Embora a hipótese abiótica mostre que hidrocarbonetos podem se formar no manto terrestre, as evidências geoquímicas comprovam que as grandes jazidas de petróleo exploradas no mundo são fósseis — e não minerais.
O debate sobre a origem contestada do petróleo continua vivo mesmo após mais de um século de estudos científicos. A explicação dominante, aceita por cerca de 95% da comunidade científica, afirma que o petróleo é fruto da decomposição de algas, plâncton e restos microscópicos de plantas e animais soterrados por milhões de anos em rochas sedimentares, sob condições extremas de pressão e temperatura.
Essa é a base de trabalhos clássicos como Petroleum Formation and Occurrence (Tissot & Welte, 1984) e dos pareceres de órgãos como a AAPG e a USGS.
Por outro lado, a hipótese abiótica, defendida por nomes como Dmitri Mendeleev e retomada na União Soviética no século XX, propõe que o petróleo se formaria no manto terrestre, sem ligação com fósseis, a partir de reações químicas entre carbono e hidrogênio.
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Apesar de minoritária, essa ideia resiste e ainda provoca debates globais pela sua relevância científica, econômica e geopolítica.
O que sustenta a origem fóssil
A teoria fóssil é respaldada por evidências diretas e repetidamente confirmadas em análises de campo e laboratório.
Biomarcadores como esteranos e hopanos, derivados de membranas celulares, são encontrados em praticamente todas as amostras de petróleo estudadas.
Além disso, a associação do petróleo com rochas sedimentares — ambientes ricos em fósseis e matéria orgânica — reforça a explicação biológica.
Outro ponto-chave está nos isótopos de carbono, que carregam assinaturas compatíveis com processos vitais, o que descarta uma origem puramente mineral para as grandes jazidas.
O que diz a hipótese abiótica
Apesar do consenso em torno da origem fóssil, a teoria abiótica segue com defensores.
Mendeleev já sugeria no século XIX que reações químicas em grandes profundidades poderiam gerar hidrocarbonetos.
Décadas depois, Nikolai Kudryavtsev, nos anos 1950, reforçou essa visão na então União Soviética.
Seus argumentos incluem a existência de hidrocarbonetos em corpos celestes sem vida, como os lagos de metano em Titã (Saturno), e experimentos de laboratório, como o de Kenney et al. (PNAS, 2002), que reproduziram síntese de hidrocarbonetos sob pressões equivalentes às do manto terrestre.
Também é citada a perfuração de Siljan, na Suécia, nos anos 1980, onde surgiram pequenas quantidades de gás e óleo em rochas profundas.
Limitações e críticas à hipótese mineral
Os defensores da origem fóssil destacam que mais de 95% das reservas comerciais estão em bacias sedimentares.
O experimento de Siljan, apesar de notável, não resultou em produção viável.
Além disso, a presença de biomarcadores biológicos no petróleo permanece sem explicação dentro da hipótese abiótica.
Outro argumento é que hidrocarbonetos encontrados em outros planetas ou sintetizados em laboratório não comprovam a existência de jazidas exploráveis na Terra, apenas demonstram que moléculas orgânicas podem se formar em condições variadas.
O impacto geopolítico da polêmica
A confirmação da hipótese abiótica em escala comercial alteraria completamente o cenário global.
O petróleo deixaria de ser considerado um recurso finito, o que poderia reduzir a força da OPEP, modificar relações internacionais e até desacelerar investimentos em energias renováveis.
Entretanto, todas as grandes descobertas até hoje reforçam a origem fóssil.
O consenso é de que o petróleo é raro, limitado no tempo e no espaço, e por isso continuará sendo um recurso estratégico.
A polêmica persiste porque vai além da ciência: envolve trilhões de dólares, disputas geopolíticas e a transição energética.
E você, acredita que a hipótese abiótica pode um dia mudar o rumo da indústria do petróleo ou ela continuará sendo apenas uma curiosidade científica? Deixe sua opinião nos comentários — queremos ouvir quem acompanha esse debate de perto.