Opep+ anuncia novo aumento na produção de petróleo para outubro, medida estratégica para ampliar espaço no mercado, com a Arábia Saudita no centro das negociações
Neste domingo, 07 de setembro de 2025, a Opep+ confirmou um novo aumento de 137 mil barris de petróleo por dia a partir de outubro, conforme decisão tomada em reunião online entre ministros de oito países-membros.
O objetivo central é ganhar mercado, com protagonismo da Arábia Saudita, que busca recuperar parte da participação perdida em meio às mudanças no cenário global de energia.
O que muda com a decisão da Opep+
O grupo aprovou formalmente a elevação da produção de petróleo, ainda que em ritmo mais moderado do que nos últimos meses. O aumento de 137 mil barris diários é significativamente menor do que os 555 mil bpd liberados em agosto e setembro, e também abaixo dos 411 mil bpd de junho e julho.
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A desaceleração no volume não reduz o peso estratégico da medida. Analistas apontam que, mais do que os números, a decisão envia uma mensagem clara: a Opep+ está disposta a priorizar mercado, mesmo diante da possibilidade de queda nos preços.
Histórico recente e cortes revertidos no setor de Petróleo
Nos últimos dois anos, a Opep+ havia adotado pacotes de cortes significativos, em resposta à pandemia e às incertezas econômicas globais. Em abril de 2024, o grupo já havia revertido o primeiro bloco de 2,5 milhões de barris por dia. Agora, antecipa a reversão do segundo pacote de 1,65 milhão de bpd, inicialmente programado para 2026.
No total, a organização já adicionou cerca de 2,5 a 2,6 milhões de barris por dia desde abril, o que representa aproximadamente 2,4% da demanda mundial anual. Essa guinada reflete a estratégia da Opep+ de voltar a ser um ator dominante na oferta global de petróleo.
Arábia Saudita e a busca por mercado
A Arábia Saudita lidera esse movimento dentro da Opep+. Segundo especialistas, o país tem pressionado pela recuperação de sua fatia no mercado internacional, especialmente em um momento em que sanções a Rússia e Irã influenciam a dinâmica de preços.
O preço do barril permanece próximo de US$ 65, sustentado não apenas pelas restrições impostas a outros produtores, mas também por estoques globais relativamente baixos. Esse cenário fornece base para que a organização avance sem temer um colapso imediato nos preços.
Estratégia da Opep+: produção de petróleo e flexibilidade
Além do aumento anunciado, o grupo reforçou que manterá flexibilidade em sua política de oferta. Ou seja, poderá acelerar, interromper ou até reverter os acréscimos em reuniões futuras, dependendo das condições de mercado.
A próxima reunião já está marcada para 5 de outubro de 2025, e a expectativa é que novas sinalizações sobre ritmo de crescimento ou estabilidade sejam apresentadas.
Essa abordagem flexível mostra que a Opep+ busca equilibrar dois objetivos: não deixar espaço excessivo para concorrentes, como Estados Unidos e produtores independentes, e ao mesmo tempo evitar uma queda drástica no preço do barril que comprometa receitas nacionais.
Impactos no mercado global de energia
O acréscimo de oferta vem em um momento em que os preços do petróleo recuaram cerca de 15% em 2025. Essa queda já afetou lucros de grandes petroleiras e levou a cortes de empregos em algumas companhias. Ainda assim, o valor médio do barril continua em patamar considerado saudável para a organização.
A estratégia da Opep+ pode representar desafios para concorrentes, que terão que lidar com um mercado mais abastecido e menos favorável à manutenção de preços elevados.
Por outro lado, consumidores e países importadores tendem a se beneficiar, já que preços mais estáveis significam custos de energia menores em médio prazo.
Papel geopolítico da Opep+ e da Arábia Saudita
A movimentação não pode ser entendida apenas sob o ponto de vista econômico. A Arábia Saudita, como principal liderança do bloco, reforça sua posição de ator geopolítico central. Ao lado da Rússia, mantém forte influência sobre decisões que afetam não apenas o setor energético, mas também a diplomacia internacional.
Essa estratégia garante poder de barganha em negociações políticas e econômicas com grandes consumidores, como Estados Unidos, China e União Europeia. Em tempos de tensões geopolíticas, petróleo segue sendo uma das principais moedas de influência global
Próximos passos e expectativas da Opep+
A reunião marcada para outubro será decisiva para avaliar se o ritmo de aumento continuará no mesmo nível ou se haverá ajustes. Caso a demanda global mostre sinais de enfraquecimento, o grupo pode optar por reduzir a velocidade das liberações.
Por outro lado, se os estoques seguirem baixos e os preços relativamente estáveis, a tendência é que a Opep+ mantenha a política de crescimento gradual, com foco em reconquistar espaço perdido nos últimos anos.
Transição energética em contraste com a decisão da Opep+
Enquanto a Opep+ amplia a produção de petróleo, governos e empresas em todo o mundo aceleram investimentos em energias renováveis, como solar e eólica. Essa contradição gera debates sobre os impactos ambientais da expansão da oferta de combustíveis fósseis em pleno cenário de crise climática.
Organizações internacionais alertam que a estratégia pode atrasar metas globais de descarbonização. Ainda assim, países produtores defendem que o petróleo continuará essencial nas próximas décadas, mesmo diante da transição energética. A tensão entre mercado e sustentabilidade se torna, portanto, um dos pontos centrais do futuro energético mundial.
Relevância do movimento para a economia mundial
O anúncio de setembro não é apenas mais um ajuste na oferta. Ele representa uma mudança de paradigma: em vez de priorizar preços altos, a Opep+ parece disposta a sacrificar margens para garantir participação no mercado.
Essa lógica reflete um novo ciclo para a indústria, em que a competição pela demanda residual de petróleo — em um mundo que caminha para fontes mais limpas — se tornará cada vez mais acirrada.
Para investidores, governos e consumidores, acompanhar de perto essas decisões é crucial. O preço da gasolina, o custo de transporte de mercadorias e até a inflação global podem ser influenciados por decisões como essa.