Um megatúnel submarino de até 135 km e mais de US$ 60 bilhões pode ligar Coreia do Sul e Japão, superar o Eurotúnel e transformar a logística e a geopolítica na Ásia.
A possibilidade de construir o maior túnel submarino da história, mais de 135 km sob o oceano, ligando territórios marcados por rivalidade histórica voltou ao debate internacional como um dos projetos mais ousados já estudados na Ásia. Avaliado com estimativas superiores a US$ 60 bilhões, a proposta poderia integrar rotas ferroviárias estratégicas, reduzir drasticamente o tempo de deslocamento entre dois dos centros mais dinâmicos e militarmente relevantes do planeta, e, em um cenário ideal, ajudar a remodelar uma das fronteiras geopolíticas mais sensíveis do século XXI.
A ideia, discutida de forma intermitente por governos, acadêmicos e organismos de planejamento desde o início dos anos 2000, voltou ao radar com força nas últimas décadas devido à intensificação das disputas regionais, ao avanço das tecnologias de infraestrutura subaquática e às pressões econômicas pela integração de corredores comerciais cada vez mais rápidos entre as maiores economias do continente.
Num mundo em que a conectividade física vale tanto quanto as alianças diplomáticas, o túnel aparece, ao mesmo tempo, como símbolo de uma ambição futurista e como desafio colossal, capaz de unir em apenas poucas horas regiões que hoje dependem de longos trajetos aéreos — quando há voos — e cuja relação política foi marcada por conflitos, invasões, rupturas diplomáticas e décadas de tensões militares.
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Uma obra que superaria todos os recordes do mundo
Para se ter uma dimensão do desafio, o Eurotúnel que liga Reino Unido e França possui 50,45 km e custou cerca de US$ 21 bilhões em valores atualizados. O túnel que hoje detém o recorde de mais longo do planeta é o Seikan, no Japão, com 53,85 km, construído ao longo de 24 anos e concluído em 1988.
O megaprojeto asiático estudado agora dobraria essa marca com folga, chegando a até 135 km submersos, com seções projetadas para ambientes geológicos extremamente instáveis, zonas sísmicas e águas profundas.
A tecnologia envolvida exigiria o uso de tuneladoras de nova geração, sistemas de ventilação e evacuação inéditos para longos trechos submarinos, além de infraestrutura multimodal integrada para transporte de carga, passageiros e, em cenários estratégicos, mobilização logística.
Estudos preliminares também sugerem a combinação de trechos submarinos com ilhas artificiais técnicas para manutenção e ventilação, conceito similar ao adotado no megaprojeto Hong Kong–Zhuhai–Macau, a maior ponte-túnel do mundo, inaugurada em 2018.
O peso geopolítico: integração econômica ou risco de pressão estratégica?
A escolha das duas regiões envolvidas nunca é citada diretamente nos títulos para preservar o suspense editorial, mas no conteúdo precisamos esclarecer: trata-se de estudos envolvendo Coreia do Sul e Japão, países separados por cerca de 200 km de mar, aliados históricos dos EUA e com relações por vezes tensas devido a disputas territoriais, memórias da ocupação japonesa na península coreana e equilíbrios estratégicos diante da ascensão militar chinesa e do imprevisível regime norte-coreano.
A proposta de conexão ferroviária entre Busan (Coreia do Sul) e Fukuoka (Japão), com modelos variando entre 110 km e 135 km de túnel submerso, surgiu como alternativa para criar um corredor logístico integrando a península coreana ao Japão e à futura malha de alta velocidade da Eurásia.
Caso um dia avance, seria um feito também militar e estratégico: reduziria a dependência aérea, fortaleceria cadeias industriais avançadas, especialmente semicondutores, automóveis, defesa e energia e colocaria Japão e Coreia em posição ainda mais central na matriz de segurança do Indo-Pacífico.
Custos colossais, riscos gigantescos, benefícios incomparáveis
Os defensores afirmam que o túnel criaria um novo eixo econômico global, acelerando o fluxo de pessoas, bens e tecnologia entre dois polos industriais que juntos respondem por quase US$ 7 trilhões em PIB.
Os críticos, porém, questionam:
• instabilidade geopolítica regional
• riscos sísmicos e vulcânicos
• dependência tecnológica e militar de corredores físicos
• viabilidade financeira de longo prazo
• dificuldades diplomáticas históricas
Para diplomatas e analistas, o túnel seria, ao mesmo tempo, um símbolo de paz duradoura e um potencial alvo estratégico em períodos de tensão.
Para além da engenharia: o futuro e a narrativa geopolítica da Ásia
Ainda não há cronograma definitivo, nem decisão formal de início e essa talvez seja a maior prova do seu desafio. Mas o simples fato de um projeto como esse permanecer vivo em comitês, universidades, câmaras industriais e planos estratégicos já demonstra algo importante: a Ásia está prestes a viver uma revolução de infraestrutura que poderá ofuscar tudo o que o século XX produziu.
E se um dia esse túnel sair do papel, ele não será apenas uma obra será um marco civilizacional, tão simbólico quanto a ferrovia transiberiana, o Eurotúnel ou o Canal de Suez. Um gesto de ousadia técnica e política capaz de reescrever mapas, rotas, alianças e o próprio equilíbrio global.



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