O Telescópio Webb da NASA encontrou dióxido de carbono na superfície de Caronte, a maior lua de Plutão, trazendo novas pistas sobre a composição dos corpos celestes no nosso sistema solar e sua potencial habitabilidade.
Nos confins do nosso Sistema Solar, a impressionante distância de 5,7 bilhões de quilômetros do Sol, encontra-se o planeta anão Plutão, um mundo gelado de montanhas, geleiras e crateras, onde a temperatura média atinge –232°C. Essa distância não é nada para o poderoso Telescópio James Webb da NASA.
Apesar de seu tamanho reduzido, menor até que a Austrália, Plutão continua a fascinar os cientistas e astrônomos por suas características únicas.
Junto a ele, orbitam cinco luas: Styx, Nix, Kerberos, Hydra e a maior delas, Caronte. É especialmente a relação singular entre Plutão e Caronte que tem intrigado a comunidade científica.
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Um sistema binário fascinante
Diferentemente da maioria dos sistemas planetários, onde as luas orbitam seus planetas de maneira mais convencional, Plutão e Caronte formam o que é conhecido como um “sistema binário“.
Isso significa que ambos os corpos orbitam um ponto comum no espaço, situado entre eles, ao invés de Caronte simplesmente orbitar Plutão como acontece com a Lua em relação à Terra.
Esse comportamento é uma das razões pelas quais Plutão perdeu o status de planeta, sendo reclassificado como planeta anão, já que a órbita com Caronte impede que ele cumpra o critério de “limpeza de órbita” exigido para ser considerado um planeta completo.
Caronte foi descoberto em 1978 e, desde então, tem sido objeto de intensa investigação. Com cerca de 1.200 quilômetros de largura, é aproximadamente metade do tamanho de Plutão, o que o torna o maior satélite conhecido em proporção ao seu corpo principal no Sistema Solar.
Essa relação quase igualitária torna o sistema Plutão-Caronte um caso único, diferente da maioria dos outros satélites naturais, como nossa própria Lua.
Composição de caronte
Em 2015, a missão New Horizons da NASA fez história ao ser a primeira sonda espacial a explorar Plutão e suas luas de perto, revelando detalhes fascinantes sobre a composição de Caronte.
Trata-se de uma lua fria, rica em gelo de água, mas também composta por amônia e uma variedade de compostos baseados em carbono.
Além disso, acredita-se que Caronte possua criovulcões – formações geológicas que, em vez de expelirem magma como na Terra, liberam gelo e outros materiais congelados.
Essas características incomuns destacam Caronte entre outros objetos transnetunianos, que geralmente são dominados por gelo de nitrogênio e metano.
Recentemente, uma nova pesquisa liderada pela astrônoma Silvia Protopapa e publicada na revista Nature Communications, anunciou a descoberta de dióxido de carbono e peróxido de hidrogênio na superfície de Caronte.
Esta descoberta, obtida através de observações do Telescópio Espacial James Webb da NASA, oferece novos insights sobre a história e a evolução de Caronte e outros objetos localizados além de Netuno.
A importância do dióxido de carbono e do peróxido de hidrogênio
A presença de dióxido de carbono em Caronte é particularmente significativa, pois pode fornecer informações valiosas sobre a origem e os processos geológicos que moldaram essa lua.
Acredita-se que o dióxido de carbono encontrado na superfície de Caronte venha de camadas subterrâneas expostas por impactos de asteroides e outros objetos, que criam crateras e revelam material fresco abaixo da superfície congelada.
O peróxido de hidrogênio, outra molécula recentemente detectada, é menos comum, mas igualmente interessante. Sua presença pode indicar que há processos de oxidação ocorrendo em Caronte, o que poderia impactar nossa compreensão sobre a química complexa que ocorre nas superfícies geladas desses corpos distantes.
O estudo de moléculas como o dióxido de carbono e o peróxido de hidrogênio pode revelar muito sobre a interação de diferentes compostos em objetos transnetunianos, oferecendo pistas sobre a formação e evolução de Caronte e outros corpos similares.
O poder do Telescópio James Webb
A descoberta dessas moléculas foi possível graças às observações detalhadas feitas pelo Telescópio Espacial James Webb, que foi lançado em 2021.
Com um espelho de seis metros e meio de largura, este telescópio é extremamente poderoso e sensível, permitindo que os cientistas observem o espaço em comprimentos de onda infravermelhos, que são invisíveis a olhos humanos e à maioria dos telescópios terrestres.
O James Webb utiliza uma técnica chamada espectroscopia para detectar compostos em corpos celestes. Essa técnica divide a luz em suas cores componentes, assim como a luz branca se divide em um arco-íris. Cada elemento ou molécula possui uma “impressão digital” única no espectro de luz, permitindo que os cientistas identifiquem quais moléculas estão presentes em um determinado objeto.
Pistas para um antigo mistério
A origem de Caronte continua sendo um mistério intrigante. Uma das principais teorias sugere que Caronte se formou de maneira semelhante à nossa Lua, após uma grande colisão de um objeto no Cinturão de Kuiper com Plutão há cerca de 4,5 bilhões de anos.
Outra teoria é que Plutão e Caronte eram dois objetos distintos que se encontraram e acabaram presos gravitacionalmente, formando o sistema binário que vemos hoje.
A descoberta de novas moléculas como o dióxido de carbono e o peróxido de hidrogênio na superfície de Caronte pode ajudar a refinar essas teorias, fornecendo pistas adicionais sobre a formação desse sistema.
Entender a composição de Caronte e os processos geológicos e químicos que ocorrem em sua superfície pode nos aproximar de desvendar o enigma de sua origem.
Mais do que isso, essas descobertas oferecem um vislumbre de como funcionam outros objetos no Cinturão de Kuiper, uma região pouco explorada do nosso Sistema Solar.
À medida que novas pesquisas são realizadas e o Telescópio Espacial James Webb da NASA continua a nos fornecer informações detalhadas, nossa compreensão sobre o distante sistema Plutão-Caronte certamente se aprofundará, revelando os segredos que este canto gelado do cosmos ainda guarda.