápodes podem ter acontecido longe dos locais onde os cientistas sempre procuraram.

A ciência agora tem um novo ponto de partida para repensar a história da vida na Terra. Se Gondwana foi mesmo o berço de grupos modernos de tetrápodes, ainda há muito a ser revelado sob o solo de regiões como Austrália, África e América do Sul.

O achado em Mansfield mostra que é possível encontrar evidências revolucionárias até mesmo em pequenos fragmentos de rocha.

As pegadas deixadas por animais que viveram há mais de 350 milhões de anos abriram uma nova linha de investigação científica.

A partir de agora, os olhos da paleontologia se voltam para o hemisfério sul, na esperança de que novas pistas apareçam.

Afinal, a história da vida na Terra está escrita em suas camadas mais profundas. E só quem escava com paciência consegue lê-la por completo.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail flclucas@hotmail.com.

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