Durante um jantar em Londres, jornalistas provaram dois uísques que depois seriam vendidos por quase US$ 1 milhão cada, levantando a pergunta: o sabor realmente pode justificar um valor tão extraordinário?
“Quão bom pode ser um uísque de quase 1 milhão de dólares?” Não é uma pergunta comum, mas foi justamente essa a questão que surgiu após o leilão Distillers One of One, realizado em 10 de outubro, quando duas garrafas excepcionais foram arrematadas por 710 mil libras esterlinas — o equivalente a R$ 5 milhões, ou cerca de US$ 950 mil.
Algumas semanas antes, a Chivas Brothers havia convidado um grupo seleto de jornalistas para um jantar no elegante Claridge’s, em Londres, celebrando as doações destinadas ao evento beneficente.
Durante a noite, foi oferecida uma oportunidade quase inacreditável: provar o The Glenlivet SPIRA 60 Year Old e o The Aberlour 56 Year Old.
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Naquele momento, ninguém sabia o valor exato do que estava sendo servido. Só depois, ao descobrir que o líquido degustado custava quase US$ 1 milhão, veio a pergunta inevitável: afinal, o sabor justifica o preço?
Quando o valor ultrapassa o líquido
É preciso esclarecer: ninguém bebeu uma garrafa inteira. Foram cerca de 20 mililitros de cada uísque — algo entre US$ 13 mil e US$ 26 mil (R$ 70 mil a R$ 140 mil).
O suficiente para comprar um carro seminovo ou dar entrada em uma casa de valor médio no Reino Unido.
Mas o que significa, de fato, “valer” tanto? A resposta vai além da bebida. O valor de algo é subjetivo, construído por contexto, experiência e significado.
No universo dos destilados, o preço não reflete apenas os ingredientes, mas toda a história que envolve a garrafa.
O contexto cria o valor
O jantar no Claridge’s reuniu os próprios responsáveis pelos barris, que compartilharam décadas de memórias e detalhes sobre o processo de envelhecimento.
O ambiente sofisticado, a conversa envolvente e a excelência dos uísques criaram uma experiência única.
Assim como um relógio Patek Philippe não é comprado pela precisão — mas pela arte, herança e exclusividade —, um uísque de US$ 950 mil não é adquirido apenas pelo sabor.
Ele representa tempo, tradição e a escassez de algo que o dinheiro, sozinho, não pode reproduzir.
A lógica da raridade e da narrativa
Esse fenômeno não é exclusivo do mundo dos destilados. Em 2024, uma cópia da revista Action Comics nº 1, a primeira aparição do Superman, foi vendida por US$ 6 milhões (R$ 32,3 milhões).
Uma reimpressão idêntica custa apenas US$ 34 (R$ 183). A diferença está na procedência, na nostalgia e no simbolismo do original.
Na arte, o mesmo ocorre. Em 2012, o quadro Orange, Red, Yellow (1961), de Mark Rothko, foi vendido por US$ 86,8 milhões (R$ 467,8 milhões).
Poucos meses depois, outra obra do mesmo artista, No. 1 (Royal Red and Blue), alcançou “apenas” US$ 2,6 milhões (R$ 14 milhões).
Ambas utilizavam pigmentos e telas semelhantes. O que diferenciou seus preços foi o contexto — o momento do leilão, o interesse dos colecionadores e o prestígio em torno de cada peça.
Mais que um gole de uísque: um símbolo de tempo e história
Quem trabalha com arte ou objetos de valor simbólico entende que cada detalhe influencia a percepção. No caso dos uísques, o ambiente, o ritual e a história contada no jantar moldaram a experiência.
Mesmo sem saber o preço, era evidente que aquele momento tinha um peso histórico.
O sabor misturava-se à consciência de estar diante de algo irrepetível — um encontro entre o artesanato do tempo e a emoção humana diante do raro.
Antes mesmo do primeiro gole, o significado já estava construído. O líquido tornava-se apenas parte de uma narrativa maior sobre paciência, dedicação e herança cultural.
O preço de algo que não tem preço
O The Glenlivet SPIRA 60 Year Old e o The Aberlour 56 Year Old alcançaram os US$ 950 mil (R$ 5,1 milhões) de maneira legítima — o leilão definiu esse valor.
O primeiro é, sem dúvida, superior a versões mais acessíveis, como o Glenlivet 18 Year Old, vendido por cerca de US$ 150 (R$ 809). Ele é mais antigo, mais complexo e raro.
Mas a diferença entre um e outro não está apenas no paladar. O SPIRA 60 é uma peça única. Mesmo que alguém tenha os recursos, não poderá comprar outra igual. Isso, por si só, cria um valor impossível de reproduzir.
Durante o jantar, o mestre de barris Kevin Balmforth compartilhou detalhes sobre as décadas de maturação e o trabalho colaborativo com artistas de vidro que moldaram o decantador.
A bebida, portanto, era também uma obra artesanal, um tributo à paciência e à arte da destilação.
A resposta que o paladar não explica
Então, quão bom era um uísque de US$ 950 mil? Melhor do que o preço sugere — e, ao mesmo tempo, impossível de medir em cifras.
Grandes uísques não são apenas bebidas; são experiências sensoriais e simbólicas que condensam o tempo, a cultura e a emoção humana em poucos mililitros.
Por um breve momento, no Claridge’s, um grupo de pessoas compreendeu por que algumas garrafas deixam de ser produtos e se tornam lendas.
Com informações de Forbes.



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