Com um custo superior a £22 bilhões, o projeto faraônico Xlinks visa conectar o deserto marroquino à rede britânica. Conheça a tecnologia, os desafios e o status atual desta ambiciosa iniciativa.
O Projeto de Energia Xlinks Marrocos-Reino Unido é uma iniciativa de escala monumental. Frequentemente descrito como um projeto faraônico, visa transmitir 3,6 GW de eletricidade renovável de Marrocos para o Reino Unido. A energia viajará através de cabos submarinos de 3.800 a 4.000 km.
Este artigo analisa em detalhes o projeto Xlinks. Abordaremos sua arquitetura técnica, estrutura financeira, status atual em 2025 e as implicações socioeconômicas. O projeto tem potencial transformador, mas enfrenta desafios consideráveis.
O que é o Xlinks? A visão de um projeto faraônico de energia transcontinental
A Xlinks Limited foi fundada em 2019 por Simon Morrish. Sua missão é conectar áreas com abundantes recursos renováveis a centros de alta demanda. O Projeto de Energia Marrocos-Reino Unido é a principal materialização dessa visão.
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A ambição é gerar entre 10,5 GW e 11,5 GW de energia solar e eólica em Marrocos. Isso será acoplado a uma instalação de armazenamento de baterias de grande porte, com capacidade entre 20 GWh e 22,5 GWh. Desta capacidade, 3,6 GW de energia firme serão transmitidos ao Reino Unido por quatro cabos submarinos HVDC. A área necessária em Marrocos é de aproximadamente 1.500 km², maior que a cidade de Londres.
Os objetivos estratégicos são claros. Para o Reino Unido, busca-se aumentar a segurança energética e avançar na descarbonização. O projeto pode fornecer energia para mais de 7 milhões de residências, o que equivale a 8% das necessidades de eletricidade do país. Para Marrocos, o Xlinks representa uma oportunidade de atrair investimento, criar mais de 10.000 empregos e se tornar um polo global de energia verde.
A arquitetura técnica do projeto Xlinks: do sol do Saara à rede britânica
O coração da geração de energia do Xlinks estará na região de Guelmim-Oued Noun, em Marrocos. A Xlinks assegurou um contrato de arrendamento de 50 anos para uma área de 1.500 km². A tecnologia incluirá painéis solares fotovoltaicos (PV) de grande escala e turbinas eólicas. Os painéis terão sistemas de rastreamento solar, e a geração eólica se beneficiará dos ventos consistentes da região.
Um componente crucial é o sistema de armazenamento em baterias (BESS) de 20-22,5 GWh. Este sistema é fundamental para fornecer energia firme por 19 a mais de 20 horas diárias. A transmissão para o Reino Unido será feita por quatro cabos submarinos HVDC, com cerca de 3.800 a 4.000 km cada. Estes serão os interconectores de energia submarinos mais longos do mundo.
No Reino Unido, os cabos chegarão em North Devon. De lá, cabos subterrâneos de 14 km levarão a energia a duas estações conversoras. Essas estações converterão a energia de HVDC para HVAC (corrente alternada), para integração à rede nacional.
Os desafios financeiros de um projeto faraônico: custos, investidores e o contrato decisivo
O custo do projeto Xlinks tem aumentado. Estimativas iniciais de £18 bilhões foram revisadas para uma faixa de £22-£24 bilhões (US$ 27-30 bilhões) em 2024. Este aumento é atribuído a pressões na cadeia de suprimentos e ao aumento das taxas de juros.
A estrutura de investimento planejada é de 30% de capital próprio e 70% de dívida. A Xlinks já levantou mais de £50 milhões para as fases de desenvolvimento. Os principais investidores de capital próprio incluem o fundador Simon Morrish, a Octopus Energy (Reino Unido), a TAQA (Abu Dhabi), a TotalEnergies (França), a GE Vernova (EUA) e a Africa Finance Corporation (AFC).
A viabilidade econômica do projeto depende de um Contrato por Diferença (CfD) com o governo do Reino Unido. O CfD garante um preço fixo pela eletricidade, protegendo os investidores da volatilidade do mercado. A negociação deste contrato está em andamento e é crucial para o futuro do projeto.
Status atual (2025) e o futuro do Xlinks: entre a ambição e a realidade
Em meados de 2025, o projeto Xlinks está em uma fase avançada de desenvolvimento, mas em um momento crítico. A pausa no processo de licenciamento no Reino Unido aguarda a decisão sobre o CfD. A empresa nega rumores de que estaria buscando alternativas, como uma ligação com a Alemanha, e reafirma seu compromisso com o projeto no Reino Unido.
O cronograma revisado aponta para uma entrada em operação até 2031. A Decisão Final de Investimento (FID) é almejada para 2025, com a construção começando antes do final de 2026. A fábrica de cabos da subsidiária XLCC, na Escócia, tem produção prevista para 2026.
O Xlinks é um estudo de caso para mega projetos de energia verde. Seu sucesso ou fracasso oferecerá lições cruciais sobre tecnologia, financiamento e cooperação internacional. Se os desafios forem superados, o projeto tem o potencial de ser revolucionário, estabelecendo um novo paradigma para a segurança energética e a cooperação internacional. Contudo, seu caminho futuro permanece precário.