Pesquisadores registram pela primeira vez na costa mexicana a estratégia de orcas para capturar tubarões
Em uma descoberta inédita, pesquisadores do México e dos Estados Unidos documentaram orcas caçando tubarões-brancos juvenis no Golfo da Califórnia.
O estudo, publicado em 3 de novembro de 2025 na revista Frontiers in Marine Science, foi conduzido pelos biólogos Jesús Erick Higuera-Rivas, Francesca Pancaldi e Salvador Jorgensen.
A observação representa a primeira evidência desse comportamento predatório na costa mexicana.
Essa descoberta amplia o entendimento sobre a inteligência e a adaptabilidade das orcas (Orcinus orca).
Estratégia de caça coordenada e altamente eficaz
Durante as análises, os pesquisadores registraram orcas utilizando uma técnica complexa e colaborativa.
Elas viram o tubarão-branco (Carcharodon carcharias) de barriga para cima, induzindo um estado de imobilidade tônica.
Nesse estado, o animal fica paralisado e indefeso, permitindo que as orcas retirem o fígado e outros órgãos ricos em nutrientes.
Logo após, elas abandonam a carcaça.
Esse comportamento, segundo os cientistas, demonstra uma notável capacidade cognitiva e planejamento estratégico.
Além disso, o grupo observado — conhecido como “pod de Moctezuma” — atua em conjunto para reduzir riscos.
As orcas concentram os ataques em tubarões jovens, menos capazes de reagir.
Conforme os registros feitos por drones e câmeras subaquáticas, cada membro da equipe de orcas desempenha um papel essencial na captura.
Ataques sazonais e comportamento previsível
Os cientistas identificaram duas ocorrências confirmadas de caça: a primeira em agosto de 2020 e a segunda em agosto de 2022.
Essa repetição temporal indica um padrão sazonal.
O fenômeno pode estar relacionado à época de nascimento dos filhotes de tubarão-branco no golfo mexicano.
Apesar disso, os especialistas destacam que novas pesquisas são necessárias para determinar a frequência dos ataques.
Eles também pretendem compreender sua influência na dinâmica local das populações de tubarões.
Segundo Salvador Jorgensen, da Universidade Estadual da Califórnia, “os tubarões adultos reagem rapidamente às orcas, abandonando as áreas por meses”.
“Os juvenis, porém, parecem inexperientes diante desses predadores”, afirmou.
Essa observação sugere que as reações de fuga podem depender da aprendizagem social e não apenas de instintos naturais.
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Implicações ecológicas e novas perspectivas científicas
O comportamento documentado reforça a ideia de que as orcas estão entre os predadores mais inteligentes dos oceanos.
De acordo com Higuera-Rivas, a estratégia de virar tubarões evidencia a capacidade de aprendizado e transmissão cultural entre gerações.
Além disso, a descoberta redefine a hierarquia dos predadores marinhos.
Os tubarões-brancos sempre foram vistos como os “reis” dos mares, mas as orcas demonstram superioridade tática.
A pesquisadora Francesca Pancaldi, do Centro Interdisciplinar de Ciências Marinhas do México, afirmou que compreender essas interações é fundamental.
Ela destacou a importância de identificar habitats críticos e criar áreas de proteção ambiental.
Segundo Pancaldi, “comportamentos alimentares extraordinários, como este, ajudam a desenvolver planos de manejo para mitigar impactos humanos”.
Essas medidas também são essenciais para preservar o equilíbrio ecológico marinho.
Ameaças e mudanças ambientais
O estudo também sugere que fatores climáticos, como o aquecimento das águas, podem influenciar o deslocamento dos tubarões-brancos juvenis.
Fenômenos como o El Niño também podem tornar esses animais mais vulneráveis a predadores experientes.
Compreender as causas dessa nova dinâmica é essencial para avaliar o impacto das mudanças climáticas na vida marinha do Pacífico mexicano.
Diante desse cenário, os cientistas defendem monitoramento contínuo e internacional das populações de orcas e tubarões.
Eles buscam respostas para uma questão que desafia a biologia marinha moderna: como o equilíbrio entre dois dos maiores predadores do planeta pode ser alterado por mudanças ambientais tão rápidas?



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