Entenda como cavernas congeladas resistem ao calor extremo em desertos áridos. Entenda por que essas cavernas de gelo não derretem e desafiam a ciência há décadas, revelando fenômenos naturais surpreendentes
Em pleno deserto, onde o calor é extremo e a umidade do ar é quase inexistente, cavernas subterrâneas abrigam formações de gelo que permanecem intactas durante o ano todo. Esse fenômeno surpreendente — e à primeira vista contraditório — tem sido objeto de fascínio e investigação científica há décadas. A existência de cavernas de gelo em desertos quentes desafia o senso comum e levanta questões sobre o equilíbrio térmico em ambientes extremos.
Em reportagens recentes, estudiosos explicam como essas estruturas naturais operam como verdadeiros sistemas de refrigeração passiva. O resultado é a permanência de gelo mesmo sob temperaturas externas que frequentemente ultrapassam os 40 °C. A resposta está na interação entre geologia, circulação de ar e arquitetura natural.
Como o gelo sobrevive em desertos?
Essas cavernas se formam geralmente em encostas ou formações rochosas profundas, com entradas estreitas e bem protegidas da luz solar direta. Esse posicionamento estratégico evita o aquecimento interno causado pela radiação solar, um dos principais vilões do derretimento do gelo.
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Além disso, o interior dessas cavernas apresenta características que favorecem o acúmulo e a manutenção do ar frio. Durante o inverno, correntes de ar gelado penetram nas fendas e se acumulam no fundo da caverna.
Como o ar frio é mais denso, ele permanece ali, enquanto o ar quente do verão — mais leve — tem dificuldade em entrar, criando um microclima isolado e estável.
A ventilação mínima e o isolamento natural impedem trocas térmicas rápidas com o ambiente externo. Assim, o gelo que se formou em estações frias pode resistir por meses ou até anos.
Cavernas de gelo no Irã: um exemplo real em meio ao deserto
No Irã, país conhecido por seus verões escaldantes e desertos extensos, há diversos relatos de cavernas com gelo permanente. Entre os exemplos mais notáveis está a caverna gelada de Chelgerd, localizada na província iraniana de Chaharmahal e Bakhtiari, onde o gelo persiste durante todo o ano, mesmo com temperaturas externas acima de 40 °C em certas épocas.
Segundo pesquisadores iranianos, a localização da caverna e sua estrutura geológica são determinantes para a permanência do gelo.
A entrada é voltada para o norte, o que reduz drasticamente a exposição ao sol, e o interior tem pouca ventilação, o que retém o ar frio acumulado no inverno. O gelo que se forma dentro da caverna atua ainda como um “amortecedor térmico”, resfriando o ar ao redor e impedindo que a temperatura interna suba significativamente.
O papel do gelo na regulação térmica interna
O próprio gelo presente na caverna atua como um regulador térmico. Quando o ar quente eventualmente entra, ele é resfriado ao entrar em contato com o gelo, antes de atingir outras partes da estrutura. Isso cria um ciclo de autorregulação: o gelo mantém o ar frio e, por sua vez, o ar frio impede que o gelo derreta rapidamente.
A caverna funciona, na prática, como uma geladeira natural, onde os processos de condução, convecção e radiação térmica são controlados por condições geológicas específicas. Isso mostra como a natureza pode, por si só, criar sistemas altamente eficientes e sustentáveis de regulação térmica — mesmo em desertos quentes.
Cientistas intrigados buscam entender e preservar esses ambientes
A permanência do gelo em regiões áridas é um tema que cientistas intrigados vêm estudando com atenção, especialmente em tempos de mudanças climáticas. Essas cavernas funcionam como indicadores naturais de equilíbrio térmico e registradores históricos das condições atmosféricas de outras épocas.
Pesquisas sugerem que o gelo encontrado em cavernas ao redor do mundopode conter partículas de poeira, gases e microorganismos preservados há séculos, servindo como uma espécie de “arquivo climático”.
Além disso, há interesse crescente em estudar essas formações como modelos de ambientes extraterrestres — como cavernas subterrâneas em Marte — onde o gelo poderia existir protegido da radiação solar. Essas cavernas também são relevantes para estudos sobre resiliência térmica e arquitetura passiva, podendo inspirar soluções para construções em climas extremos.
Curiosidades: cavernas similares em outras partes do mundo
Embora o fenômeno seja bastante divulgado no Irã e em desertos asiáticos, há registros de cavernas de gelo em outros lugares improváveis, como a Califórnia (EUA), regiões da Mongólia e partes da Europa Oriental. Nessas áreas, a combinação entre altitude, geologia vulcânica e baixa exposição solar favorece a permanência do gelo.
Na Caverna de Gelo de Lava Beds, por exemplo, a presença de rochas basálticas ajuda a manter a temperatura interna baixa, enquanto o relevo e a vegetação limitam a exposição direta ao sol. Isso mostra que, embora raras, essas formações podem ocorrer em diversos pontos do planeta, desde que as condições naturais estejam alinhadas.
Além da ciência: turismo e conservação
As cavernas com gelo permanente não são apenas objetos de pesquisa, mas também atrações turísticas. No entanto, o turismo desregulado pode prejudicar o microclima interno dessas formações, acelerando o derretimento do gelo e comprometendo seu equilíbrio térmico.
Muitos países estão implementando políticas de visitação controlada e monitoramento ambiental para preservar esses ambientes únicos. A proteção dessas estruturas é essencial não só para o avanço da ciência, mas para garantir que futuras gerações também possam testemunhar esse fenômeno natural tão raro.
Gelo onde menos se espera: o poder da natureza em surpreender
As cavernas de gelo que existem em desertos provam que a natureza é mais complexa e engenhosa do que muitas vezes imaginamos. Elas mostram que, mesmo em ambientes considerados extremos e inóspitos, podem surgir condições favoráveis à conservação do frio — algo que desafia a lógica e estimula a curiosidade científica.
Por meio de estratégias naturais de isolamento térmico, posição solar e retenção de ar frio, essas formações mantêm gelo onde, teoricamente, ele não deveria existir. Pesquisadores do mundo todo continuam explorando esses locais em busca de respostas que podem ter implicações muito além da geologia — chegando à climatologia, à arquitetura e até à exploração espacial.
O que parecia impossível, portanto, se revela não só possível, mas natural, demonstrando mais uma vez como o planeta guarda fenômenos que ainda estamos apenas começando a compreender.