Conhecida como “Iceberg de Aço”, a plataforma de gás colossal da Shell é a estrutura mais complexa já movida pelo homem, mas sua operação enfrenta riscos extremos.
Ela flutua como uma montanha de aço, custou 12 bilhões de dólares e opera em um dos mares mais hostis do planeta. Esta é a Prelude FLNG, a plataforma de gás colossal da Shell e a maior instalação flutuante já construída. Posicionada a 475 km da costa da Austrália, na Bacia de Browse, ela foi projetada para ser uma cidade autônoma de processamento de gás, eliminando a necessidade de gasodutos para o continente.
A Prelude é uma maravilha da engenharia, capaz de produzir milhões de toneladas de líquidos por ano e projetada para resistir aos ciclones mais severos. No entanto, a mesma complexidade que a torna revolucionária também a expõe a riscos internos graves. Um incidente em 2021 revelou como o design “tudo em um” pode falhar catastroficamente, colocando a tripulação em perigo extremo.
O titã de 600.000 toneladas
A analogia do “iceberg de aço” é fisicamente precisa. Com 488 metros de comprimento (mais longo que o Empire State Building) e 74 metros de largura, o casco da Prelude desloca 600.000 toneladas quando totalmente carregado. Segundo o portal Offshore Technology, mais de 260.000 toneladas de aço foram usadas em sua construção. A instalação não é apenas uma plataforma de extração; é uma refinaria flutuante completa.
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O objetivo desta plataforma de gás colossal é “destravar” campos de gás encalhados, muito remotos para justificar gasodutos submarinos. A Prelude extrai o gás, o processa e o resfria a -162°C para transformá-lo em Gás Natural Liquefeito (GNL). O Offshore Technology detalha sua capacidade de produção anual: 3,6 milhões de toneladas de GNL, 1,3 milhão de toneladas de condensado e 0,4 milhão de toneladas de GLP, tudo armazenado em tanques criogênicos a bordo antes de ser transferido para navios-tanque em alto-mar.
Engenharia contra o caos: projetada para ciclones
A Prelude opera no “beco dos ciclones” da Austrália Ocidental, uma região propensa a tempestades severas. Para sobreviver, seu projeto foi levado ao limite. A especificação central, conforme relatado pelo Offshore Technology, é que a instalação deve resistir a um ciclone de Categoria 5, o que inclui ondas de até 30 metros. Ela foi projetada para uma tempestade de 1 em 10.000 anos.
A plataforma não tem motores próprios. Ela é mantida no lugar por um sistema de amarração de 16 correntes gigantescas, ancoradas a 250 metros de profundidade. O componente chave é uma torre interna de 93 metros, que permite à estrutura de 600.000 toneladas girar 360 graus. Este sistema, chamado “weathervaning” (catação ao vento), faz com que a plataforma sempre aponte sua proa (a parte mais estreita) para o vento e as ondas, minimizando drasticamente o impacto da tempestade.
A mudança mais complexa da história
Construída na Coreia do Sul, mover a Prelude até a Austrália foi considerado o reboque mais complexo da história. A jornada de 5.800 quilômetros (3.600 milhas) foi documentada por fontes de logística como uma operação que durou mais de um mês. Uma frota especializada de rebocadores foi necessária para puxar a estrutura sem propulsão.
A viagem oceânica foi realizada a uma velocidade média de 5 nós, descrita como “o ritmo de uma caminhada rápida”. Segundo os relatórios da operação, uma tripulação de 160 pessoas estava a bordo do Prelude durante todo o reboque, gerenciando os sistemas. A manobra final de “hook-up” (conexão) das 16 linhas de amarração em alto-mar, lutando contra correntes, solidificou esse feito logístico.
O paradoxo da densidade de risco
A ideia de que a plataforma “opera sozinha” não significa automação. Na verdade, ela requer uma tripulação constante de 220 a 240 pessoas. O termo “sozinha” refere-se ao seu design “autocontido”. Em terra, uma usina de energia fica a quilômetros dos tanques de armazenamento. No Prelude, o processamento de hidrocarbonetos, a geração de energia e os alojamentos da tripulação estão a metros de distância.
Essa densidade de risco provou-se quase catastrófica. O Relatório Oficial da NOPSEMA (o regulador australiano) sobre o incidente de dezembro de 2021 é assustador. Um pequeno incêndio em uma sala de baterias (UPS) causou uma falha em cascata, levando a uma perda total de energia. Os geradores principais, de emergência e as baterias falharam, mergulhando a plataforma na escuridão.
O relatório da NOPSEMA detalha o custo humano. Sem energia, o sistema de ventilação (HVAC) falhou. As temperaturas dentro dos alojamentos da plataforma de aço selada subiram para 40-45°C, com umidade extrema. Sete tripulantes precisaram de tratamento para estresse térmico, com quatro necessitando de hidratação intravenosa. Para piorar, os sistemas de comunicação de emergência também falharam. A fortaleza projetada para resistir a ciclones foi quase derrotada por um pequeno incêndio interno.
Um paradoxo de aço
A Prelude FLNG é um paradoxo de aço. Ela é, sem dúvida, um monumento à engenharia humana, validando sua fama como o “iceberg de aço” de US$ 12 bilhões. Ela provou que pode resistir às forças mais hostis da natureza externa. No entanto, sua operação conturbada e o incidente de 2021 mostram uma vulnerabilidade crítica à sua própria complexidade interna. A maior plataforma de gás colossal do mundo é uma maravilha que redefiniu o que é possível, mas também um lembrete sóbrio de que em um ecossistema tão denso, uma única falha pode cascatear e colocar tudo em risco.
O que você acha desse nível de complexidade? Acredita que os benefícios de engenharia de projetos “tudo em um” como o Prelude superam os riscos extremos para a tripulação? Deixe sua opinião nos comentários.



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