No RS, um sistema de confinamento de precisão mostra como a carne mais nobre do mundo nasce da combinação entre genética (Wagyu e Angus), manejo de bem-estar, ultrassom de carcaça e milho floculado que eleva a conversão alimentar
A busca pela carne mais nobre do mundo ganhou um laboratório a céu aberto no interior do Rio Grande do Sul. Em Frederico Westphalen, uma operação de confinamento de referência — apresentada por Richard Rasmussen — explica, passo a passo, como marmoreio consistente e sabor superior não são obra do acaso: Wagyu e Angus entram no sistema com idade e peso controlados, passam por dieta de alta precisão e saem com padrão de carcaça que atende aos cortes mais exigentes.
Segundo Richard Rasmussen, o processo integra genética, nutrição, bem-estar animal e tecnologia: água aquecida, ambiente térmico estável, monitoramento por ultrassonografia de carcaça e uma fábrica de ração que produz milho floculado — técnica que melhora a digestibilidade e, por consequência, o desempenho no cocho. Quando cada detalhe trabalha a favor, o marmoreio aparece.
Wagyu e Angus: por que esses dois definem o topo
O Wagyu é a referência mundial em marmoreio: a gordura intramuscular aparece finamente entremeada na carne, garantindo suculência e sabor. Não é um gado “bonito” de aparência — é um gado pensado para entregar textura e maciez, enfatiza Richard Rasmussen. O Angus, por sua vez, agrega crescimento, rendimento e padronização de cortes, compondo uma dupla que atende nichos premium e prateleiras de alta rotatividade.
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No confinamento visitado por Richard, o Angus entra por volta dos 12 meses e o Wagyu aos 18 meses. Ambos chegam perto dos 300 kg e passam por terminação controlada. Objetivo declarado: elevar o marmoreio sem sacrificar ganho de peso e rendimento de carcaça — um equilíbrio que exige precisão de dieta e ambiente.
Confinamento de precisão: ambiente, água e manejo que viram resultados
Bem-estar não é discurso, é produtividade. O galpão foi desenhado para ventilar os gases, aproveitar luz natural e proteger do frio no inverno gaúcho, mantendo conforto térmico que reduz estresse. Menos estresse, mais ganho de peso e melhor qualidade de carne.
Um detalhe decisivo é a água aquecida. Como explica Richard Rasmussen, bovinos preferem água morna (cerca de 36 °C); isso preserva a microbiota ruminal, melhora a digestão e evita quedas de desempenho típicas do consumo de água fria. Parece pequeno, mas pesa na balança.
Da adaptação à dieta total: como a carne premium é “construída”
A entrada no cocho ocorre em duas fases. Primeiro, adaptação com volumoso (silagem/feno) e concentrado. Depois, a passagem à dieta total baseada em grãos, na qual entra o protagonista nutricional: milho floculado.
Segundo o time técnico mostrado por Richard, o milho floculado pode render até 20% mais aproveitamento do que o milho moído fino. Tradução prática: mesma energia, mais carne. Em quatro meses, Angus evolui de ~300 kg para ~500 kg; o Wagyu permanece mais tempo em terminação para maturar o marmoreio. Cada dia de cocho é planejado, com dosagens automáticas e ração sempre disponível.
Ultrassom de carcaça e rastreabilidade: medir antes de abater
Qualidade não se adivinha, mede-se. A equipe realiza ultrassonografia de carcaça em dois momentos: no meio da terminação e na saída para o frigorífico. O exame estima o percentual de marmoreio e o rendimento de cortes, permitindo selecionar lotes, ajustar dieta e garantir padrão ao comprador.
Tudo é rastreado animal a animal: medicações, vacinas, ganho de peso e imagens de ultrassom acompanham o lote até o abate. Para cortes premium, previsibilidade é valor. É assim que se assegura que a carne mais nobre do mundo chegue igual ao que o cliente espera — toda vez.
Biodigestor e ciclo fechado: energia, adubo e custo sob controle
O confinamento opera um biodigestor que transforma dejetos em biogás para geração de energia elétrica e em fertilizante para a lavoura. Richard Rasmussen destaca o ciclo fechado: o milho vira ração, o esterco vira energia e adubo, e a lavoura volta a alimentar o confinamento.
Esse arranjo reduz custo energético, estabiliza a operação e diminui pegada ambiental. Quando a energia do cocho vem do próprio gado, a conta fecha melhor — e abre espaço para investir mais naquilo que diferencia carne premium: nutrição e manejo.
Milho floculado: a “engrenagem invisível” do sabor
O floculador aplica calor e pressão para gelatinizar o amido, tornando-o mais acessível às enzimas e microrganismos do rúmen. Resultado: absorção superior, menor risco de distúrbios digestivos e conversão alimentar mais alta. Na prática, o marmoreio “nasce” no cocho — energia disponível no momento certo vira gordura intramuscular, não apenas gordura de cobertura.
A fábrica também flocula soja e trigo, ajustando densidade energética e fibra efetiva conforme o ponto de terminação. Dieta desenhada para o corte que o mercado pede é o que permite cobrar — e entregar — carne mais nobre do mundo.
Premium é processo, não etiqueta: seleção, janela e destino de corte
Nem todo Wagyu ou Angus vira corte super premium. É o processo que eleva o lote: entrada com idade adequada, ganho diário consistente, conforto ambiental, água aquecida, dieta com milho floculado e checagem por ultrassom. Quando essas engrenagens se alinham, o marmoreio aparece onde interessa — no contra-filé, no ribeye, no T-bone.
Richard Rasmussen lembra: o mercado paga prêmio por consistência, e essa consistência começa na porteira. Para o varejo gourmet, o que conta é história verificável: origem, dieta, bem-estar e padrão de carcaça. Sem isso, o preço “premium” vira apenas um rótulo caro.
A carne mais nobre do mundo é resultado de muitos pequenos acertos somados todos os dias. No RS, Wagyu e Angus mostram que genética certa, confinamento de precisão, água aquecida, ultrassom de carcaça e milho floculado turbinam o marmoreio e o sabor — exatamente como apresentou Richard Rasmussen. Quando o sistema é fechado e a nutrição é inteligente, o sabor aparece no prato.
Você já provou cortes de Wagyu ou Angus com alto marmoreio? Na sua opinião, o que mais pesa no resultado: genética, dieta com milho floculado ou manejo de bem-estar (como água aquecida)? Se você está na produção, quais desses passos já adotou — e qual foi o impacto no rendimento e no padrão de carcaça?