Adultos com mentes aceleradas e sensíveis podem enfrentar isolamento, frustrações e diagnósticos errados. Especialistas explicam como reconhecer os sinais da superdotação e a importância do diagnóstico precoce para o equilíbrio emocional e social.
Adultos que passam a vida se sentindo “fora do lugar” podem, na verdade, ter algo em comum: uma mente muito mais rápida e sensível que a média.
A psicóloga e pesquisadora Dra. Olzeni Ribeiro explicou, em entrevista ao Lutz Podcast, que muitos superdotados chegam à fase adulta sem saber que possuem altas habilidades — e por isso enfrentam sofrimento psicológico, dificuldade de adaptação e até diagnósticos equivocados.
Segundo ela, “o que temos hoje são adultos que cresceram sem entender por que não se encaixavam. Muitos fazem terapia, usam medicação para ansiedade ou insônia, mas na verdade vivem o impacto de uma mente superestimulada.”
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Inteligência e sensibilidade: o desafio da mente superdotada
De acordo com a especialista, um dos maiores desafios da superdotação é o impacto emocional e sensorial que acompanha o alto desempenho intelectual.
Pessoas com alta capacidade cognitiva tendem a perceber o mundo de forma intensa e detalhada.
“É como se usassem óculos 3D o tempo todo”, comparou a psicóloga.
“Elas veem e sentem tudo nos mínimos detalhes, e isso pode ser exaustivo.”
Essa sensibilidade ampliada se manifesta de várias formas: dificuldade em ambientes ruidosos, irritação com cheiros fortes ou texturas específicas e sobrecarga emocional diante de conflitos.
Ribeiro relatou o caso de um jovem que terminou um relacionamento porque não suportava o cheiro natural da pele da parceira.
“Ele era apaixonado, mas a sensibilidade sensorial era tão grande que se tornou insuportável”, contou.
A importância do diagnóstico precoce
Conforme a psicóloga, identificar a superdotação desde cedo é essencial para evitar sofrimento futuro.
“O ideal é que o diagnóstico aconteça o quanto antes, a partir dos dois anos de idade. Quanto mais cedo a criança é compreendida, mais chances tem de desenvolver uma autorregulação emocional saudável.”
Com o amadurecimento, explica Ribeiro, o superdotado aprende a reconhecer seus próprios limites e a lidar melhor com os estímulos externos.
“A intensidade não diminui, mas o controle melhora. A criança ou o adolescente passa a se regular melhor diante dos impactos.”
Quando o reconhecimento não acontece, o resultado pode ser um adulto com autoestima fragilizada, sensação de inadequação e dificuldade de manter vínculos sociais ou afetivos.
Escola e superdotação: o primeiro ponto de conflito
A psicóloga destacou que a escola é, muitas vezes, o primeiro ambiente de frustração para a criança superdotada.
“A escola é a primeira sociedade que ela enfrenta. E é ali que vai se formar um adulto saudável ou um adulto quebrado, dependendo de como essa instituição acolhe a diferença.”
Ela contou que é comum que alunos com altas habilidades sejam reprimidos por participarem demais.
“O professor, sem entender o que está acontecendo, pede para a criança ficar quieta e deixar os colegas falarem. Aos poucos, ela passa a se sentir inadequada, como se atrapalhasse o grupo.”
Segundo Ribeiro, esse despreparo escolar é resultado da falta de formação específica dos profissionais da educação.
“Muitos confundem curiosidade e rapidez de aprendizado com indisciplina. O aluno superdotado aprende rápido, processa rápido e se entedia rápido. Quando o conteúdo não o desafia, ele se desliga.”
Imaginação ativa e mundos internos
Outro traço marcante apontado pela especialista é a intensidade da vida imaginativa.
Crianças e adultos superdotados costumam criar amigos imaginários ou até universos inteiros para processar suas emoções.
“Esses amigos não são sinais de delírio, e sim de elaboração interna”, explicou.
“O amigo imaginário é o espaço simbólico que a pessoa encontra para conversar consigo mesma.”
A psicóloga relatou o caso de uma criança que criou uma “banda imaginária” e só se acalmava quando os pais fingiam colocá-la no carro durante as viagens.
“Se os pais não entrassem na brincadeira, ele entrava em crise. A banda representava uma parte dele mesmo, e negar isso era como negar sua existência emocional”, descreveu.
Em outro caso, contou sobre um jovem que, já adulto, mantinha conversas com sua amiga imaginária nos intervalos da faculdade.
“Ele dizia que, depois disso, voltava para a sala mais tranquilo, como se tivesse tomado um calmante. Era a forma que ele encontrava para se reorganizar emocionalmente”, disse Ribeiro.
Compreensão e acolhimento: caminhos para o equilíbrio
Para a psicóloga, compreender a superdotação vai muito além de reconhecer uma inteligência acima da média.
“Estamos falando de pessoas com uma intensidade absurda. Tudo nelas é muito — muito sentimento, muita paixão, muita raiva, muita empatia. É um cérebro e um coração que funcionam em alta frequência.”
Dra. Olzeni Ribeiro ressaltou que o reconhecimento e o acolhimento fazem toda a diferença.
“Quando o ambiente entende e se ajusta, essa pessoa floresce. Mas quando é ignorada ou reprimida, se quebra por dentro.”
Ela reforçou que a superdotação não é privilégio, e sim uma condição que exige cuidado.
“Esses indivíduos precisam de suporte emocional, pedagógico e social. A inteligência, por si só, não protege ninguém do sofrimento.”
Por fim, a especialista lançou uma reflexão: quantos adultos hoje carregam rótulos de ansiedade, insônia ou inadequação sem saber que tudo isso pode ter origem em uma mente superdotada que nunca foi compreendida?



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