Viagem ferroviária entre montanhas e história, com locomotiva centenária, atravessa cenário da Revolução de 1932 e ganha novas datas, atraindo turistas em busca de cultura, natureza e memória nacional.
O Expresso da Mantiqueira, trem turístico operado pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), se consolida como uma das experiências mais marcantes do turismo ferroviário brasileiro, atraindo visitantes para um trajeto repleto de história, cultura e paisagens naturais.
Com novas datas programadas para agosto e setembro de 2025, o passeio desperta interesse não apenas pela beleza do percurso, mas pela conexão direta com episódios emblemáticos do Brasil, como a Revolução Constitucionalista de 1932 e a inauguração da linha ferroviária pelo imperador Dom Pedro II, ainda no século XIX.
Desde o início das operações, em 3 de julho deste ano, o Expresso da Mantiqueira registrou a presença de mais de mil passageiros, segundo informações da ABPF.
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O sucesso de público levou à ampliação das datas: além das viagens nos dias 16 e 17 de agosto, novas partidas foram confirmadas para 20 e 21 de setembro.
O roteiro, com 6,5 km de extensão, parte da cidade de Cruzeiro, no interior de São Paulo, e segue até a Estação Rufino de Almeida, localizada no Vale do Paraíba, próxima ao pé da Serra da Mantiqueira, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais.
Passeio de trem na Serra da Mantiqueira relembra episódios históricos
Durante o trajeto, os passageiros percorrem um trecho marcado por relevos montanhosos e cenários preservados da Mata Atlântica, cruzando pontos históricos e atravessando um túnel que foi cenário de batalhas durante a Revolução Constitucionalista de 1932.
O chamado “Túnel dos Heróis” foi palco de confrontos entre tropas paulistas e as forças do governo provisório de Getúlio Vargas, tornando-se um símbolo de resistência e memória nacional.
A locomotiva utilizada pela ABPF foi adquirida em 2017 e completamente restaurada nas oficinas da antiga estação de Cruzeiro, resgatando o patrimônio ferroviário da região.
O destaque do Expresso da Mantiqueira é o vagão tipo jardineira, fabricado entre as décadas de 1950 e 1960, com capacidade para 50 pessoas por viagem.
O passeio tem duração aproximada de 1h30, com bilhetes a R$ 50 e partidas regulares aos finais de semana.
História e memória no roteiro turístico do Expresso da Mantiqueira
O passeio de trem da Serra da Mantiqueira é considerado uma viagem no tempo, proporcionando aos visitantes uma imersão em episódios históricos e na natureza da região.
Durante o percurso, guias uniformizados apresentam relatos detalhados sobre a Revolução de 1932 e a importância estratégica do túnel para a logística militar daquele período.
Os turistas também podem caminhar pelo interior do túnel, onde placas e imagens prestam homenagem aos combatentes envolvidos nos confrontos.
De acordo com a ABPF, a proposta de manter vivas as memórias ferroviárias e históricas brasileiras se reflete não só no Expresso da Mantiqueira, mas em outras nove rotas turísticas mantidas pela entidade em diferentes estados.
Entre os destaques estão o Trem das Águas, que circula em São Lourenço (MG), o Trem da Serra Mantiqueira, em Passa Quatro (MG), e o Trem de Guararema (SP), além de roteiros em Campinas (SP), São Paulo (SP), Antonina (PR), Rio Negrinho (SC) e Apiúna (SC).
Dom Pedro II e o início do turismo ferroviário no Brasil
O trajeto original do Expresso da Mantiqueira foi inaugurado em 1884, tendo o imperador Dom Pedro II como um dos passageiros na viagem inaugural.
Décadas mais tarde, a mesma ferrovia serviria de palco para um dos conflitos mais emblemáticos do século XX no Brasil.
Segundo a Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, existe um projeto em andamento para reativar cerca de 12 km de trilhos atualmente desativados, conectando novamente a cidade de Passa Quatro (MG) a Cruzeiro (SP), o que ampliaria o circuito turístico e histórico da região.
Na cidade de Passa Quatro, o Trem da Serra da Mantiqueira opera regularmente em um trecho de 10 km, entre o centro da cidade e o histórico Túnel da Mantiqueira, na divisa com São Paulo.
Este túnel, além de seu valor arquitetônico, foi transformado em campo de batalha durante a Revolução Constitucionalista.
Relatos apontam que locomotivas chegaram a ser usadas como barricadas para impedir o avanço das tropas federais, consolidando a fama do local como um dos pontos mais simbólicos do conflito.
Turismo cultural, estrutura e economia em Passa Quatro
Além da experiência ferroviária, Passa Quatro oferece aos visitantes atividades culturais, como encenações históricas, exposições sobre a Revolução de 1932, feiras de produtos regionais e o Memorial da Revolução, que reúne documentos, uniformes e objetos do período.
O município também integra o circuito “Caminhos da Mantiqueira”, destacando-se por sua oferta de trilhas, mirantes naturais, cachoeiras e fazendas históricas abertas ao público.
A importância do Expresso da Mantiqueira para o turismo local vai além do resgate histórico, já que fomenta a economia regional e contribui para a valorização da cultura e das tradições mineiras e paulistas.
A união entre memória, natureza e lazer transforma o passeio em uma experiência autêntica, reunindo famílias, estudantes e apaixonados por história e ferrovias.
Para quem deseja embarcar no Expresso da Mantiqueira ou em outros roteiros turísticos da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária, a recomendação é garantir os ingressos com antecedência, especialmente nos finais de semana e durante eventos comemorativos, como as celebrações do 9 de julho, data que marca o início da Revolução Constitucionalista.
Preservação do patrimônio e novas possibilidades para o turismo ferroviário
A restauração de trilhos, locomotivas e estações, somada ao trabalho de voluntários e profissionais dedicados à preservação do patrimônio ferroviário, faz do Expresso da Mantiqueira uma referência nacional.
A cada viagem, o trem não só conecta destinos, mas também resgata capítulos fundamentais da história do Brasil, promovendo educação, turismo sustentável e integração cultural.
Diante da revitalização desse e de outros roteiros ferroviários, surge a questão sobre qual outro trecho histórico das ferrovias brasileiras poderá ser reativado nos próximos anos.