A teoria de que as cores na base do tubo revelam se a fórmula é “natural” ou “química” é falsa; a explicação real é um detalhe do processo de fabricação que existe desde os anos 90.
Um mito antigo, mas persistente, voltou a circular com força nas redes sociais, gerando curiosidade e preocupação nos consumidores. Trata-se da teoria de que os pequenos quadrados coloridos na base de toda embalagem de pasta de dente funcionam como um código secreto, revelando se seus ingredientes são “naturais” ou “químicos”.
Apesar de ter sido desmentida inúmeras vezes por fabricantes e especialistas, a alegação ganhou nova vida em janeiro de 2024, após um clipe sobre o tema viralizar em um podcast no TikTok. A verdade, no entanto, é muito mais simples e não tem nenhuma relação com a fórmula do produto, mas sim com o processo de fabricação dos tubos.
O que diz o mito que ressurgiu no TikTok em janeiro de 2024?
A teoria falsa, que circula há anos na internet, atribui um significado específico para cada cor de quadrado encontrada no fundo do tubo de pasta de dente. A “chave” do suposto código seria a seguinte:
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Verde: Indicaria uma composição “totalmente natural”.
Azul: Uma mistura de ingredientes “naturais e medicinais”.
Vermelho: Uma combinação de “ingredientes naturais e químicos”.
Preto: Significaria uma fórmula com “apenas ingredientes químicos”.
Essa narrativa enganosa aconselha os consumidores a evitarem as embalagens com marcas vermelhas ou pretas, explorando o medo que muitas pessoas têm de produtos “químicos”.
A verdade técnica: a função das “marcas de olho” no processo industrial desde os anos 90
Na realidade, os quadrados coloridos não têm nada a ver com os ingredientes da sua pasta de dente. Eles são conhecidos tecnicamente como “marcas de olho” (“eye marks”) ou marcas de registro e servem a um propósito puramente industrial.
Essas marcas são lidas por sensores de feixe de luz nas máquinas de embalagem de alta velocidade. Os sensores usam a marca como um guia para saber exatamente onde o tubo deve ser cortado, dobrado e selado. Isso garante que a impressão da embalagem fique centralizada e o processo de envase seja preciso e eficiente.
A cor da marca (que pode ser verde, azul, preta, rosa ou qualquer outra) é escolhida apenas pelo contraste que ela oferece com a cor de fundo do tubo, para facilitar a leitura pelo sensor. Essa tecnologia é usada na indústria de embalagens desde a década de 1990.
A falácia do “natural vs. químico”: por que essa separação não faz sentido
O mito se apoia em uma ideia cientificamente incorreta: a de que “natural” é sempre bom e “químico” é sempre ruim. Na verdade, tudo o que existe é composto por substâncias químicas, desde a água (H₂O) que bebemos até os alimentos que comemos.
A origem de um ingrediente não determina sua segurança. Existem substâncias naturais que podem ser tóxicas, assim como existem substâncias sintéticas, criadas em laboratório, que são seguras e extremamente eficazes.
A classificação usada no mito é vaga e não oferece nenhuma informação útil sobre a qualidade da pasta de dente.
Como saber o que realmente tem na sua pasta de dente: lendo a lista de ingredientes
A única forma segura e confiável de saber o que há dentro do tubo é ler a lista de ingredientes impressa na embalagem. Por lei, todos os fabricantes são obrigados a listar os componentes de seus produtos. Nenhuma empresa usa códigos de cores para esconder informações.
A maioria das pastas de dente contém uma mistura de:
Abrasivos suaves (como sílica) para limpeza.
Umectantes (como glicerol) para evitar o ressecamento.
Aglutinantes para dar consistência.
Aromatizantes para dar sabor.
Flúor (como fluoreto de sódio), o ingrediente mais importante para a prevenção de cáries.
O que dizem os fabricantes e especialistas: a Colgate e as associações de dentistas desmentem o boato
Diante da insistência do mito, as principais autoridades no assunto são unânimes. A Colgate, uma das maiores fabricantes do mundo, afirma em seu site oficial (em uma publicação atualizada em 26 de janeiro de 2023) que a teoria é um “embuste” e que as marcas servem apenas para o processo de fabricação.
Associações de dentistas, como a American Dental Association (ADA), também reforçam que o boato é falso.
A recomendação dessas entidades é sempre escolher uma pasta de dente que contenha flúor e, em caso de dúvida, consultar um dentista, que é o profissional mais indicado para recomendar o produto ideal para as suas necessidades.